х quanto digo e allego. Não obstante, porém, todo o meu cuidado, não me custa a crer que muitas vezes me escapará-ou falta — ou demasia; mas desde já declaro que de bom grado acceitarei qualquer aviso, ou conselho, protestando a devida correcção nas outras partes da Obra. Por querer authorisar o meu trabalho, recorro quasi sempre a citações dos escriptos que menciono, receiando que as minhas proprias palavras não tenhão a mesma força que as originaes dos authores. Nas citações conservo a orthographia propria dos diversos escriptos, segundo me pareceu conforme á fidelidade, que neste ponto deve guardar-se. Tenho por muito provavel que nas diversas materias me succeda omittir a menção de algum author, ou de alguma obra, que conviesse indicar; mas advirto que heide emendar posteriormente esse descuido, quer eu proprio o venha a descobrir, quer me seja benevolamente advertido. Supplíco a indulgencia do Publico; e se tão generosa graça me før liberalisada, progredirei mais animado na continuação do meu trabalho. Em todo o caso, direi com um author portuguez:.... Deste escripto, que ponho publico a todos os que delle se quizerem aproveitar, tirarey a satisfação do meu trabalho na utilidade alheia, e quando lhe não supponhão nenhuma, e me falte a gratidão, que merece a minha boa vontade, tambem me não escandalisará esse desconhecimento. Lisboa Outubro de 1853. INDICE. Pag. CAPITULO 1. -O que he a Litteratura, sua importancia, e al- CAP. 2.°- Ramos dos conhecimentos humanos, que constitúem a Litteratura ; missão desta, e indicação geral do seu estado CAP. 1.–O que se entende por Historia Litteraria. Principia a resenha dos subsidios que possuimos para a Historia da Lit- 13 CAP. 2.'—Continuação dos subsidios que possuimos para a flis- toria da Litteratura Portugueza. CAP. 3.°— Continuação da resenha dos subsidios para a fistoria CAP. 4.°— De uma especialidade importante da Historia Litte- raria: Estabelecimentos Scientificos e Litterarios de Portugal. 128 Cap. 1.'_ Excellencias da Lingua Portugueza .. CAP. 2.°— Louvores que a Lingua Portugueza tem merecido .. 182 CAP. 3.- Independencia da Lingua Portugueza .. Cap. 4.'— Filiação da Lingua Portugueza. $ 1.'– Authores que pugnão pela filiação latina. 199 $ 2.°Authores que impugnão a filiação latina. 206 $ 3.- Argumentos de cada uma das opiniões $ 4.'— Considerações ethnographicas, com referencia á filiação da Lingua Portugueza. $ 5."— Theoria geral da filiação das Linguas, e sua applicação á Lingua Portugueza. $ 6.-Factos, principios e esclarecimentos, que não poderão ter cabimento nos sS antecedentes. . 252 CAP. 5."- Da herança de vocabulos e phrases que a Lingua Por- tugueza recebeu das Linguas Arabica, Orientaes e Africanas. 266 Cap. 8.'— Diversos trabalhos philologicos sobre a Lingua Por- XII N. B. Desejando procurar aos leitores a maior commodidade, tenho por conveniente fazer aqui as seguintes declarações: 1.4 Todas as Memorias que menciono no corpo desta obra, sem particularisar o Livro ou documento em que se encontrão, estão in- sertas-ou na Collecção das Memorias de Litteratura, publicadas pela Academia Real das Sciencias de Lisboa ; -ou na Collecção da Historia e Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa. 2.- Por quanto o Capitulo 3.o do Titulo 2.° desta Obra envolve uma grande variedade de assumptos da Historia Litteraria, darei aqui um Indice especial desse Capitulo: Subsidios que podem fornecer para a Hist. Litt. as Vidas, Elo- gios e Biographias de Authores, e Jornaes Litterarios .. 90 Authores Portuguezes, em cujas Obras se encontrão accidental- mente noticias para a Hist. Litt. de Portugal. Chronistas das Ordens Religiosas de Portu al, que fornecem al- guns subsidios para a Hist. Litt..... De alguns Escriptos Ineditos sobre a Hist. Litt. de Portugal. 123 Dos Portuguezes benemeritos, que nas Universidades estrangei- ras regèrão Cadeiras de ensino publico .. .. list. Litt. de Portugal, anterior ao estabelecimento da Monar- 3.-0 Capilulo 1.o do mesmo Titulo 2.o comprehende diversos Pag. Academia Real da Historia Portugueza Academia Real das Sciencias de Lisboa. Organisação actual dos Estudos em Portugal . Os outros Capitulos, e ss não carecem de Indice especial. TITULO I. PRINCIPIOS GERAES SOBRE A LITTERATURA. CAPITULO 1. O QUE HE A LITTERATURA, SUA IMPORTANCIA, E ALCANCE. La science, c'est l'expression de l'intelligence divine. L'ouvre littéraire, c'est l'expression de l'intelligence humaine. Du premier ordre nous voyons sortir ces âmes privilégiées qui sur la terre portent le nom de Platon, Fénélon, Descartes, Rousseau, Bernardin de Saint-Pierre, lorsqu'ils expriment les lois morales de l'humanité, et le nom de Copernic, Képler, Galilée, Newton, Herschel, lorsqu'ils découvrent les lois physiques de la nature. —Au second ordre appartiennent les fortes intelligences, les âmes poétiques qui comme Homère, Sophocle, Euripide, le Dante, le Tasse, Corneille, Shakspeare, impriment à la société les formes de leur génie, et reçoivent de la nature la beauté de leurs conceptions. A. M. - Plan d'une Bibl. ¿A LITTERATURA he acaso professada entre nós, como uma Faculdade, isto he, como um corpo de Sciencia, que tem differentes ramos, differentes disciplinas, á similhança da Jurisprudencia, da Mathematica, da Medicina? ¿Exigem a natureza das cousas, e a conveniencia geral, que n'este sentido seja ella professada ? Eis as questões que pretendo submetter ao exame das pessoas competentes. Em um paiz, e n'uma epocha em que apparecem Francisco Dias Gomes, Antonio das Neves Pereira, Fr. Francisco de S. Luiz, Trigoso, os Garretts, os Herculanos, os Castilhos, e toda essa brilhante phalange de mancebos esperançosos, cujos nomes he desnecessario mencionar, porque assaz conhecidos e admirados são elles, pelas notaveis producções com que vão enriquecendo as lettras, e grangeando renome á nossa terra; em um paiz, digo, n'uma epocha, em que tão illustres Litteratos se apresentão, parece um paradoxo o julgar necessario tratar taes questões. 1 Mas esses grandes luminares são uma excepção feliz,- são astros que girão solitarios na immensidade do espaço, -são uma demonstração viva do talento com que a natureza fadou os nossos conterraneos; - mas nem o seu elevado engenho, nem os seus magnificos escriptos podem, em boa logica, fornecer argumento para asseverar que em Portugal se dá á Litteratura a importancia que ella tem essencialmente, e muito menos que ella seja professada com a extensão, amplitude, e desenvolvimento que lhe cabem. E não se pense tão pouco que eu desconheço a excellencia de um certo numero de Memorias de Litteratura, que, por boa fortuna, tantos sabios Portuguezes teem escripto. Serão sempre apreciadas e lidas com grande proveito essas Memorias, que dão testemunho do mais apurado gosto, de judiciosa critica, de uma vasta erudição. Assim, por exemplo, se quizermos saber com todo o fundamento, e com solido conhecimento, assente em seguras bases, o que de mais averiguado póde admittir-se, e asseverar-se acerca do nosso immortal Camões, será indispensavel lêr com séria attenção o que a respeito da vida e obras do grande author dos Lusiadas escreverão o douto Bispo de Viseu, e outros Litteratos dos nossos tempos. E ainda mais do que fonte de bons conhecimentos devemos encarar essas preciosas Memorias que possuimos; entendo até que as podemos considerar como excelTentes modelos no vasto campo da Litteratura, não só em quanto á critica, mas tambem no que toca á linguistica, a philologia, á oratoria etc. Mas de tudo isto a um corpo systematico de doutrina, a um professorato cabal de Litteratura entre nós, vae uma distancia incommensuravel. Entre o que possuimos, e o de que precisamos indispensavelmente, ha um vacuo immenso que convém encher, ainda á custa dos maiores sacrificios. Entre as exigencias da natureza das cousas e o estado dos estudos, do ensino, dos elementos, que entre nós existem, medeia um vasto deserto, que a todo o custo devemos reduzir a cultura e tornar habitavel. A Litteratura propõe-se essencialmente a apresentar-nos um quadro vivo do homem, tal qual elle he em geral, e em particular, isto he, antes e depois de receber as impressões profundas do clima, das leis, dos diversos estados da civilisação, e de circumstancias mil que o modificão. Este simples enunciado basta para nos habilitar a fazer uma resenha dos elementos que constituem a Litteratura. E com effeito, |