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otro como de casa de propria cosecha, aun sin querer se aprendia. Quien esto tuviere por difficultoso, considere lo que en poco mas de cien años ha crecido la lengua castellana, despuès que Granada se ganò.>>

Outras allusões se citão, taes como as seguintes:

<«< Tanquam si Pæni aut Hispani, in Senatu nostro sine in<«<terprete loquerentur.» (Cic. de Divin. L. 2, cap. 24.)

«Quot hominum linguæ tot nomina Deorum: non enim, ut <«<tu Velleius, quocunque veneris, sic idem in Italia Vulcanus, <«< idem in Africa, idem in Hispania.» (Cic. De nat. Deor. L. 1, « cap. 30.)

Mas estas allusões, além de serem de uma epocha, diz o Sr. A. Herculano, em que nada se oppõe a que ainda existisse em algumas povoações a linguagem celtica, phenicia, grega, punica, ou outra composta de todas ellas, essas passagens podem referir-se á lingua hespanhola das montanhas septentrionaes, onde o euskara ou vasconço resistia ao predominio do latim, como até hoje tem resistido ás linguas derivadas deste.

Uma passagem de Tacito, Annal. lib. 4, relativa ao hespanhol Termestino, que assassinára o pretor Lucio Pisão, he tambem adduzida pelos defensores da origem celtica, como testemunho de que ainda no reinado de Tiberio persistia o uso da lingua nacional dos hespanhoes. Eis o que diz Tacito: «Cum tormentis edere conscios adigeretur, voce magna, sermone patrio, frustra se interrogari clamitavit. »

¿Mas, quem asseverou que no reinado de Tiberio se tivesse generalisado já o idioma dos romanos na Hespanha, a tal ponto que muitas povoações, e por força de maior rasão os montanhezes e innumeros individuos não fallassem ainda a lingua celtica, ou outra qualquer mesclada de tantas, que por ventura tiverão voga na peninsula iberica? Fazem-se por ventura repentinamente as transformações da linguagem dos povos?-Ouçamos o sabio Klaproth: «Il y a sans doute des idiomes qu'on ne parle plus, et d'autres qu'on parle encore; mais les uns n'ont pas cessé au moment où les autres ont commencé: au contraire, ceux-ci ne sont que des modifications ou phases de ceux-là. Il n'y a point de limite fixe où l'on puisse dire qu'une langue finit et que tre commence: c'est une dégradation journalière, dont les nuances imperceptibles et successives ne deviennent sensibles que par des comparaisons faites à de grands intervalles.» E assim he; a transformação da linguagem vae operando-se pouco e pouco, len

l'au

tamente, atravez da successão dos tempos, atravez das successivas phases da vida dos povos. D'est'arte se explica o famoso dito de Plutarcho: Quod mihi in mentem venit de Sermone Romano dicere, quo sanè hoc tempore omnes fere mortales utuntur. (Lib. de Quæstion. Plato. circa finem). Plutarcho escrevia no tempo de Trajano, isto he, mais de cem annos depois do nascimento de Christo, e por esse tempo já as provincias gosavão de paz, já se havia estabelecido o trato, a amizade, e até o parentesco por meio de casamentos entre os romanos e os moradores das provincias; já estes erão admittidos ás honras, aos cargos, aos privilegios de cidadãos, de sorte que já se achavão todos confundidos, e no uso commum da lingua latina.

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Não nos contentemos, porém, ainda com estas ponderações; entremos mais no amago do assumpto, até encontrarmos uma explicação, que não só torne sustentavel a opinião da origem latina em presença do que Tacito diz do Termestino, mas em presença de todas as passagens que citão os defensores da origem celtica.

¿Em todas as provincias do imperio romano se introduziu ao mesmo tempo a lingua latina? Em todas se operou a transformação do mesmo modo, nas mesmas epochas, com as mesmas circumstancias, com a mesma força, com os mesmos resultados? Poderá acaso admittir-se que uma tal mudança se operasse simultaneamente, e de um modo uniforme em todas ellas?

A rasão responde negativamente, ao considerar-se que a respeito de umas se davão maiores impedimentos do que a respeito de outras. Estas forão conquistadas mais cedo, e os povos se prestarão mais facilmente á sujeição romana; aquellas só tarde, e depois de duras e prolongadas guerras, dobrárão o collo á conquista. Aqui os povos erão mais brandos, talvez mais dispostos a acolher a civilisação; além menos doceis, mais presados da sua liberdade, por ventura mais ferozes, ou mais apaixonados pela sua independencia. Até o orgulho de fallar uma lingua, que presumião preferivel á dos conquistadores, impedia alguns de acceitar o idioma dos romanos, como succedeu aos gregos!

¿Estará por ventura a historia de accordo com estas inducções naturaes? Sim. Segundo o testemunho de Strabão, já citado, forão os turdetanos os primeiros que na Peninsula Iberica receberão a lingua e a civilisação romana; seguirão-se os celticos, os turdulos, e os celtiberos, ficando em ultimo logar os po

vos da parte septentrional até ás montanhas, onde, por bom signal, entretinhão os romanos, nos primeiros tempos do imperio, dous terços da guarnição de toda a Peninsula.

Strabão assistiu á divisão, que, no tempo de Augusto, pouco mais ou menos 25 annos antes do nascimento de Christo, se fez das provincias romanas, e assim a descreve: «Nostra quidem tempestate provintiis aliis, S. P. Z. Romana adsignatis, aliis Principi, Botica populo attributa est, mittitur que in eam Prætor cum quœstore, et legato. Finis ei versus orientem constitutus est proxime Castaonem, reliqua est Cæsaris, et in eum mittuntur duo legati prætorius et consularis. Quorum ille jusdicit Lusitaniæ, quæ attingit Bæticam, et porrigitur usque ad Durium omnem, et ejus hostia, sic enim proprie illam regionem nominant, ibi que est Augusta Emerita. Reliqua et quidem maior pars Hispaniæ subest consulari legato, qui exercitum habet non contemnendum trium circiter cohortium, ac tres legatos. Horum prior cum duabus cohortibus custodit totum trans Durium versus setemptrionem tractum qui olim Lusitania, nunc Callaica dicitur. Hunc attingunt setemptrionales montes cum Asturibus et Cantabris. Tertius mediterranea regit, atque continet, pacatos jam populos et mansuetis jam moribus, et cum Toga formam indutos Italicum, ii sunt celtiberi, et qui in propinquo utrinque ad Iberum accolunt usque ad maritima. Ipse profectus in maritimis hiemare solet jus dicendo maxime Carthagine, aut Tarracone.»-Fica, pois, bem claro esse processo de transformação; aqui já facil, já quasi completo nos povos pacificos e de brandos costumes; além demorado, difficultoso, e, por ventura, renitente nos povos do norte e nas montanhas.

¿Que admira, pois, que ainda no reinado de Tiberio apparecesse o rustico Termestino, de que falla Tacito, exprimindo-se ainda na linguagem antiga celtica, sendo habitante da parte septentrional da Hespanha, onde ainda a civilisação de Roma não tinha podido calar? Antes este facto póde provar o contrario do que pretendem os defensores da origem celtica, pois que, servindo-me das expressões de Aldrete: «Si en toda la provincia no se hablara sino la lengua antigua natural, escusado fuera que Cornelio Tacito hiziera mencion de ello, pero hizola por cosa notable, assi en el hecho, y exagerarlo, como tambien por la respuesta, y assi se escrivió à Roma, y él la escrivió en sus Annales, pués en ellos se notó, el aver usado la lengua de la tierra. >>

Se a estas ponderações accrescentarmos a observação feita pelo Sr. Herculano, de que a palavra lingua não tinha, para os authores antigos, a significação mais precisa, que hoje lhe damos, nem importava necessariamente uma distincção profunda de indole e vocabulos entre ellas, podendo por isso equivaler muitas vezes a dialecto, deveremos concluir que as passagens de Strabão, Cicero, Plinio, e Tacitó, citadas na «Memoria» do Sr. S. Luiz e no «Opusculo »-só poderão provar a existencia de variedades. de pronuncia, e ainda de expressões locaes, sem que d'ahi se haja de concluir, que o latim não era a base da lingua.

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THEORIA GERAL DA FILIAÇÃO DAS LINGUAS, E SUA APPLICAÇÃO Á LINGUA PORTUGUEZA.

He meu intento reunir neste os argumentos, com que póde demonstrar-se: 1.°-que a filiação das linguas deve antes ser deduzida da comparação dos vocabularios, do que da conformidade, ou differença das formulas grammaticaes e da syntaxe; 2.°-que este principio, applicado á lingua portugueza, dá em resultado a origem latina; 3.°-que quando neste sentido se falla da lingua latina, devemos entender a lingua popular, e não o latim litterario, ou oratorio de Virgilio ou de Cicero.

1.a Parte. Os defensores da origem celtica da nossa lingua, depois de apresentarem o argumento da quasi impossibilidade da transformação da linguagem,-argumento que examinámos no Santecedente,-recorrem a outro principio, qual he o de que a filiação e parentesco das linguas não se devem procurar nos particulares vocabulos de cada uma, considerados separadamente, e sem a fórma, ordem, ligação, e emprego, que os faz servir á pintura e expressão do pensamento; ou por outras palavras, que não são os vocabulos que as linguas tomão umas das outras, nem as etymologias, que nos hão de dar a conhecer a origem e o parentesco dos idiomas; mas sim o genio e caracter de cada um.

Examinaremos este principio, apresentando as observações que encontramos em bons authores.

Existe entre todas as linguas um certo parentesco, que se revela tanto nas palavras, como nas raizes. As raizes são os germens das palavras; são monosylabicas, compõem-se ordinaria

mente de duas consoantes separadas por uma vogal, ou de uma só consoante precedida ou seguida de uma vogal, e com quanto pouco numerosas, constituem todavia o fundo de todas as linguas presentes e futuras, como sendo a essencia da palavra, e por isso immutaveis. Nas palavras possibilidade e circumstancia, temos a raiz pos, e a raiz st; a raiz pos representa a idéa de poder, a raiz st a de estar em pé (stare). '

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A raiz não he uma palavra, mas sómente uma indicação de uma idéa; della se derivão os vocabulos, que depois se manifestão sob a fórma do verbo, do adjectivo, do substantivo, do pronome, e até da particula.

Ha duas especies de affinidade entre os idiomas do globo, consistindo a primeira nesses laços communs de parentesco, revelado por um grande numero de vocabulos, que em linguas de povos mui affastados uns dos outros, têem conservado o mesmo significado e o mesmo som; e a segunda, verifica-se nos idiomas dos povos, 'cujas relações, communicações e tratos mutuos são attestados pela historia, encontrando-se por isso nelles não só palavras com o mesmo significado e som, mas até em alguns casos uma certa coincidencia de construcção grammatical. A primeira póde denominar-se affinidade primitiva, a segunda affinidade de familia.-A primeira e a segunda têem de commum o elemento comparativo das relações que se observão entre as raizes primarias e essenciaes das linguas; estudo difficil, e que demanda grande e escrupulosa attenção, por isso que as fórmas radicaes tambem são variaveis nas differentes linguas, e por vezes succede, que as variações e mudanças que observâmos embaração o nosso juizo. Estas variações e mudanças prendem com as alterações das vogaes e consoantes nas palavras das differentes linguas, alterações tanto mais confusas para nós, quanto são imperfeitos os alphabetos europeus, muito inferiores ao alphabeto sanskrit, que ainda assim não parece cabal e perfeito aos ethnographos mais abalisados.

Deixando, porém, esta parte da ethnographia, que demanda um desenvolvimento especial, tratemos de aproximar-nos mais da questão acima proposta.

Se a decomposição e a analyse comparativa das raizes servem de grande auxilio aos ethnographos para determinarem a affinidade das linguas,de quanto maior e mais immediato soc

1 Veja o excellente artigo Langues de Klaproth na Encyclopédie Moderne,

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