IX reservar para o segundo algumas cousas, cuja exposição, convenientemente desenvolvida, tornaria muito volumoso o primeiro. No segundo tomo concluirei a restante parte do que respeita á nossa Lingua, e largamente me occuparei da Critica Litteraria ; passando depois a percorrer as outras provincias da nossa Litteratura. He mais do que ousada a minha deliberação, passa a ser temeraria, e desassisada, se a méço pela minha insufficiencia; mas concebo a esperança de que me será levada em conta a boa vontade, com que me prestei a ser util ás nossas Lettras, abrindo uma estreita veréda, atravez de campos que não forão ainda devassados,- veréda estreita, que outros operarios, infinitamente mais habeis do que eu, hãode converter em larga estrada. Mi sat eril specimen clari monstrasse laboris. Mas ainda assim, não se pense que eu me arrojasse a escrever para os já sabedores:- Porque nam se leva agoa ao mar, nē flores ao prado, nem costumamos dar a outrem o que em casa lhe sobeja, como dizia o nosso Gaspar Estaço. Não; o meu proposito foi indicar á Mocidade estudiosa as fontes dos conhecimentos verdadeiros, nos differentes ramos da nossa Litteratura; apresentar-lhe o quadro dos variados elementos que constitúem e formão as Bellas-Lettras; dar-lhe noticia da nossa riqueza em alguns ramos, e da nossa penúria em outros; e finalmente, encaminhar essa esperançosa porção da Sociedade para o mais facil conseguimento de solida instrucção.--E se acaso aos doutos, e aos sabedores ousasse dirigir-me, seria unicamente, ou para lhes pedir, respeitoso, que supprissem a minha defficiencia, nas muitas occasiões em que a hãode notar, -ou que houvessem de encher as lacunas que existem ainda na Litteratura Portugueza. Procurei ser claro na exposição, methodico em a coordenação das materias, parco em reflexões, moderado nos juizos criticos, exacto nas citações, e escrupulosamente veridico em tudo X quanto digo e allego. Não obstante, porém, todo o meu cuidado, não me custa a crer que muitas vezes me escapara ou falta ou demasia; mas desde já declaro que de bom grado acceitarei qualquer aviso, ou conselho, protestando a devida correcção nas outras partes da Obra. Por querer authorisar o meu trabalho, recorro quasi sempre a citações dos escriptos que menciono, receiando que as minhas proprias palavras não tenhão a mesma força que as originaes dos authores. Nas citações conservo a orthographia propria dos diversos escriptos, segundo me pareceu conforme à fidelidade, que neste ponto deve guardar-se. Tenho por muito provavel que nas diversas materias me succeda omittir a menção de algum author, ou de alguma obra, que conviesse indicar; mas advirto que heide emendar posteriormente esse descuido, quer eu proprio o venha a descobrir, quer me seja benevolamente advertido. Supplíco a indulgencia do Publico; e se tão generosa graça me før liberalisada, progredirei mais animado na continuação do meu trabalho. Em todo o caso, direi com um author portuguez:.... Deste escripto, que ponho publico a todos os que delle se quizerem aproveitar, tirarey a satisfação do meu trabalho na utilidade alheia, e quando lhe não supponhão nenhuma, e me falte a gratidão, que merece a minha boa vontade, tambem me não escandalisará esse desconhecimento. Lisboa Outubro de 1853. INDICE. CAPITULO 1.°-0 que he a Litteratura, sua importancia, e al- CAP: 2.0-Ramos dos conhecimentos humanos, que constitúem a Litteratura; missão desta, e indicação geral do seu estado CAP. 1.–que se entende por Historia Litteraria. Principia a resenha dos subsidios que possuimos para a Historia da Lit- 13 CAP. 2.°- Continuação dos subsidios que possuimos para a His- toria da Litteratura Portugueza Cap. 3.- Continuação da resenha dos subsidios para a Historia Cap. 4.°—De uma especialidade importante da Historia Litte- raria: Estabelecimentos Scientificos e Litterarios de Portugal. 128 CAP. 1.- Excellencias da Lingua Portugueza CAP. 2.°—Louvores que a Lingua Portugueza tem merecido .. 182 Cap. 3.- Independencia da Lingua Portugueza .. CAP. 4.- Filiação da Lingua Portugueza. . § 1.- Authores que pugnão pela filiação latina. 199 $ 2.0-- Authores que impugnão a filiação latina. 206 § 3.- Argumentos de cada uma das opiniões $ 4.- Considerações ethnographicas, com referencia á filiação da Lingua Portugueza. $ 5.-Theoria geral da filiação das Linguas, e sua applicação á Lingua Portugueza. $ 6.-Factos, principios e esclarecimentos, que não poderão ter cabimento nos ss antecedentes.. 252 Cap. 5.—Da herança de vocabulos e phrases que a Lingua Por- tugueza recebeu das Linguas Arabica, Orientaes e Africanas. 266 CAP. 8.°— Diversos trabalhos philologicos sobre a Lingua Por- XII N. B. Desejando procurar aos leitores a maior commodidade, tenho por conveniente fazer aqui as seguintes declarações: 1. — Todas as Memorias que menciono no corpo desta obra, sem particularisar o Livro ou documento em que se encontrão, estão in- sertas-ou na Collecção das Memorias de Litteratura, publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa ; -ou na Collecção da Historia e Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa. 2.Por quanto o Capitulo 3.o do Titulo 2.° desta Obra envolve uma grande variedade de assumptos da Historia Litteraria, darei aqui: um Indice especial desse Capitulo: Subsidios que podem fornecer para a Hist. Litt. as Vidas, Elo- gios e Biographias de Authores, e Jornaes Litterarios .. 90 Authores Portuguezes, em cujas Obras se encontrão accidental- mente noticias para Chronistas das Ordens Religiosas de Portu al, que fornecem al- guns subsidios para a Hist. Litt..... De alguns Escriptos Ineditos sobre a Hist. Litt. de Portugal. .. 123 Dos Portuguezes benemeritos, que nas Universidades estrangei- ras regérão Cadeiras de ensino publico .... Hist. Litt. de Portugal, anterior ao estabelecimento da Monar- 3.40 Capitulo 4.o do mesmo Titulo 2. comprehende diversos Pag. Academia Real da Historia Portugueza Academia Real das Sciencias de Lisboa.. Os outros Capitulos, e Ss não carecem de Indice especial. TITULO 1. PRINCIPIOS GERAES SOBRE A LITTERATURA. CAPITULO I. O QUE HE A LITTERATURA, SUA IMPORTANCIA, E ALCANCE. La science, c'est l'expression de l'intelligence divine. L'ouvre littéraire, c'est l'expression de l'intelligence humaine. Du premier ordre nous voyons sortir ces âmes privilégiées qui sur la terre portent le nom de Platon, Fénélon, Descartes, Rousseau, Bernardin de Saint-Pierre, lorsqu'ils expriment les lois morales de l'humanité, et le nom de Copernic, Képler, Galilée, Newton, Herschel, lorsqu'ils découvrent les lois physiques de la nature. --Au second ordre appartiennent les fortes intelligences, les âmes poétiques qui comme Homère, Sophocle, Euripide, le Dante, le Tasse, Corneille, Shakspeare, impriment à la société les formes de leur génie, et reçoivent de la nature la beauté de leurs conceptions. A. M. - Plan d'une Bibl. ¿A LITTERATURA he acaso professada entre nós, como uma Faculdade, isto he, como um corpo de Sciencia, que tem differentes ramos, differentes disciplinas, á similhança da Jurisprudencia, da Mathematica, da Medicina? ¿Exigem a natureza das cousas, e a conveniencia geral, que n'este sentido seja ella professada ? Eis as questões que pretendo submetter ao exame das pessoas competentes. Em um paiz, e n'uma epocha em que apparecem Francisco Dias Gomes, Antonio das Neves Pereira, Fr. Francisco de S. Luiz, Trigoso, os Garretts, os Herculanos, os Castilhos, e toda essa brilhante phalange de mancebos esperançosos, cujos nomes he desnecessario mencionar, porque assaz conhecidos e admirados são elles, pelas notaveis producções com que vão enriquecendo as lettras, e grangeando renome á nossa terra; em um paiz, digo, n’uma epocha, em que tão illustres Litteratos se apresentão, parece um paradoxo o julgar necessario tratar taes questões. |