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o castelhano ao portuguez, nem o portuguez ao castelhano deve a nova fórma da sua locução. >>

VITERBO.« Elucidario » (Advert. prelim.) Os documentos, que até aos fins do seculo XI entre nós se exarárão, quasi nada mais têem de latim que a inflexão alatinada dos mesmos termos com que o vulgo se exprimia. O Livro dos testamentos de Lorvão, o Livro Preto de Coimbra, o de D. Mumadona de Guimarães, os documentos de Pedroso, de Braga e outros muitos, que nos seus originaes se conservão, e que n'este Elucidario se accusão, não permittem hesitar, que a lingua portugueza era por este tempo o mesmo que a hespanhola, cujos monumentos Yepes, Flores, Risco, e outros até hoje publicados, nos offerecem antes uma verdadeira identidade, que uma mera similhança. >>

A imparcialidade nos fez transcrever aqui esta opinião, contraria ao que acima deixamos exposto; cumpre, porém, apresentar o reparo que a este respeito faz o erudito author das «Considerações sobre a Lingua Portugueza » já citado no meu anterior artigo: «A lingua portugueza foi na sua infancia muito parecida com a castelhana, e tanto, que, entre outros, o A. do Elucidario affirma na prefacção ao mesmo, serem ambas uma e a mesma lingua; e ainda que não accedo inteiramente a tal opinião, por sem duvida tenho, que em rasão da similhança, e de muitas locuções communs, grande proveito colherá o estudioso da lição dos documentos antigos em lingua castelhana, de que muitos se acham nos auctores citados, e muitos lançou Sousa no seu vol. das Provas da Hist. Geneal. Convirá por isso muito a lição do Fuero Juzgo, e das Leis das Partidas, fontes de muita de nossa legislação, e costumes patrios. >>

O SR. ALMEIDA GARRETT.-«Bosquejo da Hist. da Poes. e Ling. Port. »Grande similhança ha entre o portuguez e o castelhano; nem podia ser menos, quando suas capitaes origens são as mesmas e communs: porém, tão parecidas como são pelas raizes de derivação; no modo, no systema d'essas mesmas derivações, na combinação e amalgama de identicas substancias e principios se vê todavia que diversos agentes entraram, e que mui variado foi o resultado que a cada uma proveio. Filhas dos mesmos paes, diversamente educadas, distinctas feições, vario genio, porte e ademan tiveram: ha comtudo nas feições de ambas aquelle

ar de familia, que á prima vista se colhe.-Este ar de familia enganou os estrangeiros, que, sem mais profundar, decidiram logo que o portuguez não era lingua propria.

D. GREGORIO MAYANS Y SISCAR. « Origenes de la Lengua Española. >>

«El portuguès, aun que es dialecto distinto del castellano, «<es tan conforme a èl, que si uno abre un libro portuguès sin. «<saber que lo ès, suele suceder leer algunas clausulas creyendo «que es castellano. >>

Estamos conformes, visto como reconhece a independencia dos dois idiomas, e por outro lado não ha difficuldade em admittir a similhança, que se explica pelo facto da commum descendencia do iberico, celtico, phenicio, grego e punico, e das posteriores transformações operadas pelo idioma dos romanos, dos godos e dos arabes.

DENINA (L'ABBÉ CHARLES...) « La Clef des Langues, etc.>> Este author, que aliás considera o francez, o italiano, o portuguez e o castelhano como idiomas irmãos, derivados do latim, particularisa com bastante individuação os pontos de similhança e de diversidade, que se dão entre o castelhano e o portuguez, com referencia ao latim, sua origem commum. Vej. Tomo 2.o, parte 4., secção 1.", Art. 4.° e seguintes.

ALDRETE. « Del origen y principio de la Lengua Castellana, o Romance, que oy se usa en España. >>

No livro 2.o, cap. 3.o encontramos dois SS, que se referem ao assumpto de que vamos tratando, e são os seguintes:

<< La misma entiendo, que es, por que en Portugal ay otra «lengua diversa de la castellana, que sin duvida tiene mezcla de «la francesa. Pegoseles de los Franceses, que truxo consigo D. <«< Heurique primero, Conde de Portugal, quando D. Alonso el << sexto Emperador de España le dió aquel estado en dote con << Doña Teresa su hija...... El pegar-se algo de la lengua fran<«cesa fue facil, assi por ser ú Principe de la nacion, a cuyo exem«plo, y uso los vassallos se ajustan, y componen; y tambien, << por que en aquellos principios el Condado tuvo muy cortos ter«<minos, alargaronlos mucho los Reys successores, dando-les Dios <«< insignes victorias contra los moros, por las quales el nombre, y « esfuerço portugues es muy celebre, e alabado en el mundo. »

« Bien sè que otros atribuen lo particular de aquella lengua << a la comunicacion de Galizia, donde la antigua parece la misma << que la portuguesa, y la vezindad, y averse desde començado la <«< conquista, fué la causa de dilatarse la lengua. A que pueden <«<a adir, que en Galizia varió la lengua, por aver puesto en ella << su reino los suevos, y assi fue causa que la latina se corrompiesse en aquella forma. Pero tiengo por mas cierto lo pri<«<mero; pues no ay razon, para que en Portugal se aya conser«< vado assi, y en Galizia no, si fuè la de Galizia la misma que << la portuguesa. »

Basta, porém, o que deixamos apontado para concluirmos que a lingua portugueza é uma lingua sobre si, e independente.

Passemos agora a tratar da sua filiação. A este respeito temos por mais methodico apresentar: 1.° a resenha dos authores que considerão a lingua portugueza como filha da latina; 2.o, a dos que impugnão esta filiação; 3.o, um extracto, succinto mas fiel, da Memoria do Sr. S. Luiz, e da refutação da mesma por um author anonymo; 4.° um circumstanciado exame das questões ethnographicas, que este assumpto suggére.

CAPITULO IV.

FILIAÇÃO DA LINGUA PORTUGUEZA.

Les Italiens, les Français, les Espagnols ont reçu des Romains leur civilisation et leur langage; les Allemands, les Suisses, les Anglais, les Suédois, les Danois et les Hollandais sont des peuples tentoniques; enfin, parmi les Esclavons, les Polonais et les Russes occupent le premier rang.

M.ME DE STAEL. De l'Allemagne.

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AUTHORES QUE OPinÃO PELA FILIAÇÃO LATINA.

BARROS. «Gram. da Ling. Port. » — a

da nossa linguagem. >>

• Dialogo em louvor

«..... Usando dos termos da Gram. Lat., cujos nós somos,

por não degenerar d'ella. >>

FERREIRA. «Poemas Lusitanos. »

« Docemente suspira, doce canta
A Portugueza Musa, filha, herdeira
Da Grega, e da Latina, que assi espanta. »

CAMÕES. «Lusiadas. >>

« E na lingua, na qual quando imagina,
Com pouca corrupção crê que he Latina.
C. 1.o est. 33.

-MANOEL CORRÊA. Os Lusiadas de Luiz de Camões, commentados.

No Com. á est. 33, Canto 1.° dos Lusiadas, diz assim:

«..... E por isto diz aqui Luiz de Camões, que era Venus affeiçoada aos Portuguezes, por que via nelles partes, em que se parecião com os Romanos: assi nas cousas da milicia, como na lingua, a qual se parece muito com a Latina. E os que entendem o Latim, vem isto claramente: porque de todas as linguas de Europa, tirada a Toscana (inda que tambem anda muito corrupta) a Portuguesa tira mais ao Latim. E mais pura fora, se os Mouros não entrarão em Portugal. Assi o tem Francisco Tamara no liuro primeiro dos costumes de todas as gentes, capitulo 7. E Pero de Magalhães em hum dialogo que fez em defensão e louvor da lingua portuguesa. O qual está no fim de sua orthographia: e João de Barros na sua Grammatica Portuguesa, em hum Dialogo que fez em louvor da mesma lingua. »=

-Duarte Nunes dE LEÃO. «Orig. da Ling. Port.»

<«< Sendo pois a lingua portugueza na origem latina, e reformada muitas vezes, e ampliada de vocabulos, de que careciamos, por a corrupção que os Godos nella fizerão sem nenhum pejo, e com mais honra nossa nos devemos aproveitar della, como filhos, que dos bens paternos se ajudão mais sem affronta sua, o que não farião dos estranhos. >>

MANOEL SEVERIM DE FARIA. Discurso 2.° « Das partes que hade haver na lingoagem para ser perfeita, como a Portugueza as tem todas, e algumas com eminencia de outras lingoas. >>

«A lingoa Latina se corrompeo em Italia, França e Hes

pauha, por varios modos. Porem na lingoa Portugueza, e Castelhana está o Latim menos viciado, que na Italiana, e Francesa; porque os Italianos nenhum nome, ou verbo, acabão em consoante, senão em vogal, com que notoriamente ficão corrompendo a mór parte dos vocabulos latinos. E os Francezes pelo contrario admittirão tantas consoantes, nos finaes, que por esta via a não descompuserão menos, acabando muitas palavras em f; e pela visinhança que tem com os Alemães participárão tambem muitos termos da lingoa Theutonica, que não tem nenhuma origem, nem affinidade com a latina, pelo que em nenhuma dellas se achão tantos nomes Latinos em sua inteiresa, como na nossa Lingoa, e Castelhana, e na nossa particularmente podemos compôr muitas orações, e periodos, que juntamente sejão Latinos, e Portugueses, como se vê destas palavras: O'quam gloriosas memorias publico, etc.

MANUEL DE FARIA E SOUSA. «Lusiadas de Luis de Camoens, Principe de los Poetas de España, commentadas por Manuel de Faria e Sousa.>>

No Comment. aos dous ultimos versos da Est. 33, canto 1.o, dos Lusiadas, diz Faria e Sousa:

=«<A algunos parece passion del Poeta el hazer tan llegada la lengua Portuguesa a la Latina. Muchos hombres doctos confessaron que ella se le llegava. Entre ellos Francisco Tamara en el cap. 7 del lib. 1.o de los usos de las naciones: piensan otros, que la Italiana es mas llegada. I verdaderamente nos acordamos aver leido en dos Autores Italianos (de los de estima) que la nuestra se llegava màs que todas al Latin. De que cremos uno era Anibal Caro en una epistola, i el otro de todo punto se nos olvida. No lo defendemos, porque no parezca passion. Dezimos solo, que esta lengua era casi Latina al tiempo que entró el Conde don Enrique, por quanto todas las escrituras se hazian en el Latin que entonces se usava; i de andar tanto en Ministros, i officiales de justicia, se occasionava el derramarse por la otra gente. Con la entrada del Conde, como èl era Frances, i casado con Setora Castella`a, llevado su casa cõpuesta destas dos naciones, i mezclandose sus lenguas con aquella que usavamos, q era un latin corrupto, se quedó componiendo de quatro: i por esso en ella con particularidad se hallan palabras Latinas en mucho numero, Castellanas en no pequeño, i Francesas algunas.... El docto Manuel Severim de Faria, Chantre en la S. Iglesia de

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