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he muito abastada de termos, e mui rica de expressões, encerrando em si. hum bom thesouro do Vocabulario da Lingua Portugueza; quanto porém á Grammatica, algumas frases e maneiras ha, que não tem todas o sabor da nossa Lingua; parte por que Almeida se cingio muito estreitamente á trasladação litteral do texto grego, e á traducção hollandeza, parte por se haver acostumado á lingoa estranha do paiz, em que vivia. »

Entre nós não ha outra traducção dos Livros Sagrados, feita do texto grego, e neste sentido julga Antonio Ribeiro dos Santos que a de Almeida he interessante, «ou para se ver por ella o em que concordão, e o em que differem os dous textos authenticos, ou para se entenderem mais claramente os logares escuros da Vulgata, ou para se apanhar melhor o genuino sentido do texto original, aonde elle se não acha expressado na Traducção Latina com toda a sua força e propriedade. »

Mas Almeida era Calvinista!... A este reparo responde Antonio Ribeiro dos Santos: « A differença da Religião para que Almeida apostatou, não deve servir de obstaculo; cumpre distinguir o homem, e os seus erros, e separar o bem que fez, do mal que obrou. Deste temos a sua apostasia, que o fez criminoso; amemos porém as suas obras no que ellas são uteis, e dignas de estimação, etc. »

O author não mencionou as Traducções feitas em seu tempo, e apenas em uma nota allude á celebre Traducção do Padre Antonio Pereira de Figueiredo, dizendo do illustre Theologo « que serão sempre diminutos os elogios, que se derem a seus escritos. >>

-MEMORIA DA VIDA, E ESCRIPTOS DE D. FRANCISCO DE MELLO-por Antonio Ribeiro dos Santos.

D. Francisco de Mello nasceu em Lisboa em 1490, e falleceu a 27 de Abril de 1536. Foi a elle que se referiu Gil Vicente, alludindo aos conhecimentos cosmographicos e astronomicos, em que o illustre fidalgo adquirio nomeada, no famoso motête:

Esse Francisco de Mello,
Que sabe sciencia avondo,
Diz que o Céo he redondo;
E o sol sobre amarello;
Diz verdade, não lho escondo,
Que se o Céo fôra quadrado,
O Sol não fôra redondo.

A Memoria citada traz no fim uma relação de todos os nossos Escriptores, que fazem honrada memoria de D. Francisco de Mello; bem como apresenta a lista dos authores estranhos, que do mesmo D. Francisco fallão em suas obras.

MEMORIA DA VIDA E ESCRIPTOS DE PEDRO NUNES- por Antonio Ribeiro dos Santos.

Conclue assim a Memoria: «Tal foi Pedro Nunes, e taes as suas Obras, com que muito se ennobreceu a si, e a Portugal, homem de genio creador, nascido para as sciencias exactas, e sublimes; illustre Mathematico, em um tempo (seculo xvi) em que as Mathematicas principiavão a sahir das trevas, em que jazêrão tantos seculos; grande Cosmógrafo, em uma idade em que a navegação quasi guiada mais por praxes, e rumos, que por principios, começava vagarosamente a sujeitar-se ao imperio das Mathematicas, e á theorica das regras; e tão dado aos estudos da verdadeira Astronomia, como mostrou em muitas partes de suas obras, quão alheio daquella vãa Judiciaria, que ainda muito se inculcava no seu tempo: e o que sobre tudo o recommenda, homem que sendo tão profundo, era maior ainda por sua modestia, que por seu talento.»>

No fim da Memoria vem uma relação dos nossos Escriptores, e dos estranhos, que fallárão do famoso Pedro Nunes.

N. B. Tanto a respeito desta Memoria, como a respeito da antecedente, veja-se o Ensaio Historico sobre a Origem e Progressos das Mathematicas em Portugal, por Francisco de Borja Garção Stockler. París 1819, e particularmente nas Notas 21, 22 e 31.

CATALOGO DAS OBRAS IMPRESSAS E MANUSCRIPTAS DE ANTONIO PEREIRA DE FIGUEIREDO-por Francisco Manoel Trigoso d'Aragão Morato.-Lisboa 1800.

He precedido de uma Prefação, na qual Trigoso dá conta dos obstaculos que teve a vencer, e dos subsidios a que recorreu para compôr esta Obra.

Segue-se um Index Chronologico da vida de Antonio Pereira de Figueiredo, extrahido de uma obra de mais vasto alcance, que Trigoso consagrou á vida e composições do illustre sabio, e tem por titulo: Compendio da Vida e Escriptos de Antonio Pereira de Figueiredo. Este ultimo trabalho não foi dado ainda á luz; mas vem mencionado nos Apontamentos do Sr. Conde do Lavra

dio, como um dos mss. que Trigoso deixou entre os seus papeis, e he de crêr que, mais cedo, ou mais tarde, seja impresso, com grande proveito das Letras patrias. Trigoso leu attentamente, como declara no Catalogo, mais de cem diversas composições de Pereira, consultou immensas de outros authores, e mendigou informações de muitas pessoas, para escrever o Compendio; e ainda assim, ponderava no anno de 1800 que lhe restava muito que averiguar, muito que pulir, primeiro que a Obra chegasse a estado de poder apparecer: fundamento bastante para desejarmos com impaciencia a publicação do manuscripto, e esperarmos com toda a confiança uma obra acabada e muito interessante.

Antonio Pereira de Figueiredo nasceu nos principios do anno de 1725, e falleceu aos quatorze dias de agosto de 1797.

Nos fins do anno de 1752 publicou a primeira parte do seu Novo Methodo, e dessa epocha em diante não cessou jámais de enriquecer a sua patria com producções litterarias de diversos generos, como forão as obras que compoz sobre a Grammatica Latina e Latinidade, sobre a Rhetorica, Eloquencia e Linguagem Nacional, sobre a Historia, sobre Theologia e materias ecclesiasticas.

Entre as suas obras (sem fallarmos das grammaticaes e rhetoricas, e sem mencionarmos outras que forão publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa) avultão as seguintes: Compendios da Vida, acções, escriptos e doutrina de Gerson; Compendio das Epochas; Elogios dos Reis de Portugal; Portuguezes nos Concilios Geraes; Tentativa Theologica; Demonstração Theologica; A Biblia Sagrada, traduzida em portuguez segundo a Vulgata Latina; etc. etc.

Chegou a ter uma tão grande reputação de escriptor latino, que o Marquez de Pombal lhe mandou traduzir os Novos Estatutos da Universidade de Coimbra, notando-se estas palavras na Carta que o famoso Ministro lhe escreveu do proprio punho: naquelle bom latim, em que Vossa Mercé costuma escrever.

O Catalogo de Trigoso he um excellente subsidio para a Historia Litteraria de Portugal; sem comtudo tornar dispensavel o annunciado Compendio.

BIBLIOTHECA HISTORICA DE PORTUGAL, E SEUS DOMINIOS ULTRAMARINOS. . . . . -por José Carlos Pinto de Sousa.Lisboa 1801.

No Prologo da 1.a Edição declara o Author quaes forão as

intenções que o guiárão, e qual o fim a que se propoz na composição desta obra. «Estando eu, e alguns amigos certificados, pela propria experiencia, de que a falta de noticia de Escriptores, que tratem da Historia de Portugal, concorre em grande parte para a ignorancia desta, e para o atrazamento do seu conhecimento; afim de occorrer áquella, e precaver este, me deliberei a pôr a ultima mão á presente Bibliotheca Historica, etc.»— Em 1801 publicou uma nova edição, mais enriquecida de noticias, e mais apurada. He esta a que temos á vista.

Na Bibliotheca Historica são mencionados os Escriptores, assim nacionaes, como estrangeiros, que escreverão em prosa ou em verso, a historia geral de Portugal, ou a particular de algum Rei, Principe, e Varão illustre; ou a de algum facto ou Estabelecimento especiaes; ou a de alguma Possessão, Cidade, ou Villa: quer as obras tenhão sido impressas, quer tenhão ficado mss.

Pelo Indice dos Authores, formado por ordem alphabetica, que vem no fim da Obra, he facil a cada um procurar, no corpo da mesma, a que lhe convier. Assim, por exemplo, quer o leitor saber o que escreveu sobre Historia João Pinto Ribeiro;-busca no Indice este nome, e pela indicação do n.o 291 vai encontrar a seguinte noticia: João Pinto Ribeiro, natural de Lisboa, bem conhecido pela grande parte que teve na acclamação do Senhor D. João Iv, de quem era Agente, foi Desembargador do Paço, e Guarda Mór da Torre do Tombo, escreveo: Injustas successões dos Reis de Castella, e de Leão, e Isenções de Portugal. Lisboa 1646. 4.o—E á margem: Morreu em 1649.—Manda ver o n.o 370, e n'este ha a seguinte noticia: João Pinto Ribeiro escreveo: Usurpação, Retenção, e Restauração de Portugal. Lisboa 1642. 4.°-Corre traduzida em italiano. Lisboa 1646. 4.o

Figurando-se a hypothese de querer o leitor saber quem escreveu sobre tal ou tal assumpto historico, recorre ao segundo Indice, e ali encontra o numero remissivo, que o encaminha ao logar competente da Obra; se não preferir buscar em cada uma das quatro divisões da Bibliotheca o que particularmente lhe interessar.

Em alguns dos artigos dá Pinto de Sousa bastantes noticias biographicas dos authores, mas muito poucas de Critica Litteraria; as Obras são citadas com exactidão, e não he raro que se aponte a diversidade de opiniões sobre quem seja o verdadeiro author daquellas.

Consideramos a Bibliotheca Historica-como uma fonte de

noticias para a Bibliographia portugueza, e della se tem aproveitado mais de um escriptor dos nossos tempos, com quanto não possa dar-se-lhe, em quanto a asserções biographicas, todo o grão de authenticidade que uma tal obra demandaria.

MO

-APONTAMENTOS PARA O ELOGIO HISTORICO DO ILL.NO E EX." SR. FRANCISCO MANOEL TRIGOSO D'ARAGÃO MORATO........ colligidos pelo Conde de Lavradio. Lisboa 1840.

Este trabalho biographico, não obstante o modesto titulo de Apontamentos, encerra o cabal elogio historico de Trigoso, e subministra elementos para a justa apreciação do merecimento de um tão grande homem. O Sr. Conde de Lavradio, acompanhando a vida de Trigoso desde os primeiros tempos da existencia até á morte, procurou fazer conhecido o seu protagonista debaixo de todos os aspectos, concluindo, e com justificada razão, por asseverar que foi Trigoso um dos mais distinctos sobios da Nação, um dos mais eloquentes Oradores do nosso Parlamento, homem d'Estado, tão probo como esclarecido, e um dos mais virtuosos cidadãos dos nossos tempos.

No fim dos Apontamentos inserio o sr. Conde de Lavradio o catalogo dos trabalhos litterarios de Trigoso, tanto dos que forão publicados em vida do author, como dos que ficárão mss.

Grande serviço prestou o Sr. Conde de Lavradio á Historia Litteraria de Portugal, ao mesmo passo que pagou um sentido tributo de admiração e de louvor á memoria do varão illustre, a quem os contemporaneos nem sempre fizérão justiça, nem a patria galardoou como o merecia um dos seus melhores filhos.

-MEMORIAS PARA A HISTORIA DE PORTUGAL, QUE COMPREHENDEM O GOVERNO D'ELREY D. João v. Do ANNo de 1383, ATÉ O ANNO DE 1433.-Escriptas pelo Academico Joseph Soares da Sylva. Lisboa 1730.

No Prologo, dando conta dos livros que consultou para a composição das Memorias, traz um extenso catalogo de obras interessantes, nacionaes e estrangeiras, o qual he um excellente subsidio para a Historia Litteraria de Portugal, pelas noticias bibliographicas, e biographicas de summa importancia que nos

offerece.

Aponta primeiramente as differentes Chronicas de Rui de Pina, Fernão Lopes, Gomes Eanes de Azurára, e demora-se em averiguar com todo o escrupulo a authenticidade dos escriptos des

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