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tores para os Relatorios do Bibliothecario respectivo, archivados no Ministerio do Reino.

Veja-se o que acima dissémos, no principio do présente Artigo Bibliothecas.

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A Bibliotheca Publica de Evora contém hoje, segundo informações authenticas, vinte e cinco mil volumes impressos; dous mil manuscriptos; tresentos e tantos quadros; seis mil e tantas medalhas.

-Em Braga, Ponta Delgada, e Funchal, ha tambem Bibliothecas, mas pouco importantes por em quanto.

Torre do Tombo.

Subsidio para a historia deste importantissimo Archivo: MEMORIAS AUTHENTICAS PARA A HISTORIA DO REAL ARCHIVO. COLLIGidas pelo primeiro Lente de Diplomatica, o Desembargador João Pedro Ribeiro. Lisboa 1819.

<«< A historia do Real Archivo, diz o author na Introducção, he hum assumpto que por si mesmo se recommenda. >>

As Memorias são divididas em 4 partes; na 1.a trata da origem e progressos do Real Archivo; na 2." apresenta um Catalogo dos Guardas Mores; na 3.a um Catalogo dos Escrivães; na 4.a expõe o estado presente do Archivo.

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Os nossos primeiros Soberanos tivérão sim archivos, mas ambulantes, segundo as circumstancias daquelles tempos, em que os Reis não tinhão residencia fixa, obrigados como erão a continuas viagens e expedições militares.

O estabelecimento fixo de um Archivo he assignado por João Pedro Ribeiro entre 11 de Abril da Era de 1390, e 4 de Novembro da Era de 1416; existindo anteriormente apenas a Chancellaria que acompanhava a Côrte.

No reinado de D. João 1 estava já o Real Archivo na Torre do Castello de Lisboa, chamada do Tombo, por estar lá o Livro dos Tombos da Coroa, ou Proprios da Corôa, antigamente chamado de Recabedo Regni; e já neste reinado principiou o Real Archivo a ser conhecido mais constantemente com o titulo de Torre do Tombo.

No anno de 1757 foi o Archivo transferido para o local onde

hoje está, tendo primeiramente tido um deposito particular, por occasião do terremoto de 1755, salvando-se completamente daquella horrorosa catastrophe, graças ao admiravel zelo do Guarda Mór Manoel da Maya.

Da Torre do Castello de Lisboa faz menção Fernão Lopes, nas Chronicas d'El-Rei D. Pedro I (Cap. 12), e de D. Fernando (no principio, e no Cap. 48). Por muito curiosas lançarei aqui as proprias expressões do Chronista:

⇒«.......... em cada huum anno eram os Reys çertificados pellos veedores de sua fazenda, das despezas todas que feitas aviam, assi en enbaixadas come en todallas outras cousas que lhe neçessariamente convijnha fazer; e diziamlhe o que aalem desto sobeiava de suas rendas e dereitos, assi em dinheiros come en quaaesquer cousas, e logo era hordenado que se comprasse delles çerto ouro e prata pera se poer no Castello de Lixboa em huma torre, que pera esto fora feita, que chamavam a torre alvarrãa. Esta torre era mui forte e nom foi porem acabada, estava em cima da porta do Castello, e alli poinham ho mais do tesouro que os Reis juntavom em ouro e prata e moedas, e tijnham as chaves della, huum gardiam de S. Francisco, e outra o priol de Sam Domingos, e a terceira huum beneficiado da See dessa Cidade. >>=

No principio da Chron. de D. Fern. «Este Rei D. Fernando começou de reinar o mais rico Rei que em Portugal foi ataa o seu tempo: ca elle achou grandes tesouros que seu padre e avoos gardarom, em guisa que somente na torre do aver do Castello de Lixboa forom achadas oito çemtas mil

etc.>>=

peças douro,

O ultimo Guarda Mór mencionado por João Pedro Ribeiro, nas Memorias Authenticas, he o Visconde de Azurára. Completarei eu esse quadro até ao anno presente (1853).

Succedeu ao Visconde de Azurára o Visconde de Santarem; em 28 de Julho de 1833 foi nomeado Director e Guarda Mór Provisorio do Real Archivo o Official Maior Francisco Nunes Franklin. Por Decreto de 4 de Junho de 1834 foi nomeado Guarda Mór D. Francisco de S. Luiz.-Por Decreto de 28 de Setembro de 1836 foi nomeado Guarda Mór Interino o Doutor Antonio Nunes de Carvalho. Por Decreto de 23 de Julho de 1838 foi exonerado este ultimo, e substituido pelo Conselheiro Antonio Manoel Lopes Vieira de Castro.-Em 30 de Março de 1842 foi exonerado este ultimo, e substituido pelo Visconde de

Santarem, o qual continúa ainda hoje a ser Guarda Mór da Torre do Tombo, não obstante a sua residencia em París, onde aliás está prestando relevantissimos serviços á Sciencia, e á Nação Portugueza, como he bem sabido.

Em 1842 forão reunidas as obrigações de Chronista ás de Guarda Mór, com o accrescimo de 200 000 réis no ordenado. (Port. de 2 de Dezembro de 1842). Em 1833 foi extincto o Officio de Escrivão, sendo Gaspar Luiz de Moraes o ultimo que o

exerceu.

Pela Portaria de 14 de Outubro de 1836 foi restabelecida a Aula de Diplomatica, com exercicio no Archivo, e nomeado para a regencia della o Official Maior, o Sr. José Manoel Aureliano Basto.

No que toca á organisação administrativa do Real Archivo, he mister ver o Decreto Regulamentar de 30 de Abril de 1823, Aviso de 10 de Fevereiro de 1827, Decreto de 21 de Setembro de 1833; Decreto de 16 de Junho de 1836; e Decreto Regulamentar de 1839.

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Estado actual do Archivo.-Além de tudo quanto compunha o antigo Archivo, foi este notavelmente augmentado com a acquisição de innumerayeis papeis e livros das Repartições extinctas, e de Casas Religiosas, vindo destas ultimas varios Codices e Documentos importantissimos, e de grande antiguidade, como são algumas Biblias manuscriptas, a Biblia dos Jeronimos, o Atlas de Fernão Vaz Dourado, etc., e bem assim se creou uma Bibliotheca especial, contendo de quatro a cinco mil volumes, pela maior parte de Legislação, Historia, e Litteratura Portu

gueza.

Imprensa Nacional.

Por Alvará de 24 de Dezembro de 1768 foi creada uma officina Typographica, com o titulo de Impressão Regia. Nesse providente Alvará se lè a seguinte e muito judiciosa disposição:

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=<«<Todas as obras, que se mandarem imprimir pela Directoria Geral dos Estudos; pela Universidade de Coimbra; pelo Real Collegio dos Nobres; e por outras quaesquer Communidades, ou Pessoas particulares, pagarão á Impressão os justos, e moderados preços, que forem regulados em Conferencia, sem attenção a grandes interesses; pois que o fim deste estabelecimento he o de animar as Letras, e levantar uma Impressão util

ao publico pelas suas producções, e digna da Capital destes Rei

nos. »>=

Aqui temos a data da creação do importantissimo Estabelecimento, que hoje se denomina «IMPRENSA NACIONAL»; aqui temos igualmente bem caracterisada a mente do Legislador, o qual quiz que houvesse em Lisboa uma Officina Typographica, que se tornasse util e respeitavel pela perfeição dos caracteres, pela abundancia e aceio de suas impressões, e preço commodo das mesmas.

Deixaremos sem observações a historia da Imprensa Nacional, em quanto aos seus primeiros 76 annos de existencia, e marcaremos uma epocha, muito notavel e caracteristica para este Estabelecimento, no anno de 1844; nos principios do qual começou a dar-se emprego a novos maquinismos, apparelhos, e utensilios typographicos, applicados aos trabalhos da Imprensa, segundo os methodos e processos vistos e estudados em França, na Belgica e na Inglaterra.

Pela Portaria de 16 de Maio de 1843 foi o habil e muito intelligente Administrador da Imprensa Nacional, José Frederico Pereira Marecos, encarregado de ir ver e estudar aos paizes estrangeiros os processos mais aperfeiçoados da arte typographica; e bem assim de comprar os utensilios convenientes para se promoverem os possiveis melhoramentos da mesma Imprensa. Passou elle effectivamente a París, a Bruxellas e a Londres, e he muito de ponderar o que dizia no seu Relatorio de 10 de Janeiro de 1844:=«O estado actual da Typographia entre as Nações mais adiantadas faz uma tão grande differença do estado em que ella se acha entre nós, que a primeira vez que em París entrei n'uma Imprensa vi que tinha muito que aprender; e não me envergonharei de dizer, que os meus conhecimentos a este respeito eram mais imperfeitos do que eu pensava. »Visitou os mais celebres estabelecimentos typographicos das Capitaes da França, da Belgica, e de Inglaterra; vio e aprendeu muito; e habilitou-se para introduzir na Imprensa Nacional de Lisboa novas maquinas, novos apparelhos, novos utensilios typographicos, e melhoramentos diversos.-Em Portaria de 18 de Março de 1844 se lhe disse, em nome da Soberana, que elle correspondêra completamente á confiança, que o Governo tinha depositado na sua intelligencia e probidade.-Os melhoramentos introduzidos na Imprensa Nacional, como resultado da missão e diligencias do babil e zeloso Administrador, forão consideraveis,

e esse Estabelecimento adquirio as proporções e desenvolvimento que lhe faltavão.

O habil e zeloso Administrador, de quem temos fallado, já desappareceu d'entre os vivos, no que a Nação soffreu grande perda, só attenuada pela feliz circumstancia de que aquelle foi substituido no mesmo cargo por seu digno Irmão, o sr. Firmo Augusto Pereira Marecos.

De um Relatorio deste ultimo tiramos as seguintes noticias. «A Imprensa Nacional não é só uma Officina Typographica, como parece definir a sua denominação: a Imprensa Nacional é um vasto Estabelecimento, onde se praticam diversas artes e officios. Aqui são feitas todas as cousas essencialmente necessarias á typographia. Fazem-se os punções; cravam-se e justificam-se as matrizes; fundem-se e justificam-se os typos, pelo systema de pontos, como está modernamente adoptado nos paizes mais adiantados na arte typographica; stereotypa-se qualquer composição typographica; reproduzem-se todas as vinhetas e ornamentos typographicos por meio de bellos apparelhos, e pelo mesmo methodo, que se usa em França e Inglaterra.- -Os prelos de ferro que trabalham a braço fazem-se tambem na Imprensa Nacional; concertam-se e reparam-se os prelos mechanicos, e as differentes machinas de ferro que esta Casa possue, como a de vapor, a hydraulica, a de assetinar papel, a de moer tinta, e outras. Aqui se faz a tinta de diversas côres, e os rolos que a distribuem sobre as fôrmas. Nesta Casa, emfim, promptifica-se tudo de que carece a composição e impressão de uma rica e nitida edição.»=

«Compõe-se, pois, a Imprensa Nacional de uma grande Officina Typographica, com vinte prelos de ferro movidos a braço, dois prelos mechanicos a vapor, com muitissimos quintaes de typo e aviamentos typographicos-uma Officina Lithographica, com quatro prelos magnificos, e grande numero de pedras lithographicas, quasi todas allemãs, que são as melhoresuma Officina d'Estamparia, com bons torculos-uma Officina de Cartas de jogar-uma Officina de Gravura, onde se fazem os punções, e se grava em qualquer metal e em madeira—uma Officina de fundição de Typos e uma Officina de Serralhe

ria.» =

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«<...... acha-se esta Casa enriquecida com uma collecção de chapas abertas em cobre dos mais delicados desenhos, que podem considerar-se um primor de arte, sendo algumas grava

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