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legio dos Nobres, lançando mão, para o ensino das Mathematicas, de João Angelo Brunelli, e Miguel Antonio Ciera, que havia pouco tinhão voltado da America Meridional, da demarcação dos limites de nossas Possessões n'aquella parte do mundo. Por essa occasião foi tambem mandado vir de Italia o Sr. Miguel Franzini. <<Mas em quanto estes habeis Professores, diz Stockler, desempenhavão dignamente as intenções d'aquelle Monarcha, o Sr. José Monteiro da Rocha e José Anastacio da Cunha caminhavão a largos passos a pôr-se em estado de merecerem o nome de Geometras. Um e outro fizerão tão patentes os seus talentos, e os progressos que havião feito nas Mathematicas, que quando o Soberano se propoz completar a reforma da Instrucção Publica de todas as classes do Estado, reformando os Estatutos da Universidade de Coimbra, ambos tiverão a honra de ser eleitos por elle, para de concerto com os Srs. Franzini e Ciera, crearem a Faculdade de Mathematica, que então se mandava estabelecer de novo na mesma Universidade.»>

Pela Carta de Lei de 5 de Agosto de 1779, foi creada em Lisboa a Academia Real de Marinha, destinada ao ensino de um curso completo de Mathematicas, igualmente adaptado para servir de fundamento commum á navegação e ás architecturas naval, militar, hydraulica e civil; á sciencia das minas e á artilheria.

Em 1782 foi creada a Academia Real dos Guardas-marinhas, reformada depois por Carta Regia de 1796.

Em 1790 a Academia Real de Fortificação, Artilheria e Desenho.

Em 1784 tinha já sido estabelecida uma eschola de pintura e desenho de architectura civil, a cujos alumnos se impoz a obrigação de se instruirem nos principios elementares de Arithmetica e Geometria.

E ultimamente estabeleceu a Senhora D. Maria 1 a Academia Real das Sciencias, uma das classes da qual he particularmente destinada para as Sciencias exactas.

Em 1803 foi estabelecida na Cidade do Porto a Academia Real de Marinha.

No Capitulo IV daremos conta dos Estabelecimentos Litterarios da epocha actual.

Detivemo-nos com o Ensaio do sabio Stockler, por ser destinado a dar uma noticia do desenvolvimento da Instrucção Publica em Portugal. O assumpto he interessante, e entra no dominio da Historia Litteraria, com quanto não seja especial

mente da Historia da Litteratura; mas a esta mesma convem muito o conhecimento do plano, direcção, e progressos dos estudos em geral.

As Notas do Ensaio são ricas de instrucção, e entre outros muitos elementos proveitosos, contém noticias biographicas de summo interesse. As Notas relativas a Martim Behaim devem ser conferidas com a Memoria de Mendo Trigoso.

Pena foi que o sabio Stockler limitasse o termo do seu Ensaio á epocha do estabelecimento da Acad. R. das Scienc. de Lisboa, e não compozesse depois um segundo livro, no qual continuasse a historia das Mathematicas até ao seu tempo.

Terei occasião de fallar de novo sobre o Ensaio Historico, quando tratarmos da Critica Litteraria, por occasião de mencionar alguns artigos dos Annaes das Sciencias e das Artes:

Fôra grave descuido não mencionar, a proposito do Ensaio Historico, as eruditas Memorias de Antonio Ribeiro dos Santos sobre alguns Mathematicos Portuguezes, e Estrangeiros domiciliarios em Portugal, ou nas Conquistas, que se lê no tomo oitavo das Mem. de Litt. Port.-Antonio Ribeiro dos Santos termina as suas noticias com o reinado do Senhor D. João v. -Apresenta nos differentes reinados maior numero de Mathematicos do que Stockler. São muito bem escriptas estas suas Memorias, cheias de erudição, e respirão o mais enthusiastico interesse pelas cousas da patria; em todo o caso, porém, não podem ter o mesmo cunho de authoridade, que o Ensaio Historico, no que respeita á apreciação scientifica dos escriptos e merecimento dos Mathematicos.

Balbi, no seu Essai Statistique, fallando de Stockler, cujo merecimento exalta, diz que entre os titulos scientificos e litterarios por que he notavel, não menos se torna recommendavel par son savant Essai Historique des Mathématiques en Portugal...... qui peut servir de modèle pour la manière à employer pour écrire l'Histoire des Sciences.

A fóra o Ensaio sobre as Mathematicas, cumpre mencionar tambem-Obras de Francisco de Borja Garção Stockler, Barão da Villa da Praia, etc.-1.° vol. sahiu á luz em 1805; o 2.° em 1826.-Lisboa.

Nas Obras de Stockler ha alguns subsidios para a Historia Litteraria, taes como os Elogios Historicos de D. Thomaz Caetano de Bem, e de Paschoal José de Mello Freire dos Reis.

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CONTINUAÇÃO DOS SUBSIDIOS QUE POSSUIMOS PÁRA A HISTORIA

DA LITTERATURA PORTUGUEZA.

Jam apud omnes in confesso est, notitiam eorum, qui de re aliqua, cujusvis ea generis sit, scripserunt, esse omnino ad illius intellectum necessariam.

MELLII. - Hist. Juris. Civilis Lusit.

PROSEGUIREI na resenha dos subsidios que possuimos para a formação da Historia da Litteratura Portugueza.

N'este Capitulo menciono algumas Memorias interessantes, que se encontrão nas Collecções da Academia Real das Sciencias de Lisboa, -a famosa Bibliotheca Lusitana,―e alguns escriptos modernos, muito recommendaveis, sobre a Historia Litteraria do nosso paiz.

PRIMEIRO ENSAIO SOBRE A HISTORIA LITTERARIA de PorTUGAL, DESDE A SUA MAIS REMOTA ORIGEM ATÉ O PRESENTE TEMPO, SEGUIDO DE DIFFERENTES OPUSCULOS, QUE SERVEM PARA SUA MAIOR ILLUSTRAÇ o, e OFFERECIDO AOS AMADORES DA LITTERATURA PORTUGUEZA EM TODAS AS NAÇÕES - por Francisco Freire de Carvalho. Lisboa. 1845.

O benemerito Author divide a Historia Litteraria de Portugal em oito periodos. O 1." remonta á idade mais antiga, e chega até á invasão dos Godos na Hespanha, pelos principios do seculo v;-o 2.° corre desde o seculo v até à invasão dos Sarracenos no anno de 714; o 3.o desde 714 até 1139;-o 4.° desde 1139 até ao estabelecimento da Universidade Portugueza por ElRei D. Diniz no anno de 1290;-o 5.o desde 1290 até 1495, ou começo do venturoso reinado d'ElRei D. Manoel;o 6.o desde 1495 até 1580;-o 7.° desde 1580 até 1720, ou fundação da Academia Real de Historia Portugueza;-0.8.° corre desde 1720 até aos nossos dias.

Esta obra, que, ao parecer, he propriamente destinada a demonstrar a sem razão com que alguns Escriptores estrangeiros têem tratado a nação portugueza, taxando-a de ignorante e de atrazada em todos os ramos dos conhecimentos uteis; esta obra, digo, he bastantemente noticiosa, e revela uma grande e bem digerida erudição. Além de muitos e bons elementos para a his

toria especial da litteratura portugueza, contém tambem curiosas noticias ácerca da nossa Universidade, derivadas das Not. Chron. da Univ. de Coimbra, por Francisco Leitão Ferreira-das Mem. mss. de Figueirôa-do Comp. Hist. da Univ. de Coimbra, etc. No terreno em que se collocou o Sr. Freire de Carvalho, podemos affoutamente dizer que tratou muito bem os differentes periodos da nossa Historia Litteraria, e com especialidade o que diz respeito ao seculo XVIII.-O estimavel Author do Ensaio começou a escrever a sua obra nos principios do anno de 1814, como para encher de algum modo a lacuna que existia n'esta importante e rica parte da nossa historia, e que aliàs já tinha sido lamentada pelo insigne Paschoal José de Mello, quando disse: Jure tamen iidem (Lusitani) reprehendendi, quod litterariam gentis suæ historiam, eam que tam egregiam, ac præclaram tam diu in situ, et oblivione jacere patiantur. '—Todavia o Ensaio só sahio a lume no anno de 1845.-O douto Author deu á sua Obra o modesto titulo de Ensaio; e com effeito fôra impossivel a um só homem, e por em quanto, fazer um trabalho completo sobre a Historia Litteraria. Cabe-lhe, porém, a gloria de ser o primeiro que encetou a ardua tarefa, e tem direito á gratidão nacional por haver proporcionado alguns subsidios a futuros escriptores. (Vej. o excellente juizo critico inserto na Rev. Univ. Lisb. n.° 32 de 29 de Janeiro de 1846).

Ao Primeiro Ensaio uniu o Sr. Francisco Freire de Carvalho, por appendice, uma Memoria, que o Abbade Corrêa da Serra publicou em París no anno de 1804, escripta em francez, e agora vertida em portuguez pelo Sr. Freire de Carvalho, na qual o sabio Abbade dá conta dos progressos das Sciencias e das Bellas Letras em Portugal na metade do seculo XVIII.

Nos dez annos que decorrem de 1760 a 1770 melhorou ElRei D. José a Instrucção Primaria e Secundaria; fundou o Collegio dos Nobres; mandou plantar o magnifico Jardim Botanico de Ajuda, e deu principio a um Gabinete de Historia Natural; estabeleceu a Impressão Regia, com uma fundição de caracteres, que nos libertou em grande parte de comprarmos typos a estrangeiros; creou o Imposto do Subsidio Litterario para sustentação das Escholas.

Seguem-se a estes melhoramentos a reforma da Universidade, e a creação de Estabelecimentos Scientificos na Cidade de Coimbra.

1 Hist. Jur. Civ. Lusit. Cap. 12.o § 113.o no fim das notas. Esta citação não vem completa no Ensaio.

ElRei D. José desceu á sepultura em 1777; Sua Augusta Filha, a Senhora D. Maria 1, respeitou os grandes Estabelecimentos de Seu Pai, e Ella propria fundou outros de novo, e entre esses (por influencia do esclarecido Duque de Lafões, D. João de Bragança) a Academia Real das Sciencias de Lisboa, cuja historia e serviços o Abbade Corrêa da Serra expõe e desenvolve longamente.

Esta Memoria, que necessariamente havia de produzir grande effeito entre os Francezes, rehabilitando o conceito que os Portuguezes havião perdido nos paizes estrangeiros, onde erão considerados como um povo semibarbaro e ignorante; esta Memoria, dizemos, he interessante para a Historia Litteraria do nosso paiz na ultima metade do seculo XVIII, e maiormente annotada como está pelo Sr. Freire de Carvalho, e uma vez que se dê o desconto de ser escripta por um Portuguez, que havia tantos annos estava longe da patria.

José Corrêa da Serra foi um dos Portuguezes, que maior honra dérão a Portugal nos tempos modernos, tornando celebre e respeitado o seu nome na Europa e na America, pelo seu variado e profundo saber, por seus serviços á Sciencia, ás Letras, e à Patria.

«O Sr. José Corrêa da Serra, fallando e escrevendo diversas <<linguas da Europa, levava estes conhecimentos ao Grego mo<«<derno: sabia o Hebraico, o Grego e o Latim com a maior per<«<feição. Á sua grande erudição unia juizo discreto de a saber «<applicar na devida conta; dotado de uma memoria prodigiosa, «<e de não menos sagacidade, tinha o singular talento de saber «<extrahir da combinação dos factos conclusões eminentemente «interessantes, assim da ordem physica, como da moral; escre<<vendo com grande acerto e pureza, guardava estylo claro e «desempeçado. >> =Tal he o modo por que termina o elogio d'este sabio o Academico Manoel José Maria da Costa e Sá.

Abstrahindo dos serviços que José Corrêa da Serra prestou ás Sciencias Naturaes, que não são da nossa competencia, faremos menção do grande impulso que elle deu aos estudos economicos em Portugal, como se vê do Discurso Preliminar que pôz á frente das Memorias Economic ́s da Academia Real das Sciencias de Lisboa; faremos menção das diligencias e zelosos cuidados com que suggerio e promoveu os trabalhos statisticos e os geodesicos do Reino,-o exame dos Cartorios de Portugal e de Hespanha por Socios da Academia,-os programmas para illucidação do

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