Page images
PDF
EPUB

de Coimbra, de que foi digno Professor, e assignála, com grande distincção, os trabalhos litterarios da presenté epocha.

O Ensaio versa sobre assumpto mais vasto do que aquelle que ora nos occupa; no entanto o douto e habil Professor, lançando os grandes traços da nossa verdadeira Historia, não se esqueceu de marcar os progressos da instrucção publica, e he neste particular que offerece alguns subsidios para a Historia da Litteratura, maiormente pelo facto de enlaçar aquelles progressos com o desenvolvimento da civilisação em Portugal.

O author seguio, na composição do Ensaio, a «Historia Juris Civilis Lusitani» de Paschoal José de Mello; mas supprio as ommissões desta obra, e desviou-se das opiniões em que esté sabio Jurisconsulto, para se accommodar ás idéas è circumstancias do tempo, e peso da censura sob que escreveu, poz de parte a philosophia, e judiciosa critica, que caracterisão os seus escriptos.

O periodo que decorre desde a fundação da Monarchia Portugueza foi dividido pelo author em tantas epochas, quantas têem sido as mudanças de Dynastias entre nós; e cada uma dessas epochas foi dividida em artigos, nos quaes colligio os factos relativos á organisação social do nosso paiz. Um artigo de cada uma dessas epochas é consagrado á noticia do estado das letras, e da instrucção dos portuguezes.

CAPITULO III.

CONTINUAÇÃO DA RESENHA! DOS SUBSIDIOS PARA A HISTORIA
DA LITTERATURA PORTUGUEZA.

DIVERSAS MEMORIAS SOBRE A LITTERATURA SAGRADA DOS JUDEOS PORTUGUEZÉS, NOS SECULOS XV A XVIII-por Antonio Ribeiro dos Santos.

Na primeira Memoria diz o author, fallando dos Judeos Portuguezes:<< Em mui grande obrigação lhes estamos pelo muito que concorrerão para o estabelecimento dos estudos em Portugal, porque em verdade lhes devemos em muita parte os primeiros conhecimentos da Filosofia, da Botanica, da Medicina, da Astronomia, e da Cosmografia; os primeiros rudimentos da Grammatica da Lingua Santa, e quasi todos os estudos da Litteratura Sagrada, que entre nós houve antes do seculo 16, e o que muito contribuío para se espalharem, e adiantarem esses nossos conhe

cimentos, a introducção, ou polimento da Typografia Portugueza, maiormente Hebraica, com que naquelles tempos começámos de competir com as mais adiantadas nações de Italia e de Allemanha. »>=

Antonio Ribeiro dos Santos recolhe nas suas Memorias as noticias, que a sua diligencia descobrio dos Judeos Portuguézes, que florescêrão nos estudos da Litteratera Sagrada, nos seculos 15 a 18, tanto em Portugal, como na Haya, em Amsterdão, em Londres, e em outros pontos da Europa.

ENSAIO DE UMA BIBLIOTHECA LUSITANA ANTI-RABBINICA, OU MEMORIAL DOS ESCRITORES Portuguezes QUE ESCREVÊRÃO DE CONTROVERSIA Anti-JUDAICA-por Antonio Ribeiro dos Santos.

O Author julgou, ao que parece, um dever de consciencia, depois de tanto se haver occupado da Litteratura Sagrada dos Judeos Portuguezes, apresentar o catalogo dos escriptores, assim portuguezes, como dos domiciliados em Portugal, que composérão obras, manuscriptas ou impressas contra o Judaismo. «Não, << são elles muitos, mas são os que bastão, ou para poder desar<<mar-se por seus escritos a incredulidade dos Hebreos com maior <«< honra, e gloria do Senhor, ou para se mostrar ao menos, que «nossos maiores se não descuidarão da salvação do seu proximo, «< com muito credito do nome Christão, e Portuguez. »

-Memoria sobre algumas Traducções, e Edições BibliCAS MENOS VULGARES, EM Lingua PortuguEZA, ESPECIALMENTE SOBRE AS OBRAS DE JOÃO FERREIRA DE ALMEIDA -por Antonio Ribeiro dos Santos. ⠀

O author pretendeu nesta Memoria encher uma lacuna, que existia neste ramo da nossa Hist. Litt. e Sagrada, apontando algumas Traducções e Edições menos vulgares dos Livros das Santas Escripturas, que havião sido feitas em portuguez, tanto no Reino, como fóra delle, ou por nacionaes, ou por estrangeiros.

Até João Ferreira A. de Almeida (ultima metade do seculo 17) a nossa rique a, no particular de que se trata, he muito pouco consideravel; podendo até asseverar-se que traducção regular dos livros sagrados foi o Almeida quem primeiro a fez na nossa lingua. Eis o juizo que Antonio Ribeiro dos Santos faz sobre o merecimento da Traducção de Almeida: «A sua linguagem, sobre ser muito propria e simples, qual convinha a tal obra,

he muito abastada de termos, e mui rica de expressões, encerrando em si hum bom thesouro do Vocabulario da Lingua Portugueza; quanto porém á Grammatica, algumas frases e maneiras ha, que não tem todas o sabor da nossa Lingua; parte por que Almeida se cingio muito estreitamente á trasladação litteral do texto grego, e á traducção hollandeza, parte por se haver acostumado á lingoa estranha do paiz, em que vivia. >>

Entre nós não ha outra traducção dos Livros Sagrados, feita do texto grego, e neste sentido julga Antonio Ribeiro dos Santos que a de Almeida he interessante, «ou para se ver por ella o em que concordão, e o em que differem os dous textos authenticos, ou para se entenderem mais claramente os logares escuros da Vulgata, ou para se apanhar melhor o genuino sentido do texto original, aonde elle se não acha expressado na Traducção Latina com toda a sua força e propriedade. »

Mas Almeida era Calvinista!... A este reparo responde Antonio Ribeiro dos Santos: « A differença da Religião para que Almeida apostatou, não deve servir de obstaculo; cumpre distinguir o homem, e os seus erros, e separar o bem que fez, do mal que obrou. Deste temos a sua apostasia, que o fez criminoso; amemos porém as suas obras no que ellas são uteis, e dignas de estimação, etc. »

O author não mencionou as Traducções feitas em seu tempo, e apenas em uma nota allude á celebre Traducção do Padre Antonio Pereira de Figueiredo, dizendo do illustre Theologo « que serão sempre diminutos os elogios, que se derem a seus escritos. »

MEMORIA DA VIDA, E ESCRIPTOS DE D. FRANCISCO DE MELLO-por Antonio Ribeiro dos Santos.

D. Francisco de Mello nasceu em Lisboa em 1490, e falleceu a 27 de Abril de 1536. Foi a elle que se referiu Gil Vi→ cente, alludindo aos conhecimentos cosmographicos e astronomicos, em que o illustre fidalgo adquirio nomeada, no famoso motête:

Esse Francisco de Mello,
Que sabe sciencia avondo,
Diz que o Céo he redondo;
E o sol sobre amarello;
Diz verdade, não lho escondo,
Que se o Céo fôra quadrado,
O Sol não fora redondo.

A Memoria citada traz no fim uma relação de todos os nossos Escriptores, que fazem honrada memoria de D. Francisco de Mello; bem como apresenta a lista dos authores estranhos, que do mesmo D. Francisco fallão em suas obras.

-MEMORIA DA VIDA E ESCRIPTOS DE PEDRO NUNES- por Antonio Ribeiro dos Santos.

Conclue assim a Memoria: «Tal foi Pedro Nunes, e taes as suas Obras, com que muito se ennobreceu a si, e a Portugal, homem de genio creador, nascido para as sciencias exactas, e sublimes; illustre Mathematico, em um tempo (seculo xvi) em que as Mathematicas principiavão a sahir das trevas, em que jazêrão tantos seculos; grande Cosmógrafo, em uma idade em que a navegação quasi guiada mais por praxes, e rumos, que por principios, começava vagarosamente a sujeitar-se ao imperio das Mathematicas, e á theorica das regras; e tão dado aos estudos da verdadeira Astronomia, como mostrou em muitas partes de suas obras, quão alheio daquella vãa Judiciaria, que ainda muito se inculcava no seu tempo: e o que sobre tudo o recommenda, homem que sendo tão profundo, era maior ainda por sua modestia, que por seu talento.>>

No fim da Memoria vem uma relação dos nossos Escriptores, e dos estranhos, que fallárão do famoso Pedro Nunes.

N. B. Tanto a respeito desta Memoria, como a respeito da antecedente, veja-se o Ensaio Historico sobre a Origem e Progressos das Mathematicas em Portugal, por Francisco de Borja Garção Stockler. París 1819, e particularmente nas Notas 21, 22 e 31.

CATALOGO DAS OBRAS IMPRESSAS E MANUSCRIPTAS DE ANTONIO PEREIRA de Figueiredo por Francisco Manoel Trigoso d'Aragão Morato.-Lisboa 1800.

He precedido de uma Prefação, na qual Trigoso dá conta dos obstaculos que teve a vencer, e dos subsidios a que recorreu para compor esta Obra.

Segue-se um Index Chronologico da vida de Antonio Pereira de Figueiredo, extrahido de uma obra de mais vasto alcance, que Trigoso consagrou á vida e composições do illustre sabio, e tem por titulo: Compendio da Vida e Escriptos de Antonio Pereira de Figueiredo. Este ultimo trabalho não foi dado ainda á luz; mas vem mencionado nos Apontamentos do Sr. Conde do Lavra

[ocr errors]

dio, como um dos mss. que Trigoso deixou entre os seus papeis. e he de crêr que, mais cedo, ou mais tarde, seja impresso, com grande proveito das Letras patrias. Trigoso leu attentamente, como declara no Catalogo, mais de cem diversas composições de Pereira, consultou immensas de outros authores, e mendigou informações de muitas pessoas, para escrever o Compendio; e ainda assim, ponderava no anno de 1800 que lhe restava muito que averiguar, muito que pulir, primeiro que a Obra chegasse a estado de poder apparecer: fundamento bastante para desejarmos com impaciencia a publicação do manuscripto, e esperarmos com toda a confiança uma obra acabada e muito interessante.

Antonio Pereira de Figueiredo nasceu nos principios do anno de 1725, e falleceu aos quatorze dias de agosto de 1797.

Nos fins do anno de 1752 publicou a primeira parte do seu Novo Methodo, e dessa epocha em diante não cessou jámais de enriquecer a sua patria com producções litterarias de diversos generos, como forão as obras que compoz sobre a Grammatical Latina e Latinidade, sobre a Rhetorica, Eloquencia e Linguagem Nacional, sobre a Historia, sobre Theologia e materias ecclesiasticas.

Entre as suas obras (sem fallarmos das grammaticaes e rhetoricas, e sem mencionarmos outras que forão publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa) avultão as seguintes: Compendios da Vida, acções, escriptos e doutrina de Gerson; Compendio das Epochas; Elogios dos Reis de Portugal; Portuguezes nos Concilios Geraes; Tentativa Theologica; Demonstração Theologica; A Biblia Sagrada, traduzida em portuguez segundo a Vulgata Latina; etc. etc.

Chegou a ter uma tão grande reputação de escriptor latino, que o Marquez de Pombal lhe mandou traduzir os Novos Estatutos da Universidade de Coimbra, notando-se estas palavras na Carta que o famoso Ministro lhe escreveu do proprio punho: naquelle bom latim, em que Vossa Mercé costuma escrever.

O Catalogo de Trigoso he um excellente subsidio para a Historia Litteraria de Portugal; sem comtudo tornar dispensavel o annunciado Compendio.

-BIBLIOTHECA HISTORICA DE PORTUGAL, E SEUS DOMINIOS ULTRAMARINOS. -por José Carlos Pinto de Sousa.

Lisboa 1801.

No Prologo da 1.a Edição declara o Author quaes forão as

« PreviousContinue »