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seculo xv, diz Cenaculo que já alguns hião polindo a phrase, e entre outros Bernardim Ribeiro, e Christovão Falcão, e depois

accrescenta:

=<<Tinha aqui logar a recommendação de doutrina de nossos maiores, como do Cardeal D. Jorge da Costa e seu irmão Bispo do Algarve, do Santo Varão Gomes de Lisboa, e de outros Sabios recommendados nas pennas de Angelo Policiano, e de outros eruditos d'aquelle tempo; mas agora sómente quiz desviar uma nesga do manto sofrego que redobrão os desconhecedores de nossos bons e antigos tempos. Elle he pesado pelo immenso volume dos dias gastadores; porém, o meu affectuoso respeito, através das minhas pulverisadas e sérias impossibilidades, tem hido espreitando os escondrijos ncantadores, e convidando a quem mais possa para a magia de trazer á conversação de nossos dias os bons genios dos dias passados.»

Para nos indemnisarmos do desgosto de haver notado esta pequena falta no estilo dos (uid. Litt., apressamo-nos a dizer que n'esse mesmo livro ha paginas escriptas com a devida clareza, cuja qualidade mais sobresahe nas outras obras; e ninguem poderia engeitar estes periodos, aliàs tão repassados de judicioso criterio, com que o grande Cenaculo conclue as Mem. Hist. do Min. do Pulp.: Attemperar-se, e ajustar-se o Prégador aos ouvintes, ás circumstancias, e á materia, he condição de observancia indispensavel. Os ouvintes, e o tempo pedem muitas vezes um Discurso muito simples; e esta então he a verdadeira eloquencia... Os defeitos, de que em todo o tempo devem carecer os Prégadores, he a ignorancia da Materia. São tambem defeito as expressões indecentes, muito mais n'aquelles assumptos, cuja impureza hão de reprehender: são defeito as phrases humildes: os similes grosseiros: a pouca economia nos termos, ainda que talvez bons em si, comtudo não adoptados pelos Sabios competentes: em fim as vozes, que a experiencia mostra serem justamente vituperadas pelas pessoas de educação polida.>>

N. B. Entre os trabalhos sobre Historia Litteraria de Cenaculo devemos mencionar unia Obra ined. e orig. da Bibl. Publ. Eborense, da qual forão publicados alguns extractos no Panor. de 1843, pag. 261, 266 e 267, e tem por titulo: 0 Arcebispo Cenaculo no Elogio, ou Estudos do Padre doutor Fr. Joaquim José Pimenta, da Ordem Terceira de S. Francisco, e Litteratura de seus dias.=

No que vimos d'esta Obra se dá uma curiosa e instructiva

noticia historica do estado das Letras, Sciencias e Artes no reinado do Senhor D. João V.

Sobre a Vida e Escriptos de Cenaculo, lêão-se as seguintes Obras:

Origem e progresso das Linguas Orientaes na Congregação da Terceira Ordem de Portugal-por Fr. Vicente Salgado. Lisboa. 1790.

Compendio Historico da Congregação da Terceira Ordem de Portugal, composto por Fr. Vicente Salgado. Lisboa. 1793.

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No fim do Compendio vem o Catalogo dos Prelados Maiores que tem regido esta Congregação de Portugal, unida em regularidade, e essenciaes votos. He um documento, que pode ser conveniente consultar para a Historia Litteraria.

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Elogio Historico do Ex.mo e Rev.mo D. Fr. Manoel do Cenaculo, Arcebispo de Evora-por Francisco Manoel Trigoso d'Aragão Morato. Recitado na Sessão da Acad. R. das Sciencias de 24 de Junho de 1814.

-MEMORIAS PARA A HISTORIA Litteraria dos DOMINIOS DE PORTUGAL, Expostas em sete CARTAS, NAS QUAES SE REFERE. O PRINCIPIO, PROGRESSO, E FIM DA DOUTRINA JESUITICA DAS HUMANIDADES-por João Pedro do Valle. Lisboa 1760.

O titulo pomposo d'este livrinho faria crer que se encontraria n'elle uma copiosa fonte de noticias para a nossa Historia Litteraria, quando não um ensaio d'esta. O Author, porém, foi menos discreto na escolha do titulo, e tanto mais quanto, nas sete Cartas que publicou, só trata de um assumpto polemico de muito secundario interesse, qual he o de contestar aos Jesuitas portuguezes o merecimento de grandes Latinistas, pretendendo fazer sentir: -1.o que não forão aquelles os restauradores da Lingua Latina em Portugal;-2.° os erros do seu methodo, grammatica, e ensino; -3.° a multidão de livros superfluos, ou indigestos, que introduzirão, etc. etc.

Muito acertadamente pois andou o Sr. Freire de Carvalho, na Nota 1.a do seu Ensaio, em pôr de sobre aviso os Leitores para que não suppozessem que nas Memorias se contém uma noticia systematica de toda a nossa Historia Litteraria, ou pelo menos de alguns dos seus diversos periodos.

Em todo o caso, porém, quando no 2.o vol. da nossa Obra tratarmos das Grammaticas, será mister mencionar novamente as indicadas Cartas, em razão das considerações que n'essa es

pecialidade apresentão, e que aliàs não são de todo para des

prezar.

Esta obra, publicada com o nome de João Pedro do Valle, dizem ser de Antonio Felix Mendes.

-MAPPA DE PORTUGAL antigo, e moderno-pelo Padre João Baptista de Castro. Lisboa. 1762. 1763.

Esta obra, com quanto seja essencialmente uma descripção topographica, historica, militar, e religiosa de Portugal, entra todavia no quadro dos subsidios para a Hist. Litt., por isso que, na Parte 4. do tomo 2.o, tem dous Capitulos, destinados a dar noticias meramente litterarias do nosso paiz.

Qual foi o intento do Author na composição do Mappa de Portugal? Foi, segundo elle diz, não só proporcionar instrucção aos nacionaes, mas especialmente fornecer aos estrangeiros os meios de adquirir noticias individuadas e seguras sobre o estado verdadeiro de Portugal, contribuindo assim para que elles não commettessem os erros e descuidos, que ainda nos authores modernos apparecião sobre as nossas cousas.

Deixando a maxima parte do Mappa de Portugal, só nos occuparemos do assumpto litterario.

Competente era João Baptista de Castro para escrever sobre a Historia Litteraria, como quem tivera a honra de soccorrer a Diogo Barbosa Machado, seu amigo, com preciosas noticias e algumas originaes, para a composição da Bibliotheca Lusitana; e com quanto elle reconheça o grande disvelo, e erudição com que o seu amigo tratou um tal assumpto, julgou todavia dever transmittir aos Leitores do Mappa algumas informações succintas, mas substanciaes, da nossa riqueza litteraria.—Assim, no 1.o Capitulo da Parte 4. do Tomo 2.° trata da Origem e progressos das letras e Universidades n'este Reino, e no 2.° apresenta uma resenha de alguns famosos Escriptores Portuguezes, que florecêrão em varios generos de litteratura.

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Para não reproduzirmos o que diz o Author, cuja obra anda nas mãos de todos, limitar-nos-hemos a fazer notar as fontes d'onde elle deriva a doutrina, e a indicar a classificação methodica e bastantemente desenvolvida que apresenta dos Escriptores, segundo as diversas faculdades e materias que seguírão ou tratárão.

As principaes obras portuguezas, a que o Author reccorreu para seu esclarecimento, ou para abonar as suas asserções, são as seguintes:Agiologio (Cardoso); Monarquia Lusitana (Brito

e Brandão); Noticias Chronologicas da Universidade de Coimbra (Leitão Ferreira); Hist. Eccles. de Lisboa, e Catal. dos Bispos do Porto (Cunha); Chronica de S. Agost. (Purificação); Dialog. de Var. hist. (Mariz); Europa Port. (Faria e Sousa); Chronica d'El Rei D. Manoel (Goes); Descripção do Minho (Barros); Noticias de Portugal (Severim); Evora Gloriosa (Fonseca); Bibliot. Lusit. (Barbosa); Anno Historico (Francisco de Santa Maria). Em quanto a Authores estrangeiros, recorre principalmente ao Diccionario de Moreri, e á Bibliotheca Hispana de Nicoláo Antonio.

Em quanto á classificação, observaremos que o Author menciona os nossos Escriptores de Theologia, de Jurisprudencia, de Litteratura nos seus differentes ramos, de Historia, de Sciencias Naturaes, de Bellas Artes, consagrando a essa enumeração biographico-critica 16 paragraphos do Capitulo 2.o

PORTUGUEZES NOS CONCILIOS GERAES-por Antonio Pereira de Figueiredo. 1787.

Interessa á nossa Hist. Litt. esta obra, por isso que depõe muito a favor das letras e sciencia de qualquer individuo o ter assistido nos Concilios. O author cita o seguinte dito do Arcebispo de Braga, D. Luiz de Sousa, fallando do Padre Manoel Rodrigues Leitão, da Congregação do Oratorio: Que este era o homem, que elle conhecia neste Reino capaz de hir a um Concilio, se no seu tempo o houvesse; pelo qual facilmente se vê o quanto convem ter conhecimento dos Prelados, Embaixadores, ou Doutores que forão chamados áquellas sagradas Juntas, como sendo merecedores de commemoração, e ornamentos da patria, por suas luzes e sciencia.

<«<Em toda a parte, diz o Author, são olhados com respeito os homens de Letras, que hum Rei manda ouvir no Gabinete, ou na Secretaria d'Estado, sobre este ou aquelle negocio particular do seu Reino. Quanto mais honorifico, porem, he num Concilio de toda a Igreja, ser chamado pelo Summo Pontifice, ou pelos seus Legados, a dar o seu parecer sobre como se hão de qualificar as doutrinas d'hum Wiclef, ou d'hum Luthero, para toda essa Igreja saber o que deve crer, ou o que deve decretar sobre os Sacramentos, etc. etc. >>

No Concilio Lateranense 2.°-celebrado em Roma na Basilica de S. João de Latrão, no anno de 1139, sob Innocencio 2.o, assistio D. João Peculiar, Arcebispo de Braga.

A hida ao Concilio deu occasião ao nosso Arcebispo para contrahir em Roma estreita amisade com S. Bernardo.

No Concilio Lateranense 4.° (1215―sob Innocencio II) assistiu D. Estevão Soares da Silva, Arcebispo de Braga, e consta que pugnára pela Primazia de Braga, que o Arcebispo de Toledo disputava.

Crê-se que tambem assistíra o Bispo de Lisboa D. Soeiro Viegas.

No Concilio Lugdunense 1.o (Leão, em França, no anno de 1245, sob Innocencio Iv) assistírão o Arcebispo de Braga D. João Egas, o Bispo de Coimbra D. Tiburcio, o do Porto D. Pedro Salvador, o de Lisboa D. Ayres Vasques; e os Fidalgos seculares Ruy Gomes de Briteiros, e Gomes Viegas.

Foi n'este Concilio que o Arcebispo de Braga, e o Bispo de Coimbra, juntamente com os dois Fidalgos seculares, pedírão a Innocencio Iv que privasse o Senhor D. Sancho II da administração do Reino, ao que o Summo Pontifice annuiu pelo Breve passado em Leão aos 24 de Julho de 1245.

Consta que o Bispo de Lisboa, D. Ayres Vasques, advogára nobremente a causa de D. Sancho 11, mas em vão.

No Concilio Lugdunense 2.° (1274-sob Gregorio x) assistiu D. Pedro Julião, natural de Lisboa, convocado com o titulo de Eleito de Braga, e que mais tarde (1276) subiu ao Throno Pontificio com o nome de Joào xxi.

Assistírão tambem D. Ordonho Alvares, Arcebispo de Braga, o Bispo de Evora D. Durão; D. Fr. Estevão Martins, Abbade de Alcobaça; D. Fr. Vasco, Bispo da Guarda; D. Matheus, Bispo de Lisboa, acompanhado de Fr. João Navarro, Ministro do Convento da Santissima Trindade de Santarem.

Ao Concilio Viennense (1311-sob Clemente v) concorrêrão o Arcebispo de Braga D. Martinho, o Bispo do Porto D. Fr. Estevão, o de Lamego D. Rodrigo, e D. Giraldo Domingues, que depois foi Bispo de Evora.

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