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via certo que á Historia Litteraria em geral interessão muito semelhantes noticias, e maiormente quando são subministradas por escriptores tão competentes e authorisados, como era Paschoal José de Mello.

VARIAS ANTIGUIDADES DE PORTUGAL-autor Gaspar Estaço. Lisboa. Por Pedro Crasbeeck, Impressor del Rey. Anno, Doni MDCXXV.

No Prologo diz o Author, dando conta do motivo por que escreve as Varias Antiguidades: « Sam Damaso Papa, gloria, e resplendor da naçam Portugueza escrevendo a Sam Jeronimo diz, que ler sem escrever é dormir. No qual sono estando eu, como estam muitos Portuguezes, espertou-me o dito de tam grave Pontifice Portuguez, e de varios livros, pergaminhos, e papeis ajuntei algumas cousas antigas, que estavam já postas de parte, conjecturando, que ordenadas, e vestidas de novas cores podiam tornar á praça, e nam parecer mal, como arvores de Ou

tono com seu renovo. >>

Gaspar Estaço dá noticias muito curiosas de diversas antiguidades de Portugal, e aqui e acolá apresenta algumas indicações para a Historia Litteraria de Portugal.-Assim, por exemplo, no Cap. 21, citando a Chronica d'ElRei D. Affonso Henriques, que Duarte Galvão dedicou a ElRei D. Manoel, diz assim: « da qual elle nam foi autor, se nam apurador do antigo lin«goage, en q andava, como diz Joam de Barros. Espâtame dizer << Duarte Galvam, que elle a fez de novo, porque o Chronista << Fernam Lopes escrivam da puridade, que foi do Infante Santo << dom Fernando, e guarda mór da torre do tombo fez todas as << chronicas dos Reis té seu tempo, começando do Côde dom Hen<«<rique, como prova Damiam de Goes, e nam se pode crer, que << dexasse de fazer a do primeiro Rei de Portugal dom Affonso << Henriques, fazendo a do Conde seu Pai, e todas as mais. Pello <«<que se Duarte Galvam foi apurador, segundo Joam de Barros, <«<ninguem foi o autor senam Fernam Lopes, e hagora em nos<< sos dias Duarte Nunes o reformador. >>

No Cap. 44 dá noticias muito curiosas sobre o merecimento, e trabalhos litterarios de André de Resende, e de Achilles Estaço, discipulo daquelle.

O Cap. 45 tem por titulo: Do proveito das Universidades: que ellas fazem os escritores, e que a de Coimbra pouco depois de começar, começou logo de acabar.

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Lamenta em primeiro logar que André de Resende não fosse devidamente incitado com as merecidas recompensas, pois que d'outra sorte fizera muito em beneficio da patria, e dexára de ser pobre, de que alguas vezes se queixa, porque os serviços, en que vai o gosto do Rei, e honra da Republica, não podẽ carecer de bom premio.

Recorda a generosidade de Alexandre para com Aristoteles, a quem aquelle grande Soberano deu oitocentos talentos por escrever a historia dos animaes; e diz depois : « Mas porq as incli«nações dos Principes sam differentes, e nem todos os Reis são « Alexandros, quero aqui lembrar a grande comodidade, ğ para <«<isto traze as universidades be ordenadas, em que ha professo<< res publicos, e salariados de todas as artes, e sciencias dedica<< dos cada qual á liçam de sua faculdade, para o q a emulaçam, <«<e opposiçam os faz mais idoneos, como já houve na de Coim«bra, q depois lhe foram tirados, dexado sómete os de theolo«gia, Canones, leis, e medicina.—Podese quexar a sagrada theo<«<logia, pola privare da côpanhia, e ornato da mathematica, «philosophia, logica, rhetorica, e as mais artes deste genero li<«<das por taes professores, que Santo Thomas, e S. Dionysio <«< Areopagita lhe dam por ancillas. E nôs tambè nos podemos «quexar pello q se nos tirou cò as taes artes, q nisto se verá <«< claramente, porque ellas deram aos Socrates, Aristoteles, De<«<mosthenes, Thucydides, Catões, Tullios, Livios, Cyprianos, <«< Hieronymos, Agustinhos, Osorios, e infinidade de escrittores <«< outros, cujas obras nam se pode explicar de quanta utilidade <«< sejam. Dos quaes homens ha neste Reino grande falta, e es<«<pecialmète vemos, que vem estrangeiros a Portugal a escrever <«< nossas cousas, como se fossemos nós alguns barbaros, ou Por<«<tugal nam criasse engenhos, que applicandose o podessem fa<«<zer muito melhor, como hum Andre de Resende, hum Diogo « de Teve, e outros muitos, q poderamos ter, se a universidade << perseverara na orde, en q começou cô mestres eminentissimos << de letras humanas, cujos discipulos assi nas lingoas latina, e «<e Grega, como na philosophia deram a este Reino nam peque«no lustre, e honra, como notou Francisco de Andrada. >>

Este Capitulo 45 he interessantissimo com referencia á historia da Universidade de Coimbra. (Veja o Ensaio do sr. Freire de Carvalho.)

Anda junto com as Varias Antiguidades um escripto do mesmo Author, que tem por titulo: Trattado da linhagem dos

Estaços, naturaes da Cidade de Evora. Interessa este escripto á Historia Litteraria, por dar noticias historicas sobre os ascendentes de dous homens illustres nas Lettras, Gaspar Estaço, e Achilles Estaço.

ACADEMIA, SEU RESPUBLICA LITTERARIA.....-Authore D. Benedicto Pereyra Societatis Jesu. Ulyssipone.—Ex of ficina, et sumptibus Antonii Craesbeeck de Mello. Anno 1662.

Julguei indispensavel fazer menção desta obra de Bento Pereira, por isso que o assumpto sobre que versa interessa á Lit

teratura.

Para dar uma ideia desta obra, na qual o seu Author despendeu uma vasta erudição, indicarei aqui os objectos dos Livros, em que ella he dividida.—0 1.° Livro tem por titulo: De essentia, institutione et nobilitate Academiæ;-o 2.°: De legibus, et statutis Academiæ;-o 3.o: De privilegiis et privilegialis;-0 4.0: De exercitio lit erarum in ludis, et certaminibus;-o 5.0: De Rectore Academia;-o 6.°: De Cancellario et Gymnasiarcha;-o 7.°: De Conservatore; -o 8.°: De Doctoribus et Magistris;-o 9.°: De Scholasticis tam discipulis, quàm auditoribus;-0 10.°: De Collegiis et Præbendatis. Cada um dos Livros he dividido em Disputationes, e estas em Quæstiones, tratadas em numeros separados.

He força confessar que o maior numero das questões, tratadas naquelle Livro, perdêrão já a opportunidade, em consequencia da nova organisação dada ao ensino publico, e aos estudos Universitarios e Academicos, desde os fins do seculo passado e no actual. Querendo-se, porém, estudar a organisação das Universidades e Academias dos seculos anteriores, e nomeadamente do 17.0, e da primeira parte do 18.°, encontrar-se-hão no Livro de Bento Pereira bastantes elementos, noticias e doutrina.

A questão 5. (3. Disp. Liv. 1.) tem por titulo: Quale fuerit judicium magnorum Principum de utilitate Academiæ Conimbricensis; e nelle são indicados alguns documentos, que fazem honra a D. Diniz, e a D. Affonso 4.o, e a alguns Soberanos Pontifices, com relação á Universidade de Coimbra; bem como na Questão 6.a cita varios documentos muito honrosos á memoria de alguns Pontifices, e ao Cardeal Infante D. Henrique, com referencia ao Collegio e Universidade de Evora.

MEMORIA ESTATISTICA ÁCERCA DA NOTAVEL VILLA DE MONTE-MÓR o Novo-por Joaquim José Varella.

O Artigo 3.o desta Memoria traz um Cathalogo, por ordem alphabetica, dos Illustres Escriptores de Monte Mór o Novo.

DESCRIPÇÃO HISTORICA E ECONOMICA DA VILLA E TERMO DE TORRES VEDRAS-por Manoel Agostinho Madeira Torres.

Na ultima parte do Capitulo 9.° accrescenta o Author á lista dos Escriptores respectivos, que traz Barbosa na Bibliotheca Lusitana, os nomes de outros que o Abbade de Sever não mencionou.

Apresenta depois um Catalogo dos homens de Lettras, não escriptores.

N. B. Estas duas Mem. encontrão-se na Collecção das da Academ. Real das Sciencias de Lisboa.

BÉJA NO ANNO DE 1845, OU PRIMEIROS TRAÇOS ESTATISTICOS DAQUELLA CIDADE. Funchal 1847por José Silvestre Ribeiro.

O Capitulo 7.o deste opusculo traz uma lista dos principaes Sabios e Litteratos, naturaes da Cidade de Béja, com uma breve, mas substancial noticia dos titulos que os recommendão á posteridade.

Ao AO ILL.NO E EX.MO SR. MARQUEZ DE POMBAL, EM AGRADECIMENTO DE BENEFICIOS RECEBIDOS- Oração por Joaquim José de Miranda Rebello. Lisboa 1773.

He um panegirico eloquente do grande Marquez de Pombal, por vezes empolado em demazia, mas rico de considerações sobre o estado das Sciencias e das Lettras nos differentes seculos.

Querendo fazer sobresahir as reformas do immortal Ministro, desenha com grande vivacidade a anterior situação scientifica e litteraria de Portugal:= « Reduzidos os espiritos a hum voluntario captiveiro, se propagava universalmente aquelle gosto depravado, que obrigava a reputar por culpavel atrevimento o innocente, e necessario uso do nosso juizo. Entre os nossos não havia cousa mais estranha, que o pensar per si mesmo.................... Dispostos assim os animos a tudo subtilizarem, e nada comprehenderem; esquecendo de proposito fazer separação do util e

do prolixo; estabelecido o systema de empregar huma vida inteira em entender tudo quanto de sua natureza fosse inintelligivel, tomados por justos instrumentos os que só servissem para tudo ignorar, passavam os nossos illudidos, ainda que applicados, a penetrar os importantes mysterios das tres grandes sciencias.»>=

DESCRIPÇÃO HISTORICA E TOPOGRAPHICA DA Cidade de PENAFIEL-por Antonio d'Almeida.

He sabido que por Carta de Lei de 17 de Março de 1770 foi creada a Povoação de Arrifana de Sousa em Cidade de Penafiel.

O Author da Memoria trata pois primeiramente de Arrifana de Sousa, e depois se occupa com as noticias relativas à Cidade de Penafiel. No Cap. 15 trata das pessoas que mais se distinguírão em Arrifana de Sousa, e ahi apresenta a biographia daquellas que se tornárão mais notaveis e illustres nas Lettras. Da epocha posterior á creação da Cidade de Penafiel não menciona pessoa alguma recommendavel na republica litteraria.

(Vem nas Mem. da Acad. Real das Sciencias de Lisboa.) DESCRIPÇÃO TOPOGRAPHICA E HISTORICA DA CIDADE DO PORTO....por Agostinho Rebello da Costa. Porto 1789.

O Capitulo 9.o desta obra he consagrado a enumerar os Homens illustres em Lettras, e Armas, que a Cidade do Porto produzíra até aos fins do seculo 18.o O Author, attendendo a que nos estreitos limites de uma breve Descripção não cabia apresentar longos desenvolvimentos biographicos e criticos, mencionou apenas os que julgou mais dignos de attenção, indicando sem a devida separação os distinctos em Litteratura, e os famosos em Armas, pois que o maior numero delles exercitárão hum e outro emprego. O Catalogo que o Author apresenta he interessante, porque reune em um só quadro os homens notaveis, que na segunda Cidade do Reino tiverão nascimento; mas he muito escasso de noticias.

O Capitulo 10.o da mesma obra traz uma noticia das Mulheres illustres em virtudes, em sabedoria, e outras raras qualidades, que nascérão na Cidade do Porto.

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