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jugo da rima, ou do sonoro zum-zum dos consoantes, a que todos estavam servilmente ligados. >>

<«<Finalmente o estudo dos nossos antigos Poetas, e o da linguagem patria era huma lição todos os dias inculcada na Arcadia, e que Diniz repetio por hum modo muito engenhoso e engraçado naquelle Dithyrambo, em que brindando separadamente a cada hum dos insignes Poetas Pòrtuguezes, exceptua o Montemaior, por ter escrito a sua Diana no idioma Castelhano. >>

Eis como Trigoso termina a sua Memoria: «O fim desta Sociedade em 1776 prende-se naturalmente com o principio da Academia Real das Sciencias em 1779. O illustrado Fundador desta Academia quiz que as Bellas Lettras formassem huma das tres Classes em que sabiamente a dividio; e os novos Socios amparando ou cultivando estes estudos, caminhárão pela mesma estrada dos Arcades, e tem diffundido cada vez mais nesta Nação o brilhante lume, que elles primeiro accenderão. Mas se a Academia não póde, nem deve ser insensivel ao justo tributo de louvor, que lhe tem dado os Sabios Portuguezes e Estrangeiros, tambem deve soffrer sem rubor, e ainda com festival reconhecimento, que vivão honrosamente na posteridade os nomes daquelles varões, que a precedêrão na sua gloriosa empreza; e que segando primeiro as venenosas plantas que cobrião o vasto campo da nossa Litteratura, abrírão assim a illustre época da sua restauração. >>=

Veja-se tambem o bello artigo, que vem no Panorama n.o 164 do anno de 1840, e tem por titulo-Academia da Arcadia Portugueza. O author desse excellente artigo conseguio substanciar em resumido, mas animado quadro, a Memoria de Trigoso.

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Para instrucção dos Leitores, que de prompto não tiverem á mão as Memorias da Acad. R. das Sc. de Lisboa, lançaremos aqui o

Catalogo de alguns socios da Arcadia de Lisboa.

* Antonio Diniz da Cruz e Silva. . . . . Elpino Nenacriense.

*

Manoel Nicoláo Esteves Negrão.

⭑* Theotonio Gomes de Carvalho...
Pedro Antonio Correa Garção...
Domingos dos Reis Quita.
Manoel de Figueiredo.

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José Gonçalves de Moraes..

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José Dias Pereira..

Silvano Ericino.

Silvestre Gonçalves da Silva Aguiar. . Siveno Cario.

José Caetano de Mesquita...

Feliciano Alves da Costa.

Francisco José Freire.....

Metatesio Clesmenio.
Memeroso Cylenio.

Candido Lusitano.

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Luiz Correa de França e Amaral..... Melizeu Cylenio.
Francisco de Sales..

Titiro Partiniense.

Mariano Borgonzoni Martelli . . . . . . . Mirtilo Felsineu.
José Xavier de Valladares e Sousa. . . Sincero Serabriense.
Manoel Pereira de Faria..
Silvio Aquacelano.

D. Vicente de Sousa...
Damião José Saraiva..

...

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Mirtilo.

Dameta.

.... Montano.
Melibeu.

Gaspar Pinheiro da Camara Manoel.
José Soares de Avelar.

Padre Manoel de Macedo.

O Conego D. Joaquim Bernardes...

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Os tres primeiros Arcades, a cujo nome posémos o signal *, são os fundadores da Arcadia; tendo os dous primeiros conferido entre si, e depois com o terceiro, sobre o estabelecimento de uma tal Sociedade.

De Francisco José Freire, Candido Lusitano, são bem conhecidas a Arte Poetica, o Diccionario Poetico, as Maximas sobre a Arte Oratoria. Veja-se o erudito Prologo do Sr. Rivara, e o Catalogo de todas as obras de Candido Lusitano, nas Reflexões sobre a Lingua Portugueza, escriptas por este último, e publicadas em Lisboa no anno de 1842 pela Sociedade dos Co

nhecimentos uteis.

De Garção, Coridão Erimantheo, temos as Dissertações sobre a importancia e verdadeiro caracter da Tragedia, e outros escriptos sobre o modo de imitar os melhores authores da antiguidade, e dos portuguezes; bem como são conhecidas as suas obras poeticas.

De Antonio Diniz da Cruz, Elpino Nonacriense, temos o Hyssope, as Odes Pindaricas, Poesias, e Dissertações sobre o estylo das Eclogas.

De Manoel de Figueiredo, Obras Posthumas.

De Luiz Correia da França, Domingos dos Reis Quita, Theotonio Gomes de Carvalho, e de Mariano Borgonzoni, correm impressas algumas composições do tempo da Arcadia.

Academia dos Generosos.

=<<Em Portugal, diz Bluteau, D. Antonio Alvares da Cunha, Trinchante Mor de S. M., fez em sua casa Academias, a que chamárão dos Generosos. Tiverão principio no anno de 1647; e durárão successivamente todos estes sem interpolação até o anno de 1668; ao depois as tornou a fazer o anno de 85, e 86 com o mesmo appellido de Generosos. Por sua morte ficou D. Luiz da Cunha, glorioso herdeiro da erudição paterna, e como tal, com grande concurso, e applauso restaurou a dita Academia, sendo Secretario o Conde de Villar Mayor. No anno de 1696 na Livraria do Conde da Ericeira D. Francisco Xavier de Menezes se instituio outra Academia Portugueza com o titulo de Conferencias Discretas em que aos Domingos á noite a mais illustre, e erudita Nobreza do Reyno se ajuntava a examinar, e resolver questoens Physicas, e Moraes; e para mayor elegancia da sua prosa, e poesia nacional, decedia as difficuldades, que se propunhão sobre a propria significação dos vocabulos da sua lingoa. >> (Vocabul. Verb. Academia.)

-«<Assentárão os Scientes de Lisboa juntar-se aos Domingos em a Livraria do Conde da Ericeira, a quem elegerão Secretario, e conferirem em materias scientificas, reduzidas a forma Academica, e tratadas em Discursos, e Dissertações na exposição critica dos melhores authores, em questoens Filosoficas, e Problemas Mathematicos, em metros a varios assumptos, e sobre tudo em palavras da lingua Portugueza, ou já introduzidas com significação propria, ou já antiquadas, ou ainda não admittidas. >> (Formulario do Assento registado no Livro das Conferencias Eruditas, que se celebrárão na Livraria

do Conde da Ericeira desde 12 de Fevereiro de 1696.)

Mayor admiração merece, e melhor successo teve a inextinguivel Academia do Generosos, que com a empreza de uma vela acceza, e por mote Non extinguetur, prometteo, e vay conservando huma luz immortal; porque desde a sua instituição no anno de 1647, ha mais de 70 annos, que se perpetúa, e hoje torna a sahir mais luzida, com o mesmo titulo de Generosos, etc. (Preambulo da renovação da Acad. dos Generosos nas

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casas do Conde da Ericeira D. Francisco Xavier

de Menezes, pelo Padre D. Rafael Bluteau, anno de 1717.)

No periodo de 1696 por diante, diz Bluteau, que frequentavão a Academia dos Generosos o Marquez de Alegrete, Manoel Telles; D. Francisco de Sousa, Capitão da Guarda; José de Faria; Luiz do Couto Felix, Guarda Mór da Torre do Tombo; Manoel Gomes da Palma, Jurisconsulto; Ignacio da Silva.«Estes, e outros muitos alumnos de Minerva logravão todos os Domingos humas noites Athicas, a que não ousara Aulo-Gellio preferir as suas. >>

Depois de alguns annos de interrupção- « refloreceo a Academia dos Generosos, no anno de 1717, da qual he hoje Secretario o mesmo Conde da Ericeira, assistido de alguns vinte Mestres, que todas as quintas feiras lem em duas Cadeiras oraçoens sobre as materias, que elles escolherão para exercitar o talento, e instruir o auditorio. »—

(Bluteau. Prosas Academicas.)

Se compararmos os assumptos tratados nestas Conferencias com os da Academia dos Singulares, encontraremos uma differença muito sensivel a favor dos Generosos. Acertadamente o diz Bluteau: «Não he lastima e desgraça grande ver entendimentos tão elevados, desvelados em representar o infortunio de huma Dama, que tendo bons olhos, não tinha nem hum dente, e encarecer o máo gosto de hum moço, namorado de huma Dama, por ser calva? Destes e outros frivolos assumptos estão cheas as obras dos nossos Academicos etc. »>

Vamos agora dar uma noticia da Academia dos Singulares.

Academia dos Singulares.

No Prologo do Livro intitulado Academias dos Singulares, se dá a razão por que os respectivos Academicos adoptárão uma

denominação que parece extravagante. « Com epitetos particulares se appellidárão todos os Academicos do mundo; Confiados se chamárão os de Pavia, Declarados os de Sena, Elevados os de Ferrara, Inflamados os de Padua, Unidos os de Venesa..... Á imitação destas Academias se nomeárão os sujeitos deste livro (Singulares), não porque presumão de unicos nos talentos, mast por que são singulares na occupação. »>=

O mencionado livro-Academias dos Singulares de Lisboa dedicadas a Apollo, 1665 e 1668. dá informação sobre o estabelecimento, nomes dos Socios, e fim da Academia.

A primeira conferencia da Academia teve logar no dia 4 de Outubro de 1663, e finalizou em 24 de Fevereiro de 1664; recomeçárão depois as conferencias em 9 de Outubro deste ultimo anno, e concluirão-se em 19 de Fevereiro de 1665.

A empreza da Academia era uma pyramide em que estavão escriptos, desde a base, os nomes de Homero, Aristoteles, Virgilio, Ovidio, Horacio, Camões, Garcilasso, Gongora e Lope, com a letra: Solaque non possunt hæc monumenta mori.

Para darmos aos nossos Leitores, que ainda não tiverem visto aquella obra, uma idéa do theor e alcance dos trabalhos da Academia, diremos duas palavras.

O primeiro presidente foi Sebastião da Fonseca, seguirão-se João Ayres de Moraes, Luiz Bulhão, João da Costa Cáceres, Simão Cardoso Pereira, André Rodrigues de Mattos, Antonio Marques, Pedro Duarte Ferrão, João de Almeida Soares, Bartholomeu de Faria etc.

Começava a conferencia por um discurso do presidente, seguia-se a leitura de algumas poesias em louvor deste, e ultimamente recitavão os Academicos uma composição poetica sobre o assumpto que havia sido escolhido para aquelle dia.

Os assumptos escolhidos para as Academias erão todos jocoserios, e pela maior parte frivolos. Por exemplo: Foi assumpto da 1.a academia; uma dama, a quem pedindo Fabio uma prenda, soltou o cabello, e lhe deu com a mão uma figa; da 2.a foi assumpto a convalescença de Amarilis; da 3.a foi assumpto uma dama, que expellindo da bocca uma folha de rosa, que nella tinha, se lhe poz em uma face. O demais no mesmo gosto.

Os discursos dos presidentes são, em verdade, ricos de boa linguagem, mas recheados em demasia de textos latinos, e escriptos n'um estilo exagerado e insupportavel, de antitheses, de conceitos, de hyperboles, e de semsaborias.« Entrárão na abra

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