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blicar a Bibliotheca dos Authores, de que foi fecundissima May.»

¿Quaes forão os subsidios de que se aproveitou Machado para a sua Bibliotheca?

1.o O Catalogo de seiscentos e setenta e sete Authores, por Francisco Galvão de Mendanha, (fallecido em 1627), a quem Severim de Faria chamou grande benemerito dos Escritores Portuguezes.

2.o Catalogo dos Escritores Portuguezes, por Manoel de Faria e Souza. Este Catalogo constava de 823 Authores,-em quanto que o impresso da 4. Part. Cap. 18 do Epitome de las. Hist. Portug. consta unicamente de 206.

3.o Theatrum Lusitaniæ Litterarium, sive Bibliotheca Scriptorum omnium Lusitanorum, por João Soares de Brito. (Este mss. pára na Bibliotheca Imperial de París, e contém 876 nomes). N.B. Todas estas obras manuscriptas foram officiosamente subministradas a Machado, e dellas tirou o conveniente partido para a sua Bibliotheca.

4. Succinta noticia dos principaes Authores, que florecêrão em Portugal.... por D. Francisco Manoel de Mello.

Vem na 1. Carta da 4. Cent. das suas Cartas Familiares. 5. Noticia dos Authores Portuguezes, por João Franco Barreto. (Vej. Elogio de Achilles Estaço, e o Agiologio Lusitano, 3.o tomo).

6. Machado vio tambem 4 vol. mss. do Jesuita Francisco da Cruz, «onde, diz elle, confusamente estão lançadas as noticias, e muitas vezes em diversos logares repetidas. >>

N. B. Todos os trabalhos citados são anteriores ao seculo XVIII.

Dos trabalhos historico-litterarios do seculo XVIII aproveitou Machado todos os escriptos especiaes das differentes Religiões, colhendo delles todas as noticias que fazião ao seu proposito.

Alem das Obras impressas, e dos manuscriptos que encontrou nas Bibliothecas, confessa Barbosa ser devedor de interessantes noticias a diversos Religiosos, seus contemporaneos, os quaes << attendendo igualmente pela gloria da Patria, e da sua Religião» lhe communicárão importantes apontamentos.

Machado tinha tencionado escrever em Latim a Bibliotheca, e parece que havia já composto uma grande parte n'essa lingua ; felizmente, porém, mudou de opinião, e resolveu escrevê-la em

portuguez para que a utilidade, que se pode colher da lição d'esta obra, fosse a todos patente.

O modo por que Machado comprehendeu o destino e o alcance da Bibliotheca, he por elle manifestado no typo que concebeu para taes obras, e he o seguinte:

«N'ellas se fazem patentes as Patrias, que illustrárão com seus nacimentos, como os logares que forão religiosos depositos das suas cinzas. Relatão-se as acções memoraveis das suas vidas para documentos exemplares da vida moral, e politica. Com a luz sempre clara da chronologia se desterrão as sombras dos anacronismos, que confundem a verdadeira epocha dos annos. Restitue-se ao seu verdadeiro Author a obra injustamente uzurpada pela affectada Sciencia dos Plagiarios. Defende-se com fundamentos solidos o berço em que se animárão alguns de seus illustres filhos contra a opinião mal fundada de outras Nações ambiciosas de tão grande gloria. Apparece justificada a innocencia de outros, falsamente accusada no Tribunal da maledicencia. Declara-se o nome de muitos, modesta ou maliciosamente occulto, e com enigmaticas figuras de anagrammas, e letras iniciaes disfarçado. Resuscitão das urnas dos Archivos as obras mss. a quem a Arte Typographica negou o beneficio da luz publica. Ultimamente se assignão as diversas impressões de cada livro, e qual d'ellas seja a mais correcta e estimavel. Esta he a universal anathomia de uma Bibliotheca dividida nas partes organicas, que lhe formão o corpo, de cujo estudo forão Professores em todas as idades os primeiros Varões da Republica Litteraria, escrevendo uns genericamente a noticia dos Authores eminentes em diversas Faculdades, e naturaes de differentes Paizes; outros, contrahindo-se a menor esphera, applicárão as suas vigilias nos elogios de uma sagrada familia, ou illustre Nação, querendo com este obsequio eternisar as glorias da Mãe, de que nacerão espiritualmente para o Céo, e temporalmente para o Mundo. »

Tratando-se de uma obra tão importante, como he a Bibliotheca Lusitana, julgo indispensavel fornecer aos Leitores a maior somma de esclarecimentos.-Além do juizo critico, já transcripto acima, do Sr. Ferdinand Denis, lançaremos aqui o mais que a respeito de Barbosa pondéra aquelle illustre Litterato: «C'est un des Auteurs que l'on peut consulter avec sécurité, quand on s'occupe de la Littérature Portuguaise: em général, ses documens sont exacts, et ils sont fort nombreux. Comme il parait

avoir eu à sa disposition les ouvrages manuscrits de différentes Bibliothéques, il fournit une foule de détails précieux ignorés des autres biographes. La Bibliothéque Lusitanienne n'est pas assez fréquemment consultée, et il serait à souhaiter qu'elle guidât plus souvent les biographes français, quand il s'agit du Portugal. Barbosa a cependant adopté un plan qui ne rend pas son ouvrage aussi commode que nos dictionnaires historiques, surtout pour les étrangers; au lieu de procéder par ordre alphabétique, en désignant les noms de famille, il commence par la longue suite de noms de baptême de chaque écrivain; il est vrai que le biographe à la fin de son immense ouvrage a offert une espèce de compensation à ce système fatigant, en formant des listes d'auteurs, selon le genre de Littérature auquel ils appartiennent; de cette manière, ou peut embrasser d'un coup d'œil les poètes, les polygraphes; malheureusement ce travail est fortincomplet, puisque le numéro de la page ou il est traité de chaque écrivain ne se trouve point indiqué. » (Résumé de l'Histoire Littéraire de Portugal.)

O insigne Paschoal José de Mello, fazendo aliás o devido elogio ao Author da Bibliotheca Lusitana, termina comtudo assim: deinde eo vitio laborat (dicam fidenter quod sentio, id que fatentur Litterati omnes) quod Scriptores omnes promiscue, et sine delectu laudat, quod non nullos indignos, qui nominentur, refert, et quod omnibus, summis pariter atque infimis, pares laudes attribuit. Hist. Jur. Civ. Lus. Cap. 12. § 113. 2.a nota.

DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUEZA-publicado pela Academia Real das Sciencias. Lisboa. 1793.

Citâmos esta Obra importantissima, não obstante tratarmos da Historia Litteraria, por isso que alli se encontra um erudito e curiosissimo Catalogo de Authores Portuguezes, que se lêrão, e de que se tomárão as authoridades para a composição do mesmo Diccionario. Este precioso Catalogo, que deve considerar-se como um supplemento á Bibliotheca, trata mais das Lettras e Sciencias dos Authores, do que de suas vidas e acções particulares, e ainda com mais especialidade se occupa do tocante á pureza e elegancia da Lingua Portugueza. Como curiosidade da nossa Historia Litteraria, permitta-se que aqui transcrevamos o que a respeito da composição do Diccionario disse, em Sessão de 22 de Janeiro de 1843, o illustre Secretario perpetuo da Academia, o Sr. Joaquim José da Costa de Macedo: <«< Tres homens commetteram a em

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<«<preza, que occupou na França, por espaço de quarenta annos, «quarenta homens para ella pensionados; e a Academia imprimiu, «em 1793, o 1.° volume do Diccionario da Lingua Portugueza, <«< cuja vastidão colossal não teve prototypo, nem imitador, e que, segundo a opinião dos Sabios estrangeiros e nacionaes, que têem << voto na materia, é um dos maiores monumentos da nossa Lit<«<teratura. Tres homens sós o concluirão, e tal foi a generosi<«<dade de sua briosa dedicação ao serviço da Academia, que até <«<lhe fizerão o sacrificio da gloria que podião alcançar por suas <«< tarefas, não querendo que a Nação soubesse a quem devia um << trabalho que se publicava em nome da Academia. Tres homens «sós, que por premio se contentarão com um exemplar do Dic<«< cionario, como recebeu qualquer outro Socio; e dois dos quaes << (os Srs. Agostinho José da Costa de Macedo, e Bartholomeu Igna<«< cio Jorge) cegaram, em consequencia das fadigas insanas com que << um capricho fatal os fez levar ao cabo o proposito que tanto << havião tomado a peito; e o outro (o Sr. Pedro José da «Fonseca), a quem se deve o primeiro pensamento d'esta <«<grande Obra, para não perecer á mingua, nos ultimos annos <«<de sua vida, foi necessario que a Academia o soccorresse, a << titulo de compra de alguns livros, por não offender o seu me<< lindre. >>

«

Quantas e quão amargas reflexões não suscitão estas poucas, mas bem significativas palavras!

Mais adiante farei novamente menção d'este Escripto, quando indicar os trabalhos bibliographicos, e quando depois tratar da Critica Litteraria.

BOSQUEJO DA HISTORIA DA POESIA E LINGUA PORTUGUEZA -pelo Sr. João Baptista Leitão de Almeida Garrett.

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Ao lêr este precioso trabalho de um dos mais talentosos Litteratos de Portugal, acode logo ao pensamento o Elogio de Plutarcho, por Thomas:-« Évoque devant moi les grands hommes, je veux les voir et converser avec eux, etc.» -O Sr. Garrett, depois de algumas considerações sobre a nossa Lingua, começa a fazer desfilar ante o Leitor os grandes vultos dos nossos Poetas, e do modo mais energico e imaginoso nol-os dá a conhecer, apresentando-nos uma luminosa noticia das suas producções, as quaes avalia com a mais fina, atilada e judiciosa critica.

Terei occasião de mencionar novamente o Bosquejo, quando tratar da Critica Litteraria.

BOSQUEJO HISTORICO DE LITTERATURA CLASSICA GREGA, LATINA E PORTUGUEZA, para uso das Escholas-pelo Sr. A. C. Borges de Figueiredo. 1844.

O Sr. Figueiredo, considerando a Historia Litteraria como um dos poderosos meios de apurar o gosto da mocidade dedicada ás Lettras, inspirando-lhe, com a admiração dos modélos, o desejo de os estudar directamente, reconheceu a indispensabilidade de um livro elementar d'esta disciplina, e deu-se ao louvavel trabalho de traçar o Bosquejo.—He pois este livro uma obra elementar, e por esse motivo muito resumido. Sobresahem todavia n'esta recommendavel producção o methodo, a clareza de exposição, e a segurança de boa doutrina. (Deve notar-se que mencionamos esta Obra unicamente a respeito da parte em que trata da Litteratura Classica Portugueza.)

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NOTICIA SUCCINTA DOS MONUMENTOS DA LINGUA LATINA,

E DOS SUBSIDIOS NECESSARIOS PARA O ESTUDO DA MESMA

por José Vicente Gomes de Moura. Coimbra. 1823.

Com quanto esta riquissima Obra tenha por assumpto especial a Litteratura Latina, encerra todavia bastantes elementos, que podem ser aproveitados para a nossa Historia Litteraria, como por exemplo, interessantes noticias sobre os Latinistas Portuguezes, sobre os Diccionarios Latinos-Portuguezes, e Portuguezes-Latinos, sobre os Grammaticos Portuguezes, afóra um grande numero de bons principios sobre a Litteratura em geral. Mais de uma vez terei occasião de commemorar esta interessantissima obra.

-MEMORIA SOBRE O THEATRO PORTUGUEZ-por Francisco Manoel Trigoso de Aragão Morato.

Esta Memoria he digna do seu illustre Author, e contém mui judiciosas e apuradas noticias sobre a historia da nossa Litteratura Dramatica.-Nos primeiros quatro seculos da Monarchia não se encontrão vestigios de Theatro Portuguez. O primeiro trabalho, verdadeiramente dramatico, data do anno de 1502, e é composição do famoso Gil Vicente.-O Sr. Trigoso concede aos estrangeiros a prioridade dos seus Theatros nacionaes, com tanto que se lhe conceda que os primeiros, que entre elles promoverão este ramo de Litteratura, não tiverão uma influencia duradoura nos Authores dramaticos das suas, ou das

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