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«dezir, ni mas breve, ni com mas propriedade el averse redu<«<zido las provincias a la lengua latina.»

E finalmente, por tal motivo disse com rasão o valenciano Luiz Vives: «Curabant ergo Romani, ut in Hispanias, et Gal<«<lias Latinas prorsus fecerint veteribus illarum gentium linguis «abolitis. Rem profecto conabantur pulcherrimam, et toto hu«mano generi utilissimam, quocumque id fine facerent, ut esset «una aliqua lingua, qua se gentes omnes mutuo intelligerent.>> Vejamos agora como o Sr. A. Herculano tratou esta questão na «Introducção á Historia de Portugal.>>

O Sr. Herculano, pondo de parte o exame do modo como se operou a alteração da linguagem hispanico-romana, demonstra concludentemente que os resultados da conquista romana se estendêrão até á transformação dos idiomas da Hespanha, fossem elles quaes fossem. A organisação administrativa das provincias era apropriada para romanisar as gentes domadas pelas armas ou pelas allianças, fazendo-lhes esquecer até a linguagem nativa. Segundo a opinião de M. Guizot, o systema de povoação dos romanos era, até certo ponto, o inverso do nosso. Em todas as provincias sujeitas a Roma reflectia-se a vida social desta. O municipio, que fôra a fórma de sociedade com que a republica nascêra, vigorára e crescêra, e que as revoluções interiores, a tyrannia dos Cesares, e até a invasão dos barbaros, não poderão extinguir, reproduziu-se por todas as partes onde chegou o dominio romano.

«Nas Gallias, na Hespanha, diz M. Guizot, não encontraes senão cidades. Os territorios desviados d'ellas estão cobertos de selvas e alagadiços. Averiguae qual seja o caracter dos monumentos, das vias romanas. Achareis estradas reaes, que vão de cidade a cidade; porém essa multidão de caminhos encruzilhados, que hoje sulcam o territorio, eram então incognitos. Nada havia que se parecesse com a indizivel quantidade de monumentosinhos, d'aldeias, de castellos, d'igrejas, dispersos pelo paiz desde a idade media... Examinae a que luz vos aprouver o mundo romano, que sempre achareis essa preponderancia quasi exclusiva das cidades, e a não existencia social dos campos.»>

Neste facto fundamental, que distingue a civilisação antiga da moderna, encontra o Sr. Herculano a explicação da facilidade e rapidez com que os romanos convertião as outras nacionalidades na sua, e alcançavão, até, substituir a propria linguagem á dos povos subjugados.

«A assimilação, diz o Sr. Herculano, devia ser tanto mais facil, quanto os vencidos fossem ou mais barbaros, ou de raças mais misturadas. Nas Gallias realisava-se principalmente a primeira hypothese; na Hespanha principalmente a segunda. Imaginemos a gente nativa, encerrada nos muros das cidades, ou reconstruidas ou edificadas de novo pelos romanos, sujeita, com o correr dos tempos, á organisação administrativa, judicial, e militar dos conquistadores, frequentada pelos seus magistrados, funccionarios e exactores, aquartelando as suas tropas, tractando os pleitos nos seus tribunaes, recebendo dos romanos os commodos da vida e os objectos de luxo, correndo aos theatros que se alevantavam por toda a parte, e aonde os attrahiam as graças e as pompas do drama latino, e recolhendo nos proprios muros um grande numero de individuos, que, depois de militarem nos exercitos de Roma, vinham, transformados em romanos, orgulhosos da illustração adquirida no meio d'elles, converter, com o desdem da superioridade, á vida e á linguagem da Italia os membros mais grosseiros das suas familias. Depois, quando estas e mil outras causas de assimilação, actuando por seculos, produziram todo o seu effeito, as differenças que distinguiam os vencidos dos vencedores desappareceram inteiramente. Caracalla, attr.buindo o caracter de cidadãos romanos a todos os homens livres do imperio, não fazia uma revolução nas instituições; mas declarava simplesmente, que um grande facto social se achava consummado.>>

¿O testemunho dos escriptores desse tempo estará acaso de accordo com a antecedente deducção dos factos sociaes? Sim, como o prova a seguinte passagem de Strabão, a que já se alludiu no artigo antecedente: «Accresce á bondade do clima que desfructão os turdetanos, a brandura e a civilisação, o que, segundo Polybio, he tambem commum aos celticos pela visinhança e parentesco, posto que em gráo menor, por habitarem de ordinario em logarejos. Os turdetanos, porém, principalmente os das margens do Betis, tomárão de todo os costumes romanos, esquecendo até a propria lingua, e muitos, tornados latinos, receberão no seu seio colonos de Roma, faltando pouco para inteiramente serem romanos. As cidades ultimamente edificadas, Beja entre os celticos, Merida entre os turdulos, Saragoça entre os celtiberos, e varias outras colonias provão essas mudanças de aspecto da sociedade. Os hespanhoes, que seguem este modo de viver, chamão-lhes stolados ou togados, entrando neste numero os cel

tiberos, tidos n'outro tempo pelos mais feros e desconversaveis de todos.>>

Ora, se já no xv anno da era christa, e iv do imperador Tiberio (em que Strabão escrevia a sua grande obra geographica) a transformação romana havia lançado tão profundas raizes, não admira que desde essa opocha todos os monumentos historicos conspirem em nos mostrar os habitantes da Peninsula inteiramente identificados com os romanos.

<«<Entre os muitos factos, que fôra facil amontoar em prova d'isso, um dos mais notaveis he, em nosso entender, o usarem de nomes puramente latinos todos os individuos hespanhoes do tempo dos imperadores, de modo que os nomes barbaros desapparecem inteiramente, circumstancia que se não repetiu durante o dominio dos wisigodos, quando aliás cremos indubitavel o haverem estes abandonado a lingua gothica pelo romano-rustico, sem que por isso deixassem de figurar na historia os Theodoriks, ou Euriks, os Heermangilds. E o mesmo se póde dizer do dominio arabe, durante o qual, segundo o testemunho, tantas vezes citado, de Alvaro de Cordova, os mosarabes esqueciam a sua lingua romana para só fallarem o arabe, conservando, todavia, os nomes proprios da origem grega, latina e goda, como se vê da historia e dos documentos desse periodo.>>

Cita depois o anecdota de Aulo-Gellio, que acima referimos já, e conclue assim: «Em um livro philologico, Gellio, chamando ao latim lingua patria de um hespanhol, não nos deixa a menor duvida de que, no tempo de Hadriano, esta linguagem não era para um filho da Hespanha um idioma estudado nas escholas, mas a propria do seu paiz.»

Terminaremos este S mostrando que as passagens de diversos authores latinos, citadas pelos defensores das origens celticas, não destroem a doutrina que acabamos de expôr. (Vej. «Mem.» do Sr. S. Luiz, e «Opusculo»).

A maior parte dessas passagens são de uma epocha, em que naturalmente não podia ainda estar generalisado nas provincias o idioma dos romanos; outras são sujeitas a diversas interpretações, ou duvidosas no que toca á sua genuidade; em quanto que as apontadas a favor da origem latina são positivas e terminantes. Desenvolvamos com toda a clareza este ponto.

A maior parte d'essas passagens são de Cicero; ora este grande homem nasceu cento e seis annos antes de Christo, e morreu de edade de 64 annos, isto he, 42 antes da era christa.

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Já se vê pois que no tempo de Cicero não era possivel que se tivesse já operado, em grande escala, a transformação dos idiomas da Hespanha; ao passo que, quando Strabão escreveu a sua grande obra geographica, já essa transformação havia adquirido mais alguma força, e muito maior adquiriu posteriormente quando Aulo-Gellio escreveu as Noites Atticas, nas quaes encontrámos uma prova muito positiva de ser a lingua latina a lingua patria no tempo de Hadriano.

Analysemos, porém, essas passagens, que os defensores das origens celticas adduzem em abono da sua opinião.

O Sr. S. Luiz apresenta na sua «Memoria,» como demonstração da existencia e uso das linguas vulgares das Hespanhas no periodo da dominação romana, o testemunho de varias passagens de Cicero, sendo a principal a seguinte, que se lê na oração pro Archía Poeta: «Græca leguntur in omnibus fere gentibus: Latina suis finibus, exiguis sanè, continentur.» E accrescenta estas palavras: «expressões notaveis, que parece indicarem que a lingua latina sómente era conhecida e fallada no Lacio, ou quando muito na Italia (suis finibus), e das quaes o sabio orador não usaria, se já então a lingua latina fosse não só conhecida e fallada, mas até vulgarmente usada nas vastas regiões das Hespanhas.>>

O author da «Refutação» impugna, a nosso vêr, triumphantemente esta interpretação dada ás palavras de Cicero, pelo quê remettemos os leitores para a nota 39 de pag. 62 e 63 do seu Opusculo.

O author da «Refutação» entende que a expressão suis finibus se refere aos limites da poesia, e não aos do imperio, por que os poetas romanos são todos posteriores a Cicero, á excepção de Lucano, ao passo que os poetas gregos eram anteriores, e n'essa épocha lidos de todos. Demais, o Sr. S. Luiz entende que d'aquella e outras passagens de Cicero se collige quão pouco estimada era a lingua latina dos proprios romanos no tempo do illustre orador; e o author da «Refutação» traduziu a passagem inteira, e segundo ella viu que Cicero disse, como argumento em favor do poeta grego Archía, «que se alguem pensa que da poesia «grega resulta menos gloria que da latina, grosseiramente se en«gana, porque o grego se lê em toda a parte, o latim em seus <«<estreitos limites.» É claro pois que não estava em desestimação a lingua latina, porque, se assim fosse, não impugnaria Cicero a preferencia dada á poesia latina sobre a grega, no sentido

de recommendar o seu cliente. Por conseguinte, nem a allusão de Cicero prova que a lingua latina não era estimada no seu tempo, nem parece referir-se à estreiteza dos limites do imperio romano, que n'esse tempo erão a Hespanha e o Euphrates, mas sim aos da poesia romana dessa epocha, antes da qual só Lucano havia já escripto o seu poema de Pharsalia (e note-se que Lucano era hespanhol, e nascêra em Cordova).

Concedendo, porém, que a expressão suis finibus se refere aos limites do imperio, como quer Aldrete, dizendo: «Suis finibus imperii nimirum Romam, exiguis tunc nondum pacatis provinciis,» ainda assim não prova de modo algum o que se pretendeu inculcar.

Transcrevamos toda a passagem completa, e depois d'ella as observações que o erudito Aldrete apresenta:

«Nam siquis minorem gloriæ fructum putat ex græcis ver«sibus percipi, quam ex Latinis, vehementer errat, propterea «quod Græca leguntur in omnibus fere gentibus, Latina suis fi«nibus exiguis sanè continentur. Quare, si res eæ quas gessi«mus orbis terræ regionibus diffiniuntur, cupere debemus quo <«minus manuum nostrarum tela pervenerint, eodem gloriam, <«<famamque penetrare.»>

ellos

«Grandes humos de vanagloria, que llegan a punto, que se procure, que las hazañas hechas por los romanos, por que su fama no se encerrasse en los limites de las provincias, qué iban conquistando, que le parecian a Ciceron pequenos, y estrechos, devian los romanos dessear, que mediante la lengua griega, que corria mas entonces por el mundo, la gloria, y fama de sus proezas llegassen donde no avian alcançado las armas de sus manos. Pero de manera se aventajaron ellas, que en ciento y cincuenta anos después, que huvo hasta tiempo de Plutarco, y de Quintiliano, hizieron en el mundo tal mudança, que se estendió mas la lengua latina, que lo avia estado la griega, y llegó a lo que aquella no pudo arrivar, que todos los hombres la hablavan, como dize Plutarco, y Quintiliano añade, que se usaba mas que la griega, y como natural no era menester aprenderla, porque sin enseñarla, ella misma se dava y nacia: A sermone Græco puerum incipere malo, quia Latinus, qui pluribus in usu est, vel nobis nolentibus se perhibet. (Qui pluribus, quam Græcus in usu est.) Entre las dos haze la comparacion, y mas usado era ya el latin, que non el griego, y este era menester aprenderlo, y aquel no, el uno como peregrino costava trabajo el saberlo, el

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