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-NOTICIAS DE PORTUGAL. VARIOS DISCURSOS POLITICOSpor Manoel Severim de Faria. Differentes edições. 1624. 1655. 1740. 1791.

Mais de uma vez mencionarei estes escriptos, em quanto á historia da Litteratura, Lingua, e Critica Litteraria.

N'este logar indico as noticias sobre as Universidades de Hespanha, que se encontrão no Discurso 5.o, §§ 1.° a 4.o; o Elogio de Fr. Bernardo de Brito; as vidas de João de Barros, de Diogo do Couto, e de Luiz de Camões. Mas havemos de occupar-nos mais detidamente d'esses Escriptos, que além da exposição biographica contêem observações criticas, quando tratarmos da Critica Litteraria.

Quando fallarmos da Lingua Portugueza, teremos occasião de nos referirmos ao Discurso 2.0, o qual tem por titulo:=Das partes que ha de haver na linguagem para ser perfeita, como a Portugueza as tem todas, e algumas com eminencia d'outras linguas.

Manoel Severim de Faria he um escriptor grave, muito erudito, e tem conceito e authoridade.

-CARTAS FAMILIARES-de D. Francisco Manoel de Mello. Centuria 4. Carta 1.a ao Doutor Manoel Themudo da Fonseca, escripta em 24 de Agosto de 1650.

Esta preciosa Carta teve por occasião o louvor que D. Francisco Manoel quiz liberalisar a Themudo, pelas suas Decisões Ecclesiasticas estampadas em Lisboa no anno de 1650. O author, depois de tecer elogios á obra de Themudo, e de encarecer o beneficio, já provado, de sua doutrina, censura os que só estimão os authores antigos e estrangeiros, e dá-se ao trabalho de demonstrar que não tanto n'este Reino, como nos estranhos, por onde estão repartidos nossos naturaes, vemos que deu, e está dando Portugal abalisados authores, que na Sciencias Divinas e Humanas, em umas e outras faculdades resplandecem.

Permitta-se-nos transcrever aqui um paragrapho d'esta Carta, que ao mesmo tempo revéla no author um nobre enthusiasmo pelas cousas portuguezas, e uma philosophia discreta, que a todos deve ser presente:

=«Esta he a razão, porque erradamente os homens, pelo menos desordenadamente, se empregão todos na estimação dos authores antigos, e estrangeiros, desamparando d'ella aos modernos, ou naturaes (queixa que já por nós fizérão outros). Eu

sigo differente opinião, achando tambem da minha parte a Seneca, que chama: Ladrão da virtude da natureza, áquelle, que cuida não póde ella formar hoje os homens, como antigamente. Tenho por sem duvida, que agora fazem mais os sabios em ser sabios; e tanto mais, quanto he menos o premio da sabedoria. Ser virtuoso quando a virtude se coroa, tambem podia ser ambição em trajos de bom costume; mas ser virtuoso quando a virtude se despréza, tal não póde ser, senão virtude.»>=

He bello hir vendo desfilar n'esta Carta, em nossa presença, um grande numero de homens, da epocha do author, ou proximos a esse periodo, illustres nos differentes ramos dos conhecimentos humanos. De vez em quando, vemos passar um author muito nosso conhecido, que ainda hoje admiramos, entre muitos que a posteridade não perfilhou; e não he raro que D. Francisco Manoel os caracterise a traços largos: Gabriel Pereira de Castro -«herdeiro dos antigos Epicos;» Francisco Rodrigues Lobo«de veia abundante e felicissima; » Francisco de Sá de Menezes -«heroico e candido Poeta;» Diogo do Couto-«insigne successor de João de Barros;» Jacinto Freire de Andrada-«escreva, ou traslade, sempre será com eminencia» etc., etc.

FLORES DE ESPAÑA, EXCELLENCIAS DE PORTUGAL por Antonio de Sousa de Macedo. 1631. 2.a ed. 1737.

Além do Capitulo-De la bondad de la habla, o lengua Portugueza-no qual o author tece o elogio da mesma lingua, ha n'esta obra outro muito interessante para a Historia Litteraria de Portugal, e he o 8.o, que tem por titulo-Del ingenio -no qual vem uma erudita enumeração de Portuguezes, illustres nas Sciencias, nas Letras, nas Artes, na Navegação, etc., e algumas informações a respeito da Universidade de Coimbra.

Grande prazer teriamos em particularisar algumas noticias d'esta obra, se não sentissemos uma certa repugnancia em praticar com um Escriptor portuguez, que engeitou a sua lingua, e escreveu em castelhano as excellencias de Portugal.

-AGIOLOGIO LUSITANO-pelo Licenciado Jorge Cardozo. 1652 a 1666. 3 vol.-O 4.° he continuado por D. Antonio Caetano de Sousa.

Agiologio he uma palavra grega, composta de agios e logos, que tanto val como Sermo de Sanctis, ou Tratado dos Santos. O fim a que se propôz Jorge Cardozo foi dar noticia, não só

dos Santos portuguezes, Canonisados ou Beatificados, mas tambem, e em grande parte, dos Varões de eminente virtude.

Para compor esta vasta e muito erudita obra, supposto que nem sempre de sã critica, recorreu Cardozo ás seguintes fontes: Martyrologios e Breviarios; Padres da Igreja, e Authores ecclesiasticos, que escrêverão vidas de Santos; Chronicas das Religiões; Escriptores castelhanos e portuguezes, sendo entre os ultimos: André de Rezende (De antiquitatibus Lusitaniæ); Gaspar Barreiros (Chorographia); João de Barros, e Diogo do Couto (Decadas); Fr. mador Arraez (Dialogos); Fr. João dos Santos (Ethiopia Oriental); Pedro de Mariz (Dialogos de varia historia); Duarte Nunes de Leão (Chronicas, e Descripção de Portugal); Fr. Bernardo de Brito, e Fr. Antonio Brandão (Monarquia Lusitana); Gaspar Estaço (Antiguidades); P. Antonio de Vasconcellos (Anacephaleosis dos Reis); e finalmente recorreu aos archivos, para examinar manuscriptos.'

Os commentarios a cada um dos dias do mez são de uma grande erudição, e muito instructivos sobre as cousas do nosso paiz.

Não obstante a natureza especial da Obra, encontrão-se alli algumas noticias historico-litterarias de muito proveito.

Repetidas vezes allude Cardozo a uma Historia Litteraria, que compoz, com o titulo de «Bibliotheca Lusitana» a qual necessariamente havia de ser muito rica de noticias, e abundante fonte de curiosos esclarecimentos.-Diogo Barbosa Machado não a pôde alcançar, mas assevera que Nicoláo Antonio a vira.

-MÉMOIRES HISTORIQUES, POLITIQUES, ET LITTÉRAIRES, CONcernant, LE PORTUGAL, ET TOUTES SES DÉPENDENCES: AVEC LA Bibliothèque DES ÉCRIVAINS ET des historiens de ces États -par M. le Chevalier d'Oliveira, Gentil-Homme Portugais. Haya. 1743.

A intenção do Cavalheiro d'Oliveira foi reunir tudo quanto os estrangeiros havião publicado até ao seu tempo, a respeito de Portugal, quer em bem, quer em mal, fazendo do seu trabalho uma excellente collecção de curiosas noticias, que, andando espa

1 Mencionámos tão especificadamente os Authores a que recorreu Cardozo, por isso que pretendemos apontar todas as fontes da Historia Litteraria de Portugal; e assim succede que recommendêmos aquelles Authores, alli indicados, embora d'elles não façâmos especial menção.

lhadas por tantos livros, de pouco serv em. No ultimo Capitulo de cada volume traz elle uma indicação de todos os Authores portuguezes, e dos de todas as nações, que expressamente escrcvêrão ácerca de Portugal, e suas possessões, com a noticia da maior parte dos manuscriptos e dos livros anonymos, relativos á Historia de Portugal. Esta ultima parte fornece algum subsidio para a Historia Litteraria.

ANNO HISTORICO, Diario Portuguez, noticia abreviada de pessoas grandes, e cousas notaveis de Portugal-pelo Padre Mestre, Francisco de Santa Maria. Publicado por Lourenço Justinianno da Annunciação. 1744.

Entre um grande numero de assumptos historicos, dá noticia de muitos Portuguezes insignes em Letras, bem como dos Poetas e Oradores mais singulares. Por este motivo mencionamos esta Obra, como fonte de alguns apontamentos para a Historia Litteraria.

Nota-se que não allega Escriptor, nem documento, d'onde tira as noticias que dá.

--CORPUS ILLUSTRIUM POETARUM LUSITANORUM, QUI LATINE SCRIPSERUNT, etc.-dada á luz pelo Padre Antonio dos Reis, e augmentada com as vidas dos Poetas-pelo Padre Manoel Monteiro. Lisboa. 1745.

Riquissima Obra he esta, pela preciosa collecção de tantos escriptos de Varões doutos, que entre nós escreverão na lingua latina. Honra muito o reinado de D. João v, e he um subsidio interessante para a nossa Historia Litteraria.

Vem primeiramente a biographia do Escriptor (Vita), contendo no fim a indicação dos Authores que d'elle fizerão menção; segue-se depois o Testimonia authorum, isto he, a transcripção dos elogios de que o Escriptor foi objecto da parte de diversos Authores; e a final encontrão-se as differentes producções em versos latinos-epistolæ, carmina, epigrammata, etc.

Julgo de grande interesse dar algumas noticias mais amplas sobre uma obra, hoje por ventura pouco lida, que faz grande honra ao reinado de Senhor D. João v.

No 1.o vol. são recolhidas as producções poeticas latinas de Pedro Sanches, Henrique Cayado, Manoel da Costa, Diogo Mendes de Vasconcellos, Miguel de Cabedo, Antonio de Cabedo.No 2.o as de João de Mello e Sousa.-No 3. as de Diogo de

Paiva de Andrada. -No 4.o as de Lopo Serram, e de Fr. Francisco de Barcellos.—No 5.o as de Fr. Thomé de Faria, Bispo de Targa, e as de Antonio Figueira Durão.-No 6.° as do famoso Fr. Francisco de Santo Agostinho Macedo. -No 7.° as de Fr. Francisco de Macedo, Jorge Coelho, e Antonio de Gouvéa.

Ainda hoje são lidas com prazer a maior parte das producções poeticas latinas do Corpus Illustr. Poet. Lusit. Folheando ao acaso, no momento em que estava escrevendo estas linhas, dei com estes bellos versos de Manoel da Costa, a proposito da restauração dos estudos na Universidade de Coimbra, no reinado. de D. João III:

Idem Lysiadum Mavortia corda suorum,
Quo paci propiora fôrent, mollire triumphis
Instituit sophiæ, et bellorum avertit amorem.
Nam qua se placido diffundit in æquora cursu
Munda inter virides campos, frondes que Minervæ:
Qua volucres vario clementem gutture mulcent
Æthera, certatim replicat Philomela querelas,
Ingente veteres sumptu renovavit Athenas:
Eximios que viros, qui sacra arcana revelent,
Pontificum Decreta, et Legum ænigmata pandant:
Qui morbos abigant, qui Cælum, et sidera monstrent,
Imperat acciri: Merces proponitur illis

Magna; sed est major Regi placuisse benigno

Gloria etc.

A fóra, porém, o merecimento real das producções poeticas, ha circumstancias especiaes, que tornão muito recommendavel esta collecção. Permitta-se-nos que n'este ponto nos demoremos um pouco.

Dissémos acima que no 5.o vol. vinhão as producções de Fr. Thomé de Faria, e são ellas nada menos do que a traducção latina dos Lusiadas de Camões.

Antonio Carvalho da Costa (Chorographia Portugueza), fallando de Fr. Thomé de Faria, diz: «E vendo o Illustrissimo Arcebispo de Lisboa, D. Miguel de Castro, ser o dito P. M. Varão tão douto nas Divinas e Humanas Letras, e um dos mayores Latinos, que teve este Reyno, o nomeou Bispo de Targa e seu Coadjutor. Traduzio os Lusiadas de Camões a instancia e persuação dos PP. da Companhia de Jesus, etc. »>=

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