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Deposito da Bibliotheca Nacional de Lisboa, he certo que esta tem recolhido nas suas Estantes muitos desses Livros; bem como dali teem sahido grandes porções para a formação de Livrarias de diversas Repartições da Capital. Afóra isso, consta-me que para Angola forão mandados 4:000 volumes; 3:000 para Ponta Delgada; e 2:500 para Santarem: sendo provavel que ainda sejão fornecidos alguns Seminarios.

Existe hoje na Bibliotheca Nacional a rica Livraria de D. Francisco de Mello da Camara (vulgò do Cabrinha), a qual se compõe de 9:200 volumes impressos, e talvez de 300 manuscriptos. O Governo comprou esta Livraria por dez contos de réis, e concedeu ao successor de D. Francisco de Mello da Camara o titulo de Conde da Silva.

Obteve tambem o Governo a Livraria de Luiz Cypriano Ribeiro Freire; mandando parte dos manuscriptos para a Secretaria dos Negocios da Fazenda, e outra parte para a dos Negocios Estrangeiros, e fazendo incorporar na Bibliotheca Nacional os livros impressos.

Do 1.o de Janeiro do anno de 1844 he datado um Relatorio apresentado ao Governo pelo Bibliothecario Mór, o Doutor José Feliciano de Castilho Barreto e Noronha.

O Relatorio foi publicado em 4 volumes, impressos na Typographia Lusitana, com uma serie de Appensos, muito recommendaveis. Entre estes, são muito interessantes os seguintes: Catalogo das Obras do 15.o seculo, que possue a Bibliotheca Nacional de Lisboa, feito segundo a ordem alphabetico-chronologica do nome das Cidades, em que forão impressas, e illustrado com algumas Notas;-Catalogo das Biblias, Corpos da Biblia e Concordancias, que se achão na Sala especial; - Relação abreviada de algumas Obras raras, que possue a Bibliotheca Nacional de Lisboa.

O Relatorio he um trabalho muito importante, e rico de noticias sobre aquelle estabelecimento. He para desejar que se progrida na publicação de taes documentos, successivamente desenvolvidos, e destinados a esclarecer a situação de um Estabelecimento tão util e recommendavel.

-BIBLIOTHECA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS DE LISBOA. No extincto convento de Jesus.

<< Compoem-se de duas Livrarias, que ao todo formam 50:000 volumes. A antiga Bibliotheca, classificada em separado da nova,

que se lhe annexou, contém 33:456 volumes, divididos pela seguinte maneira: sciencias historicas, litterarias e bellas-artes, 9:669; jornaes litterarios e politicos, 325; sciencias naturaes, artes e officios, 3:797; sciencias civís e politicas, 1:517; sciencias ecclesiasticas, 13:085; manuscriptos, 833; livros por classificar, 4:230.» (Novo Guia do Viajante em Lisboa. 1853.)

-BIBLIOTHECA REAL DA AJUDA.

<< Possue Codices de grande valor. ElRei D. Fernando a nada se tem poupado para a enriquecer; e segundo a opinião geral é a mais rica das bibliothecas de Portugal.» (Novo Guia do Viajante em Lisboa.)

Tem por Bibliothecario o Sr. Alexandre Herculano,-gloria e brilhante ornamento das Lettras.

-Na Capital, as Escholas Naval, Polytechnica, do Exercito, e Medico-Cirurgica, possuem Livrarias especiaes dos ramos de conhecimentos a que respectivamente se consagrão.

As Camaras Legislativas têem tambem uma Livraria,—que em verdade está muito longe de corresponder ao seu particular destino.

-BIBLIOTHECA DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA.

Tem hoje 14:528 obras, em 43:998 volumes impressos, além de 7:903 vol. avulsos, ou não classificados; e 901 manuscriptos. Nos depositos das Livrarias dos extinctos conventos, a cargo da mesma Bibliotheca, existem 102:290 vol., dos quaes 54:653 estão catalogados.

BIBLIOTHECA DA CIDADE DO PORTO.

«No mesmo edificio está a Bibliotheca Publica estabelecida pelo Duque de Bragança à 9 de Julho de 1833, 1.° anniversario da sua entrada na Cidade do Porto. De 65:000 volumes de que virá a compor-se esta Bibliotheca, 25:000 já se acham novamente relacionados pelo seu Bibliothecario o Sr. Diogo Goes Lara de Andrade. Esta Bibliotheca possue manuscriptos de mui grande merecimento. O Governo Inglez fez a este novo Estabelecimento um rico presente de muitos volumes, que vem a ser uma collecção de documentos importantes para a diplomatica, para a historia e para a legislação, que existiam nos seus arquivos, e que foram impressos a pedido da Camara dos Communs.

Cada volume tem no verso do frontespicio impresso em inglez estas palavras: Este livro será para sempre guardado na Bibliotheca do Porto.» (Urcullu. Tratado Elementar de Geographia. Tomo 2.°-Porto 1837.)

Esta Bibliotheca tem hoje oitenta mil volumes; entrando nesta conta quatorze mil e setecentas obras não catalogadas. Em manuscriptos possue mil duzentos e vinte e dous Codices. A Camara Municipal do Porto comprou a Collecção Numismatica de João Allen, a qual está por em quanto encaixotada por não haver ainda casa segura para a sua exposição; os Quadros e Estampas estão no Museu da Academia das Bellas Artes.

BIBLIOTHECA PUBLICA DE EVORA.

Em 1850 foi impresso em Lisboa o=Catalogo dos Manuscriptos da Bibliotheca Publica Eborense, ordenado pelo Bibliothecario J. H. da Cunha Rivara. Tomo 1.° que comprehende a noticia dos Codices e papeis relativos ás cousas da America, Africa e Asia. Não foi ainda publicado o 2.° Tomo; sendo aliás muito para desejar que o illustre Bibliothecario dê seguimento a tão interessante trabalho.

A fundação da Bibliotheca de Evora data do anno de 1805, e he obra do grande Arcebispo D. Fr. Manoel do Cenaculo Villas Boas, o qual estabeleceu simultaneamente um Museu e Galeria de Pinturas. O illustre Fundador, ao tomar posse do Arcebispado, encontrou apenas dous mil e tantos volumes, que havião pertencido ao seu antecessor o Arcebispo D. Joaquim Xavier Botelho de Lima, e estavão collocados em uma das Salas do Palacio Archiepiscopal.

Quando nos fins de Julho de 1808 os Francezes saqueárão a Cidade de Evora, soffreu consideravel prejuizo o nascente Estabelecimento do grande Cenaculo, e especialmente o seu rico monetario, o qual foi despojado vandalicamente de tudo quanto continha de prata e ouro.

Em 1811 deu o grande Cenaculo Estatutos á Bibliotheca de Evora, determinou que fosse posta á disposição do publico, doou-a perpetuamente á sua muito amada Igreja Metropolitana de Evora, e applicou rendimentos para a sustentação do interessantissimo Estabelecimento, que elle chamava a sua joia.

Não nos cumprindo escrever longamente a historia deste Estabelecimento, no periodo que decorre desde 1814, anno em que falleceu o grande Cenaculo, limitar-nos-hemos a remetter os Lei

tores para os Relatorios do Bibliothecario respectivo, archivados no Ministerio do Reino.

Veja-se o que acima dissémos, no principio do presente Artigo Bibliothecas.

A Bibliotheca Publica de Evora contém hoje, segundo informações authenticas, vinte e cinco mil volumes impressos; dous mil manuscriptos; tresentos e tantos quadros; seis mil e tantas medalhas.

Em Braga, Ponta Delgada, e Funchal, ha tambem Bibliothecas, mas pouco importantes por em quanto.

Torre do Tombo.

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Subsidio para a historia deste importantissimo Archivo: MEMORIAS AUTHENTICAS PARA A HISTORIA DO REAL ARCHIVO. COLLIGidas pelo primeiro Lente de DIPLOMATICA, o Desembargador João Pedro Ribeiro. Lisboa 1819.

«A historia do Real Archivo, diz o author na Introducção, he hum assumpto que por si mesmo se recommenda. >>

As Memorias são divididas em 4 partes; na 1.a trata da origem e progressos do Real Archivo; na 2.a apresenta um Catalogo dos Guardas Mores; na 3.a um Catalogo dos Escrivães; na 4. expõe o estado presente do Archivo.

Os nossos primeiros Soberanos tivérão sim archivos, mas ambulantes, segundo as circumstancias daquelles tempos, em que os Reis não tinhão residencia fixa, obrigados como erão a continuas viagens e expedições militares.

O estabelecimento fixo de um Archivo he assignado por João Pedro Ribeiro entre 11 de Abril da Era de 1390, e 4 de Novembro da Era de 1416; existindo anteriormente apenas a Chancellaria que acompanhava a Côrte.

No reinado de D. João 1 estava já o Real Archivo na Torre do Castello de Lisboa, chamada do Tombo, por estar lá o Livro dos Tombos da Corôa, ou Proprios da Corôa, antigamente chamado de Recabedo Regni; e já neste reinado principiou o Real Archivo a ser conhecido mais constantemente com o titulo de Torre do Tombo.

No anno de 1757 foi o Archivo transferido para o local onde

hoje está, tendo primeiramente tido um deposito particular, por occasião do terremoto de 1755, salvando-se completamente daquella horrorosa catastrophe, graças ao admiravel zelo do Guarda Mór Manoel da Maya.

Da Torre do Castello de Lisboa faz menção Fernão Lopes, nas Chronicas d'El-Rei D. Pedro 1 (Cap. 12), e de D. Fernando (no principio, e no Cap. 48). Por muito curiosas lançarei aqui as proprias expressões do Chronista:

.... em cada huum anno eram os Reys çertificados pellos veedores de sua fazenda, das despezas todas que feitas aviam, assi en enbaixadas come en todallas outras cousas que lhe neçessariamente convijnha fazer; e diziamlhe o que aalem desto sobeiava de suas rendas e dereitos, assi em dinheiros come en quaaesquer cousas, e logo era hordenado que se comprasse delles çerto ouro e prata pera se poer no Castello de Lixboa em huma torre, que pera esto fora feita, que chamavam a torre alvarrãa. Esta torre era mui forte e nom foi porem acabada, estava em cima da porta do Castello, e alli poinham ho mais do tesouro que os Reis juntavom em ouro e prata e moedas, e tijnham as chaves della, huum gardiam de S. Francisco, e outra o priol de Sam Domingos, e a terceira huum beneficiado da See dessa Cidade. >>=

No principio da Chron. de D. Fern. «Este Rei D. Fernando começou de reinar o mais rico Rei que em Portugal foi ataa o seu tempo: ca elle achou grandes tesouros que seu padre e avoos gardarom, em guisa que somente na torre do aver do Castello de Lixboa forom achadas oito çemtas mil peças douro,

etc.>>=

O ultimo Guarda Mór mencionado por João Pedro Ribeiro, nas Memorias Authenticas, he o Visconde de Azurára. Completarei eu esse quadro até ao anno presente (1853).

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Succedeu ao Visconde de Azurára o Visconde de Santarem; em 28 de Julho de 1833 foi nomeado Director e Guarda Mór Provisorio do Real Archivo o Official Maior Francisco Nunes Franklin. Por Decreto de 4 de Junho de 1834 foi nomeado Guarda Mór D. Francisco de S. Luiz.-Por Decreto de 28 de Setembro de 1836 foi nomeado Guarda Mór Interino o Doutor Antonio Nunes de Carvalho.-Por Decreto de 23 de Julho de 1838 foi exonerado este ultimo, e substituido pelo Conselheiro Antonio Manoel Lopes Vieira de Castro.-Em 30 de Março de 1842 foi exonerado este ultimo, e substituido pelo Visconde de

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