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o Sr. D. João 11 até o Sr. D. João ; o 4.o desde o Sr. D. Sebastião até o presente.

No 1.o periodo da 1.a epocha, além das moedas e inscripções, que nos restão (ainda achadas dentro de Portugal), Fenicias, Punicas, Gregas, e Romanas, temos outras em letras desconhecidas. -Deste periodo faltão-nos documentos, e os monumentos são Fenicios, Punicos, Gregos, alguns Romanos, e outros em caractéres desconhecidos, e até o presente indecifraveis.

No 2.o periodo (1.a epocha) a lingua latina foi a geral dos documentos e monumentos- e só destes nos restão.

No 3.o dos barbaros (1.a epocha) continuou o latim nos documentos, e monumentos: mas daquelles ainda não conservão os nossos cartorios.

No 4° periodo (1.a epocha) continúa ainda o latim nos monumentos e documentos; entre os refugiados nas Asturias, e terras dominadas pelos Reis de Leão, e entre os que ficarão no captiveiro dos moiros, o latim ficou sendo a lingua da religião e documentos publicos, o arabe dos particulares e da erudição.— Alguns documentos nos restão nos nossos cartorios deste periodo, desde o IX seculo, no latim barbaro daquelle tempo: pouco mais antigos os conserva originaes o resto da Hespanha.

No 1. periodo da 2. epocha, isto he, desde o Sr. Conde D. Henrique até o Sr. D. Affonso III se empregou geralmente o latim corrupto em documentos e monumentos.-Além de dois documentos em vulgar, anteriores ao Sr. D. Affonso III, unicos que o Sr. João Pedro Ribeiro reputa genuinos, só desde o reinado do Sr. D. Affonso III, e desde a era de 1293 he que principião a apparecer alguns na lingua vulgar, posto que em menor numero, que no reinado do Sr. D. Diniz.-As inscripções, moedas, e medalhas, que nos restão deste periodo, são em lingua latina, e na mesma a legenda dos sellos.-Note-se que no livro 1.o da Chancellaria do Sr. D. Affonso III, chamado 1.° das doações do mesmo Sr. no Real Archivo, são quasi todos os diplomas em latim.

No 2.o periodo da 2. epocha, isto he, desde o Sr. D. Diniz até o fim do reinado do Sr. D. Affonso v, ainda apparece o latim em muitos documentos. Em um Livro de Registo da Chancellaria do Sr. D. Diniz, respectivo ás apresentações de igrejas do seu padroado, até 20 de Janeiro da era 1334, se achão todas as apresentações em latim. Neste periodo e no seguinte empregou-se a lingua latina nas moedas e medalhas. Em sellos só ap

parece a vulgar em bem poucos: as inscripções são mais ordinariamente latinas.

Deixemos o 3.o e o 4.o periodos, porque já não podem fa

zer ao nosso caso.

Alteração e corrupção do idioma dos romanos. Este ponto foi magistralmente tratado pelo author da «Refutação», e para o que elle disse, desde pag. 61 a 68, remettemos os leitores. Apresentaremos, porém, aqui um breve resumo da sua doutrina, pediremos licença para recordar os principios que deixámos provados no nosso artigo 10.°, taes como: disposição do latim para se alterar e corromper, proveniente da perfeição muito apurada desta lingua;—difficuldade que offerecia aos proprios naturaes;-tendencia das linguas para se tornarem mais claras; -differença de propagação entre as classes elevadas e as populares das provincias conquistadas;-necessidade que tiverão os prégadores do christianismo de se afastar das formulas sabias da lingua litteraria e oratoria para se fazerem entender do povo;— adopção do latim pelos barbaros, e consequente alteração que deste facto havia de necessariamente provir. Presuppondo bem presentes estas idéas, e outras que tambem desenvolvemos, apoiados em opiniões de authores competentes, vamos dar em resumo o que muito judiciosamente escreveu o author da «Refutação»: A lingua latina, pela sua mesma perfeição, pelas suas formulas grammaticaes, sabias e complicadas, pela variedade das suas construcções, era mais do que qualquer outra, sujeita a alterar-se, maiormente sendo fallada por tantos e tão differentes povos, quaes erão os que compunhão o antigo mundo.

-Vierão os barbaros, e adoptando a seu modo o idioma do imperio romano, muito contribuírão para a corromper; como, porém, se convertessem ao christianismo, derão logar a que continuasse sempre a ser a lingua nacional, embora barbarisada no uso vulgar, mas ao menos susceptivel de uma tal ou qual correcção nos escriptos-Succedêrão-lhes os arabes, e esses, com quanto não se convertessem ao christianismo, levárão todavia a sua tolerancia ao ponto de permittirem aos christãos o uso da sua religião, e por este modo contribuírão poderosamente para que a lingua totalmente se não extinguisse. Era, porém, tal a ignorancia em todas as classes, que a lingua latina se foi constantemente corrompendo, até á situação em que a encontramos no reinado do Sr. D. Affonso III. Entre tanto a maxima parte das palavras ficou sempre sendo a mesma; o fundo da lingua

vulgar continuou a ser latino, particularmente preponderante em todas as expressões da intelligencia e do sentimento; devendo notar-se esta circumstancia, pois que-do arabe tomamos sim bastantes vocabulos, mas todos relativos a artes e officios de segunda necessidade,—a chimica e a medicina, que elles cultivárão-e a algumas drogas orientaes ou de sua composição.

Neste estado de cousas, não podia já dizer-se que a lingua era latina, antes devemos suppôr que era já a formação muito imperfeita da vulgar de hoje. Mas em todo o caso, o latim conservou-se, mais ou menos puro, mais ou menos corrompido, nos claustros, como lingua que era da religião, e só quando o povo começou a não o entender, he que o Clero principiou a fazer as suas prédicas em romance, accommodando-se á rude intelligencia dos ouvintes desses nebulosos tempos.-De então para cá he já muito facil ir marcando as phases da lingua, isto he, o seu progressivo desenvolvimento, acompanhando o lento progresso da civilisação no povo. Chegou o seculo xvi, e já então apparecem grandes litteratos, que concordárão nas regras fundamentaes da grammatica e estructura particular da nossa lingua, e lá vão buscar á lingua latina as palavras que jazião no esquecimento, e que por ventura tinhão sido abandonadas, quando não erão precisas.

Terminaremos este assumpto da alteração da lingua latina, observando que he indispensavel, a quem quizer tratar a fundo a questão da filiação da portugueza, seguir passo e passo todo este longo e lento processo de transformação.

Argumento de paridade apresentado por Aldrete. «Si por algun acaecimento se perdiese esta lengua Castellana, que oy <«< usamos, como le sucedió a la latina, que dexó de hablar-se << vulgarmente, y dudasse uno: si los libros, que hallava escri<«<tos en romance eran de la lengua vulgar, que en España se <«< usava, deseo mucho saber, con que genero de prueba se ten<«<dria esto por bastantemente comprovado, para que assy se «< creyesse, y deviesse entender. Porque si para mostrarlo se re<< presentassen los sermones hechos al pueblo, si las historias, << si las cartas ordinarias familiares, si los versos y comedias, si <«<los processos de los pleytos, las leyes por donde se determi<«<navan, las piedras de sepulturas, ô letreros, y todo lo demás, <«<que se hallava era romance, tendriamoslo por bastante prue<< va?»(Veja Aldrete, Origen de la lengua Castellana, Libro

1.o, cap. 10.)

DIVISÃO ETHNOGRAPHICA DA EUROPA, SEGUNDO M. BALBI NO ATLAS ETHNOGRAPHIQUE. (Tableau x.)

1.

Famille des langues ibériennes-divisée en 2 branches:
-Langues anciennes éteintes depuis longtemps:
Les idiomes des turdetani, carpetani, lusita-
ni, etc. etc.

--Langues anciennes encore vivantes:
Eskuara, ou basque (vasconço).

Famille des langues celtiques-divisée en 2 branches:
-Langues anciennes éteintes depuis longtemps:
Les idiomes de béturiges, œdui, senones, ga-
lates, etc. etc.

-Langues anciennes encore vivantes:
Galique, gaelic, ou celtique propre.

Cimraeg, kumbre ou celtico belgique.

II. Famille des langues thraco-pélasgiques, ou greco-latines-divisée en 4 branches.

-Thraco-illyrienne;

Les idiomes des phrygiens, troyens, lydiens, thraces, macédoniens, illyriens anciens? etc. Albanaise, skix ou schype.

-Etrusque-Étrusque?

Pélasgo-hellénique:

Les idiomes des Pélasges, crétois, œnotres, arcadiens, etc.

Hellénique ou grecque ancienne.

Romelika, aplo-hellenica ou grecque moderne.

Italique:

Les idiomes des aborigènes, lucani, piceni, etc. etc.
Latine.

Romane.

Italienne.

Française.

Espagnole.
Portugaisc.
Valaque.

Seguem-se agora mais tres familias:-Langues germaniques -langues slaves-langues ouraliennes; das quaes não apresentamos o desenvolvimento, porque não fazem ao nosso caso. Veja-se tambem sobre esta divisão ethnographica o Atlas histor. et chron. des Littér. anciennes et mod. par A. Jarry de Mancy. (Este Atlas he feito segundo o modelo do de Lesage (Comte de Las Cases), muito mais desenvolvido, porém, no que toca a Linguistica). Veja-se tambem Malte Brun, e o mesmo Balbi, nos tratados de geographia,

O Sanskrit. Como seja opinião geralmente recebida, que o sanskrit, ou um idioma mais antigo que o gerou, he a fonte primitiva do latim, e de outras linguas; temos por conveniente dar aos curiosos uma noticia resumida ácerca desta lingua.—Os Indios chamão-lhe sanskrita, que tanto val como perfeito, acabado. Se esta lingua foi fallada na India em tempos muito remotos, como alguns querem, he todavia certo que ha muitos seculos se não falla, e he hoje aprendida pelos Brahmanes e pelos Indios mais instruidos, do mesmo modo que entre nós se aprende o latim e o grego, como lingua religiosa, das leis, de um grande numero de livros, e reservada pelos Brahmanes de hoje para assumptos da litteratura mais elevada. Sobre a perfeição grammatical desta lingua, transcreveremos aqui as proprias palavras de M. Balbi: «Le <<< sanskrit a trois genres, huit cas et trois nombres; la conjugai«son y est très régulière et se fait presque toujours sans le se« cours des verbes auxiliaires; elle a six modes, savoir: l'indi<«< catif, l'optatif ou subjonctif, l'impératif, le précatif, le condi<<tionnel et l'infinitif; l'indicatif a trois présent et deux futurs; <«<les autres modes n'ont que le temps présent. Le sanskrit ex<< prime les rapports des noms par des désinences. Sa constru«<ction est aussi libre que celle du latin. Cette langue abonde en <<< particules de toute espèce: elle a une grande quantité de mots «< composés, et possède la faculté d'en former à plaisir autant « que le grec et l'allemand. » No conceito do sabio William Jones he esta lingua mais perfeita do que a grega, mais rica do que a latina, e mais polida do que ambas. As qualidades que a

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