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«Conheci em Lisboa este autor, o qual era hum Estudan tão de má figura. As da sua composição são mais agradaveis. Esta obra he engenhoza. Pretender a correcção da Lingoa Portugueza, foi hum assumpto de que ouvi sempre rir em Portugal. Se nessa materia se não deve seguir tudo o que este autor escreveo, muitas regras se podião tirar da sua invenção, para detestar algumas grosserias, que com pouco gosto conservamos no idioma Portuguez, as quaes com pouco trabalho, e quasi sem differença se podião limar. Quanto aos vocabulos que acabão em ão como Torrão, Trovão, Ladrão, sou bem contra elles, por que não acho impressão que não duvide trabalhar nas memorias que escrevo em Portuguez por medo destes vocabulos, os quaes sendo somente uzados por nós outros se achão nas impressoens estrangeiras os Os com til por sima. Pode-se aqui imprimir em Grego, Alemão, Olandez, Italiano e Francez com muita facilidade, mas em Portuguez ão: Difficilem rem postulasti. »=

(Note-se que o Cavalheiro d'Oliveira imprimia as suas Memorias na Haya, e que todas as palavras portuguezas, acabadas em ão, de que fez uso, são assim impressas: ao, naō, Torraō, Trovao, Ladrao; e não como acima as transcrevemos.)

-Infermidades DA LINGUA, e ARTE QUE A ENSINA A EMMUDECER PARA MELHORAR―author Sylvestre Silverio da Silveira e Silva. 1759.

Esta obra, que he antes um tratado de moral pratica, e de finissima critica das tendencias ruins do homem, he por nós mencionada entre os subsidios philologicos, em consequencia de consagrar o Author algumas paginas á enumeração de palavras e phrases, que julga deverem ser excluidas de todo da nossa Lingua.

Imagina o Author que um Medico de grande experiencia se incumbe de examinar os achaques da Lingua humana, e que para remedio da maior parte desses achaques receita a mudez, convencido de que o mundo lucra em que a lingua seja corrigida antes de fallar, e se conserve muda antes de proferir o que deseja dizer.—Trata primeiramente dos homens que fallão muito, e de tudo, e em tudo. Contra estes prodigos de palavras, só o conselho da mudez póde ser bom remedio. «O bruto conhe«ce-se por bruto, porque não falla; e o homem, em quanto não <«<falla, conhece-se por homem: porém taes palavras profere ás «vezes, que por bruto fica conhecido....... De cansada (a lingua

«do fallador) perdeo as forças, e perdêrão a efficacia as suas pa«lavras; e das muitas que proferio lhe procedeo estar douda, «como se evidencêa, pelos disparates que profere.»—Vem depois a vez dos soberbos, cujas palavras arrogantes, soltas, dissolutas, aérias, tanto nos desvião do fim para que a Natureza nos deu a falla, convidando-nos á sociabilidade, à benevolencia, á humildade. Pois emmudeça a lingua dos soberbos! He digna de ser lida a visita da lingua dobrada e torcida dos aduladores, dos hypocritas, e de todos os que enganão com palavras.—Segue-se a visita das linguas dos maldizentes, dos murmuradores: «Prendem-se os cães de filla, porque são nocivos ao povo, quan«do não estão prezos: se da soltura da lingua procedem tantos «males; porque não a terá seu dono preza, para que evite o cas«tigo do damno que cauza pela trazer solta?..... A melhor sa<«<bedoria do mundo disse que he melhor o bom nome do que as «muitas riquezas: mais que muitas riquezas rouba o murmura«dor quando tira o bom nome ao objecto de seu depravado ani«mo.»-Vem logo a vez dos criticos, e nessa visita ha cousas muito aproveitaveis sobre a parte moral da Critica Litteraria.«Chegou, por desgraça do tempo, o tempo em que se tem por «officio o dizer mal; e que papel poderá sahir bem feito, se se «não applicão os entendimentos mais do que ao que está mal «dito?»>

Mas, já basta de acompanharmos o Author em cousas que não fazem ao nosso particular proposito. O que especialmente nos interessa he o trabalho da collecção das palavras e phrases da lingua portugueza, que lhe parecêrão improprias e condemnaveis: «Entre as innumeraveis palavras (diz elle) que a igno«rancia tem introduzido, e em que a lingua tem degenerado, «escreverey as que agora me lembrão, e as indignas frazes de «que o vulgo usa, infamando-as por indiscretas, por loucas, e «por temerarias; já porque não tem recta deducção da lingua«ge; já porque as instituio a ignorancia; já porque as não re«cebeo a descripção; já porque só se usão nos periodos descom«postos; e já porque só dellas se trata nas praticas deshones

<tas.>>>

O Author, tomando cada uma das letras do alphabeto, vai reunindo todas as palavras e phrases que entendeu estarem naquellas circumstancias,-sendo a collecção dellas muito numerosa, e offerecendo por isso reunidos muitos elementos deste genero, que a grande custo se encontrão, espalhados como andão.

Para darmos um exemplo da marcha que segue, citaremos algumas palavras e phrases que enumera na letra A:

-Nomes. Achêgas, a dous carrilhos, aceirar, arquejar, atolico, apoucado, abarbado, á valentona, asneira, arengueiro, asnidade, ataçalhar, á risca, etc. etc.

-Phrases. Anda á gandaya, andar á matroca, ás atenças, arreganhou-lhe os dentes, atrapalhou-me o capitulo. etc. etc. Assim prosegue longamente na letra A, e o mesmo vai fazendo em quanto ás outras letras do alphabeto.

O Author he nimiamente escrupuloso, e severo em demasia, quando condemna de todo um sem numero de palavras e phrases, as quaes, empregadas a tempo e opportunamente, communicão uma certa energia e graça á expressão, e enriquecem a lingua com idiotismos, e a tornão propria para todos os estylos. Condemnemos sim as palavras que o vulgo pronuncia mal, como atolico, em vez de attonito; condemnemos as palavras e as phrases malsoantes, ou indecentes, ou forçadas; mas conservemos todas quantas não estiverem nesse caso, e bem longe de opinar com o Author que se evitem de todo, recommendemos apenas que se empreguem com discreto juizo.

-DISSERTAÇÃO ACADEMICA DE ANTONIO PEREIRA DE FI

Gueiredo, ESCRITA E RECITADA NO ANNO DE 1781.

Tem por fim mostrar que entre todos os nossos Escriptores he João de Barros aquelle, em quem mais reluz a eloquencia da Lingua Portugueza considerada no seu fundo.

O Author tem para si que toda aquella naturalidade, formosura e desfastio de dizer, que admirâmos em Lucena, Sousa, Vieira, toda a aprenderão e tirárão elles de Barros.

Para demonstrar este seu modo de vêr as cousas entra em um exame philologico da locução de Barros, citando exemplos de palavras proprias, de felicidade e belleza das metaphoras, que se encontrão nas Decadas; e depois de ter feito adequadas confrontações, conclue que a Barros deve a nossa Lingua a sua principal firmeza, consistencia e magestade,-a Vieira o seu ultimo polimento e esplendor.

ANALYSE, E COMBINAÇÕES FILOsoficas sobre a ELOCUÇÃO, E estilo de Sá de Miranda, FERREIRA, Bernardes, CamiNHA, E CAMÕEs, segundo o eSPIRITO DO SABIO PROGRAMMA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS-publicado em 17 de Janeiro de 1790. Por Francisco Dias Gomes.

A Analyse foi coroada pela Academia na Sessão Publica de Maio de 1792.

O erudito Philologo, tomando por ponto de partida Sá de Miranda, procurou primeiramente indagar o estado em que este encontrou a Lingua, e passou depois a sondar as qualidades principaes da composição e estylo daquelle Padre da Poesia Portugueza, e em seguimento as de Ferreira, Bernardes, Caminha, e Camões.

Sem acompanharmos o author nos seus longos, quanto eruditos desenvolvimentos, limitar-nos-hemos a apresentar, muito em resumo, as conclusões philologicas a que elle chega.

Sá de Miranda principiou a estabelecer um andamento regular na Syntaxe da Lingua Portugueza.

Ferreira proseguiu no melhoramento da Syntaxe, enriqueceu a lingua de muitas bellezas, e formulas de artigos, deu-lhe força e elevação; Bernardes deu á lingua cultura e harmonia; a Caminha pouco deve a lingua.

Camões, emfim, estabeleceu de todo a analogia, enriqueceu o idioma, determinou a sua indole, tornou-o capaz de todos os assumptos, e flexivel para todos os estilos.

ENSAIO SOBRE A FILOLOGIA PORTUGUEZA POR MEIO DO EXAME E COMPARAÇÃO DA LOCUÇÃO E ESTILO DOS NOSSOS MAIS INSIGNES POETAS, QUE FLORECÊRÃO NO SECULO XVIpor Antonio das Neves Pereira. (Premiado, pela Academia Real das Sciencias na Sessão Publica de 12 de Maio de 1792.)

O Ensaio he dividido em duas partes; na 1. trata da Poesia a respeito do exercicio das Linguas; a 2.a parte he dividida em 5 Capitulos, sendo o 1.° consagrado ao exame da locução e estylo comico de Ferreira, Miranda, e Camões,-o 2.o ao exame do estylo heroico tragico de Ferreira,-o 3.o ao exame do estylo heroico epico de Camões,—o 4.o ao exame do estylo pastoril e locução de Miranda, Bernardes, Camões, Caminha, Ferreira, o 5.o ao exame do estylo lyrico de Ferreira, Camões, Caminha.

-MEMORIAS SOBRE A POESIA BUCOLICA DOS POETAS PORTUGUEZES-por Joaquim de Foyos.

O author propõe-se a avaliar o merecimento dos nossos Poetas Bucolicos, estabelecendo primeiramente a doutrina sobre o nome desta Poesia, sua definição, essencia da sua Fabula, dos seus Authores, da sua sentença, estylo, metro proprio, e extensão que os respectivos poemas comportão.

Não sahio á luz senão a 1.a Memoria, a qual trata dos principios geraes que deixo indicados.

-ENSAIO CRITICO SOBRE QUAL SEJA O USO PRUDENTE DAS PALAVRAS DE QUE SE SERVIRÃO OS NOSSOS BONS ESCRITORES DO SECULO XV e xvi; e deiXÁRÃO ESQUECER OS QUE DEPOIS SE SEGUIRÃO ATÉ ao presente-por Antonio das Neves Pereira.

O Ensaio divide-se em tres Partes. Na 1. trata das causas da decadencia da lingua portugueza, com referencia á Analogia, á Etymologia, e ao Uso. Na 2.a trata do Plebeismo, Latinismo e Francezia, como causas tambem da decadencia da lingua portugueza. (Note-se que no Capitulo 4.o, e ultimo desta 2.a parte, se trata dos Authores da lingua portugueza, como sendo o esquecimento dos seus escriptos uma causa tambem da decadencia da dita lingua.) Na 3.a parte trata do modo de usar das palavras, de que se servírão os nossos bons Escriptores dos seculos xv e

XVI.

O Ensaio he uma das mais ricas minas de philologia, que possuimos nos terrenos da nossa Litteratura. A essa mina teem recorrido muitos Litteratos, e alguns de grande reputação, sem que todavia hajão pago um tributo de reconhecimento ao erudito author, citando-o ao menos! He mais um novo exemplo do esquecimento da famosa sentença: Ingenui est animi fateri per quos profeceris.

-ESPIRITO DA LINGUA PORTUGUEZA, EXTRAHIDO DAS DECADAS DO INSIGNE ESCRITOR JOÃO DE BARROS-por Antonio Pereira de Figueiredo.

Vem no fim uma nota, que diz assim: «Antonio Pereira de <«<Figueiredo o deo de presente á Academia das Sciencias, e Bel<<las Letras de Lisboa, para servir de soccorro aos Socios d'ella,

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