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<«<tivos habeo e teneo, um ou outro dos quaes, e até ambos jun<«<tamente, forão adoptados nas linguas modernas como auxilia«res do verbo. Ha todavia casos em que esta decomposição se explica muito bem, e póde suppôr-se que povos, pouco atten<«<tos á etymologia ou á correcção da linguagem, applicárão, por « uma grosseira analogia, o mesmo verbo em casos, em que ri<«<gorosamente não devia ser empregado. >>

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<< Depois das mudanças relativas à pronunciação, e á sub<«<stituição dos auxiliares ás inflexões do verbo, o emprego dos << artigos definido e indefinidos antes dos nomes parece ter sido «o passo mais agigantado da transição do latim para as linguas « derivadas. O latim he, creio eu, a unica lingua que não teve «artigos, e esta falta a que os romanos estavão habituados, ha<< via de ser um obstaculo insuperavel a povos que tinhão neces«sidade de traduzir o seu idioma nacional em latim. He de crer <«<que os habitantes das provincias romanas empregassem os ter«mos unus, ipse, ou ille para supprirem o artigo ainda que gros<«<seiramente; e que depois da introducção da grammatica das << hordas teutonicas, adoptassem uma corrupção que enchia uma << lacuna real e consideravel.

«..... Antes de haver o latim cessado de ser lingua viva, <«<já as leis da quantidade havião sido olvidadas, passando a ser << substituidas pela pronunciação accentuada... Sirvão de exemplo <«< os seguintes versos de Commodianus, author christão, que vi<«< via antes do fim do seculo 111, segundo uns, ou no reinado de « Constantino, segundo outros:

Præfatio nostra viam erranti demonstrat,
Respectumque bonum, cum venerit sæculi meta,
OEternum fieri, quod discredunt insçia corda.
Ego similiter erravi tempore multo,

Fana prosequendo, parentibus insciis ipsis.
Abstuli me tandem indé, legendo de lege.
Testificor Dominum, doleo, proh! civica turba
Inscia quod perdit, pergens deos quærere vanos.
Ob ea perdoctus ignaros instruo verum.

<«<He assás provavel que Commodianus escrevia em Africa, << provincia onde a pureza do latim estava mais alterada. No fim «do iv seculo atacou S. Agostinho os Donatistas, seus inimigos <«<de antiga data, com as mesmas armas quasi que Commodianus

<«tinha empregado contra o paganismo; mas já a esse tempo a << melodia elegante e variada do hexametro estava fóra do alcance «do vulgo, e por isso adoptou outra rima:

«

Abundantia peccatorum solet fratres conturbare;
Propter hoc Dominus noster voluit nos præmonere,
Comparans regnum cœlorum reticulo misso in mare,
Congreganti multos pisces, omnes genus hinc et inde,
Quos cùm traxissent ad littus, tunc cœperunt separare,
Bonos in vasa miserunt, reliquos malos in mare.

«A rapsodia que deixamos estampada no final do trecho an«tecedente, parece ser muito inferior ao talento de S. Agostinho, «mas em todo o caso não é muito posterior ao seu tempo.»>

Vamos confirmar esta doutrina com algumas citações do eloquente M. Villemain.

«Constatons d'abord un premier fait, c'est que la langue «latine était par sa nature, par ses formes savantes et comple«xes, promptement exposée à subir de graves altérations. Une <«<langue synthétique, comme l'appelle M. Schlegel, une langue «qui ne procède point par des moyens simples, analogues aux <«<besoins rigoureux des idées, mais qui, dans sa construction <«<habilement systématique, offre des cas nombreux, des désinen«ces variées, des verbes multiples dans leurs temps et dans leurs <«<modes, des inversions prolongées, une syntaxe artistiquement <«<combinée, une langue ainsi faite, à son plus beau période, est «susceptible d'une grande perfection oratoire et poétique. Mais «<sitôt que la barbarie et l'ignorance viennent la heurter, ce ma«gnifique édifice doit rapidement se dégrader et se détruire. «Pour changer ma comparaison, c'est un instrument musical, «délicat, compliqué, qui ne pouvait être touché que par un ar«tiste, et qui se dérange ou se brise sous des mains grossières «<et maladroites.>>

<«Que la langue latine, comme la langue grecque, ait été «difficile pour ceux même qui la parlaient de naissance; nul << doute à cet égard.»-E aqui adduz M. Villemain, como prova, o grande numero de tractados que havia sobre as declinações dos nomes e conjugações dos verbos, alguns sobre a analogia das palavras, sobre as locuções duvidosas-o longo e escrupuloso estudo que se consagrava á grammatica-diversidade de opiniões sobre a orthographia, e conclue:- «Ainsi, la langue

«latine était, en quelque sorte, de son vivant, exposée à mille al«térations, qui tenaient à la perfection même de sa contexture «primitive.»>

Mas, nas linguas ha uma certa tendencia progressiva para a clareza, para a ordem e para o methodo, a que Schlegel chama o caracter analytico, em contraposição ao synthetico, isto he, ás fórmas sabias da grammatica. Ora, no meio mesmo da sabia perfeição da lingua synthetica dos latinos, começárão já a apparecer umas certas disposições para dar á linguagem maior precisão, maior clareza. «Je vais en donner une preuve,―continúa «M. Villemain, assez curieuse, empruntée de Suétone. Il s'agit «toujours d'Auguste, dont vous voyez que nous faisons aujourd'hui «un maître de langue. Voici ce que rapport Suétone de sa manière d'écrire:

«Præcipuam curam duxit, sensum animi quàm apertissime exprimere: quod quò facilius efficeret, aut nec ubi lectorem vel auditorem obturbaret ac moraretur, neque præpositione verbis addere, neque conjunctiones sæpius iterare dubitavit, quæ detracto afferunt aliquid obscuritatis, et si gratiam augent. »

Ora se na lingua oratoria dos latinos se reconheceu uma certa obscuridade, e se entendeu ser necessario afastar essa elegancia habitual das fórmas grammaticaes, e chegar pouco a pouco á precisão e clareza das construcções modernas; por força de maior razão devia ser a linguagem vulgar menos correcta, menos elliptica, menos complicada do que a lingua sabia, e até do que a fallada entre as pessoas polidas da cidade de Roma, devendo, porém, notar-se que essas variações populares não formavão uma lingua separada, completa, estranha.

Como se estendeu, porém, tanto a lingua latina, como se fez a sua emancipação europea? «Ce fait sort de toutes parts. La «politique du sénat et de l'empire, qui respectait la religion des «peuples, voulait cependant les assimiler aux romains par la <«<langue et les mœurs.>> -¿Todas as classes dos vencidos aprendião do mesmo modo o latim, ou haveria differença no modo por que o povo abraçava o idioma dos conquistadores? — «Je <«<crois... que toute la classe noble, parmi les peuples vaincus, <«<apprit correctement la langue latine, et oublia presque la sienne. «Le grand nombre d'écrivains nés en Espagne et en Gaule, pen«dant les 2., 3., 4.o et 5.° siècles, en sont un preuve. Mais vous

«concevez qu'il n'en était pas de même du peuple. Il apprenait «le latin, comme il pouvait; il était bien obligé de la savoir, <«<puisque les ordres du maître étaient toujours promulgués dans «cette langue. Cependant, il gardait quelque souvenir de la «sienne; ou, quand il parlait la langue latine, il l'altérait à sa «manière.» — Cita depois uma prova desta alteração, deduzida de um conto de Apuleio. Um soldado romano encontra um quinteiro, que conduzia um burro sem carga, e lhe pergunta: Quorsùm ducis vacuum aselum? O quinteiro não intende; o soldado, irando-se, pergunta de outro modo: Ubi ducis asinum illum? E então he entendido. No primeiro caso o legionario fallou segundo as regras grammaticaes, e não foi comprehendido; no segundo commetteu um sollecismo, empregando ubi que denota logar sem movimento, em logar de quò que indica logar com movimento, e já o entendêrão. Faz isto vêr que essas distincções de significação, e outras subtilezas de grammatica excedião a capacidade dos vencidos, que aliás carecião de uma linguagem breve, clara e simples. Vê-se pois que a lingua se simplicava para ser aprendida, quepara se simplificar, se corrompia, e que por esta decadencia progressiva hia tendendo para a fórma das linguas modernas.

Se a conquista, se a politica dos romanos, tinhão sido parte para que se generalisasse a lingua latina, he todavia certo que outro mais poderoso elemento concorreu para este resultado, ao mesmo tempo que para a alterar e corromper. Qual elemento foi esse? Ouçâmos M. Villemain: «Une autre puissance que la «conquête militaire vint aider à la prodigieuse extension de la «<langue latine, et concourut à la modifier; car ces deux choses «marchèrent ensemble. Plus le latin se répandit, plus il s'altéra. <«<L'influence dont je parle, ce fut celle de la prédication et les <«<liturgies chrétiennes. Jamais les délégués et les instrumen s <«<de la puissance romaine n'avaient pu être aussi nombreux, <«<<aussi actifs, que l'étaient ces apôtres de croyance et ces maî«<tres de conscience, jetés par la foi nouvelle sur tous les points «du monde. Les édits d'un préteur, les harangues d'un général, <<tout cela n'était rien en comparaison de cet apostolat perpé<«<tuel et multiple. Ainsi, avec le christianisme, la langue latine, «qui, dans l'Occident, était seule la langue des prédicateurs, «<dut rapidement s'affermir et s'étendre, devenir plus familière «<aux peuples dejà soumis, et pénétrer chez ceux mêmes qui ne «l'étaient pas. Faudra-t-il rappeler que, dans l'ardeur de leur

«foi, ces prédicateurs devaient peu s'inquiéter de l'exactitude <«<grammaticale.>>

Terminaremos citando uma opinião de muito peso, qual he a do profundo filologo Bonamy (Mém. de Littérat. tirées des Registres de l'Académie Royale des Inscriptions et Belles-Lettres, tomo XXIV, pag. 594 e seg.)

<«<Mais il ne faut pas croire que le commun du peuple, et <«<ceux qui n'avaient pas étudié la langue latine, la parlassent pu«rement, il n'était pas possible que les gaulois n'y eussent mêlé «<quantité de mots de leur ancienne langue, et qu'ils n'eussent «altéré le génie de la romaine, telle que nous la voyons dans <«<les auteurs de la bonne latinité, en négligeant les régles de la <<grammaire pour ce qui est du régime des verbes et des pré«positions, et la manière de décliner les noms et de conjuguer «des verbs, enfin, en ajoutant aux mots, ou en retranchant des <<syllabes.>>

Apresenta Bonamy uma idéa que muito aclára esta doutrina. He obvio que a introducção da imprensa concorreu poderosamente para a fixação da pureza das linguas modernas, por isso que a leitura de discursos escriptos, favorecida pela prodigiosa propagação da imprensa, acostumou os povos á uniformidade da linguagem, á correcção grammatical, e á elegancia da phrase. A lingua latina partia, pela maior parte, de Roma para as provincias por meio da communicação oral, e muito se enganaria quem avaliasse os seus progressos pelo que succede hoje em cada uma das nações cultas da Europa, nas quaes, além da communicação oral, está estabelecida a corrente electrica da imprensa periodica, e andão nas mãos de todos um sem numero de livros, onde se aprende a lingua uniformemente, e sem o perigo das alterações, que tão frequentes são quando só se falla.

He neste sentido que Bonamy diz: «Le peuple des provinces <«<romaines n'avait pas ce secours, et si la langue latine s'étoit «polie, ce n'étoit que pour les habitans de Rome, ou pour ceux <«<qui l'avoient étudiée. Le vieux langage étoit resté dans les pro«vinces, qui ne connoissoient pas cette urbanité qu'il étoit plus «<aisé de sentir que de définir.... C'est du langage vulgaire des «provinces, (lingua rustica, vulgaris, militaris, provincialis, «usualis, sermo quotidianus, pedestris, rusticus) que se sont <«<formées les langues française, espagnole et italienne, et non «pas du latin que nous lisons dans les ouvrages des bons auteurs. «Ainsi, quiconque voudra chercher l'origine des mots de la lan

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