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pistolas e outras armas, as fabricasse, vendesse, conservasse em casa, e dispondo que tanto na capital, como nas provincias fossem ellas recolhidas aos depositos designados, sob pena de serem os contraventores entregues ao respectivo tribunal especial, multados em 488000 rs. etc.

O armamento pois achava-se em poder dos inimigos, sem que nos restassem senão mui poucas armas subtrahidas á vigilancia de Lagarde, dos corregedores-móres, e seus esbirros. È verdade que nos depositos do Porto, Estremoz, e por ventura em mais alguns, encontrou a revolta porção de espingardas que os francezes não poderam inutilisar, mas tudo isso eta nada para as urgencias do momento. Outro tanto não aconteceu á Hispanha a quem Murat e Savary não tiveram ensejo de desarmar, achando-se ella por consequencia com um exercito superior a 50 ou 60:000 homens, e bastante armamento de sobrecelente para

de Maio, todos no predito Obs. pàg. 161, 228 e 264. Os dois ultimos crearam dois tribunaes, especiaes, ou commissões militares com assento em Lisboa, e no Porto para punir os delinquentes de todo o reino, isto é, os portuguezes que offendessem os conquistadores. Cada commissão se compunha do presidente, relator, e tres officiaes francezes com dois portuguezes. As suas decisões, contra as quaes não se dava recurso algum, deviam executar-se em 24 horas. Com o decreto de 8 de Abril publicou Junot uma especie de codigo penal intitulado - Enumeração dos delictos da competencia do tribunal especial, e penas em que incorrem os 'que os commettem. A pena ultima, de que os commissarios fizeram bastante uso por via dos espingardeamentos, ahi foi prodigalisada. Amalgamaram-se assaz burlescamente nesse codigo, e n'outros decretos, as leis criminaes de Portugal com as dos codigos penaes civil e militar de França, e com as de 13 e 14 brumaire dos annos 5 e 11, extrabindo os nossos l-logo entrar em liça com os seus perseguidores. Apebertadores de umas e outras todas as suas severidades, incluindo os acoutes e as galés para os que usassem de facas, e outras armas mortiferas. No já citado Obs. ainda existem numerosas outras providencias no mesmo sentido.

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sar de taes contrariedades, já em 13 de Dezembro de
1807, muito antes do levante da Hespanha, a popu-
lação de Lisboa ao vêr no castello de S. Jorge, e nas
mais fortalezas, arvorar as aguias, mostrou a impa-
ciencia com que soffria o jugo estrangeiro, revoltan-
de-se sem considerar as suas forças, e por tanto mui
imprudentemente, contra os batalhões inimigos, que
com pouco trabalho logo restabeleceram a ordem
Eis o edital que Junot por esta occasião fez publi-
car, e se vê no Obs. pag. 43.

« Habitantes de Lisboa, o maior crime é a rebela lião. Vós vos deixastes arrastar hontem por alguns a máus individuos, que para vos comprometter se atre<< veram a atirar ás minhas tropas, estando estas entre « vós. Eu os conheço, e elles pagarão com a sua ca<< beça o insulto que se atreveram a fazer á bandeira « franceza; mas eu não confundo entre os mãos os << honrados habitantes de Lisboa: pela segurança dos « bons cidadãos, é que eu determino o que se segue: « Todo o ajuntamento de qualquer naturesa que elle « seja, é prohibido. Todo o individuo que se encon«trar armado em um ajuntamento, será conduzido á « commissão militar, creada pelo meu decreto da data de hoje, para ser julgado, e sentenciado em tres << mezes de prisão; se elle se não servio das suas ar«mas; e no caso de ter feito uso dellas, contra quem « quer que for, será condemnado á morte. Todo o in«dividuo, que fôr preso em um ajuntamento, conven« cido de ser um dos chefes, ou cabeça de motim, << soffrerá a pena de morte. Dado no palacio do quar¬ tel General a 13 de Dezembro de 1807. Junot. » Este moderno Draco, mas Draco sómente na dureza d'alma, parecia imaginar que tanto merecia morrer o que ferisse alguem, embora não passasse o ferimento de uma arranhadura, como o matador, o amotinador, e outros iguaes delinquentes.

O mesmo Sr. Thiers refcrindo-se á revolta contra Junot diz que os portuguezes ao saberem do levantamento da Hespanha, e que os francezes eram ahi vencidos, não careciam para se sublevar, senão de avistar os inglezes seus velhos alliados, alliados acrescenta elle, e tyrannos a um tempo.-Portugal é certo, para essa sublevação carecia dos inglezes, não porque a influencia britanica em seus filhos actuasse mais do que o pensamento da nacionalidade, mas porque a In-« glaterra por utilidade propria lhe forneceria dinheiro, tropas e armamentos.

Sabe todo o mundo que o paiz achava-se exhausto de tudo isto pelos cuidados dos tres invasores Junot, Taranco e Solano, todos mui prodigos de medidas tendentes a esbulhar os habitantes de todas as suas armas, sem excepção das brancas, como no Obs. a cada passo se póde vêr especialmente a pag. 172, 174, 256 e 314, aonde se acham os decretos (dois) de 15 de Fevereiro, a ordem do intendente geral da policia Lagarde sob a data de 29 de Abril, e o decreto de 24 de Junho mandando desarmar muitos regimentos de milicias, fulminando mais penas contra quem usasse de punhal, estoque, espingarda de yente,

Mas o mesmo Sr. Thiers como que reconhece que os inglezes não eram senão um meio para o levantamento de Portugal, quando declara que a noticia do desastre do general Dupont em Baylen a 22 de Julho, fôra para os portuguezes um estimulo tal, que n'um abrir e fechar de olhos a revolta, até alli mui circumscripta, logo se tornára geral desde o Minho até os Algarves. E já antes delle o general Foy na sua obra da Guer. da Pen. repetidas vezes havia fallado

deste enthusiasmo dos portuguezes, como a principal origem da sua sublevação: uma dellas foi quando, depois de referir as phases da revolta, cujo incremento as carnificinas e os saques de Béja, Villa-Vicosa, Evora, Leiria, e de outras povoações, mais aceleraram do que retardaram, escrevia Passados apenas 20 dias depois que o general Kellermann abandonára o Alemtéjo, já este tinha um exercito : tanto os povos são promptos a emprehender o que querem com vontade forte e unanime!

Agora quanto á tyrannia dos nossos velhos alliados, infelizmente é ella mui real. Com tudo, não é menos certo que as nações pequenas são frequentemente forçadas a alliar-se com as poderosas, e que estas, sejam ellas quaes forem, sempre em demazia pesam sobre os seus protegidos. Os francezes, entrando em Lisboa como amigos, sem a minima provocação ou hostilidade logo se converteram em senhores; trataram-nos como conquista, e a despeito das vergonhosas condescendencias do nosso governo, a protecção com que nos honraram foi muito mais dura do que a britannica no-lo tem sido. Não se duvide porém que detestamos todas as tyrannias venham ellas d'onde vierem,

2.4

Sempre faziam summo arruido para aterrar, etc.

vivas (citado Foy): talvez pois esta bandeira fosse no combate tomada pelo inimigo, e conduzida a Junot, escrevendo-se no boletim bandeiras por bandeira, o que em um armazem de petas não era coisa de nenbuma consequencia.

São egualmente para notar estas pomposas linhas do mesmo boletim.

« Da nossa parte houve um homem morto, e alguns « feridos. A perda do inimigo (600 mortos no campo « da batalha) teria sido muito mais consideravel, se o << senhor General Margaron não tivesse contido a in« dignação das tropas; mas passado o instante do com « bate a moderação foi egual ao valor, e a ordem se<< guiu de perto a victoria. Assim serão desbaratados « todos aquelles que se atreverem a imitar o seu exem« plo! S. Ex.* ficou satisfeilo com o comportamento das « suas tropas. »

Depois disto segue-se uma confissão que pela sua ingenuidade summamente rediculisa toda aquella pompa, e pinta a inepcia dos boletinistas.

« O que S. Ex. sómente sente é que o seu valor (o « das tropas) só tivesse exercicio contra miseraveis que a não podiam resiştir. » Bem se diz que do sublime ao ridiculo não ha senão um passo,

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Por um rumo diverso, etc.

O boletim de 7 de Julho, assignado pelo chefe de estado maior Thiebault, a quem desejaramos exce- O motivo que induzira B. Freire a não se unir 205 ptuar das censuras que neste escripto fazemos aos bo-inglezes, e a tomar por uma estrada do interior, em letinistas, acha-se no Obs. pag. 356, e lèem-se nelle as seguintes expressões - As bandeiras dos insurgentes, que todas foram tomadas, foram esta manhã appresentadas a S. Ex. o Duque de Abrantes-Ora, a respeito destas bandeiras o mesmo Obs., e outro anonimo, contam-nos a seguinte mui burlesca anecdota : Caminhava Margaron para Leiria na occasião em que para a romaria do cirio da Ameixieira passavam muitos devotos a cavallo e a pé com seus cajados, tambores, e duas bandeiras enfeitadas com veneras da Senhora da Conceição pendentes de lacinhos de fitas de varias cores. O general, tomando-os por insurgentes, mandou acommettel-os pelo Principe Salms-Salms. Este, depois de formado o seu esquadrão atraz de um pinhal de Alcoentre, cabiu de subito sobre os pobres romeiros, acutilou o gaiteiro, o prégador, e outros, dispersou o resto, e ficando senhor do campo da batalha, recolheu os despojos do inimigo; a saber: os burrinhos, tambores, cajados, e as bandeiras menIcionadas no boletim.

Quer porém isto seja patranha propria do tempo, quer não, o certo é que em 5 de Julho de 1808 não existia em Leiria corpo algum da primeira ou segunda linha, nem fracção delle, nem por consequencia ahi podiam existir bandeiras algumas. A gente que lá encontrou Margaron, diz um escriptor quasi sempre consciencioso (Foy pag. 202), seriam mil paisanos sem organisação, mas destes sómente uns 200 tinham espingardas, e destes 200 ainda poucos tinham cartu

xame.

Parece que estes paisanos alcançando uma bandeira real, nas curtas horas do seu enthusiasmo andaram com ella percorrendo as ruas ao som de estrepitosos

quanto aquelles sempre convergiam para a beira-mar, não o sabemos bem ao certo deslindar. Foy no tom. 4. pag. 253 diz assim« Os inglezes marchavam, « porém marchavam sós. O apparecimento de Loison <«<em Thomar aterrou os portuguezes, que ao chega<< rem a Coimbra já cuidavam estar com o inimigo. B. « Freire resolveu não passar de Leiria em quanto exis<< tissem francezes do outro lado da serra de Minde, mas Wellesley, vendo-se livre destes alliados exi« gentes, e de poucas esperanças, cedo se consolou. «Elle pediu-lhes 1:400 infantes, e 260 cavallos que « incorporou no seu exercito, e seguiu a estrada me<< nos distante do mar para da esquadra continuar a « receber viveres. Ao sahir de Leiria, adoptando os a costumes militares francezes, deixou ahi as baga<«< gens, incluindo as barracas. As suas tropas a 13 « acampavam no Calvario, a 14 em Alcobaça, e a 15

<nas Caldas. »

O Sr. Thiers no liv. 31 falla por este theor-Os <«< insurgentes portuguezes, reunindo todas as forças « do norte, formaram um exercito de 5 a 6:000 ho<«< mens sob o commando do general Freire. Sir Arthor « Wellesley desejava reter estes soldados para que he cobrissem as alas, porém elles, ou por medo de << encontrar os francezes mui de perto, « governo avisou o general inglez (1), ou por não se « fiarem de auxiliares sempre promptos a recolher-se <«< aos seus navios ao primeiro revez, deixando os al<«<liados entregues ao inimigo, fizeram exigencias a

como ao sea

(1) Assegurou isto na sua correspondencia com o gabinete britannico, como se vê na collecção de preciosos e interessan tes documentos por elle recentemente publicados em Londra. Nota do Sr. Thiers.

<< que Wellesley não annuiu. Queriam ser sustentados « á custa dos inglezes com os mantimentos que estes « tinham abordo. Regeitada semilhante pertenção, os << portuguezes decidiram-se a operar por sua conta, « marchando pelo interior, em quanto as tropas bri<< tannicas costeavam o littoral, levando comsigo para << exploradores 1:400 infantes, e quasi 300 cavallos « de B. Freire. »>

O Obs. pag. 405 refere-nos que o exercito portaguez, depois de reforçar Wellesley com 260 cavallos, 1:000 infantes, e mais alguns soldados, partíra para Thomar no intuito de cortar a retirada ao inimigo. A pag. 499 conta que com os inglezes marchavam uns 2:000 portuguezes, que, em Vimieiro, se portaram bellamente, com especialidade os 60 cavallos da policia, e os 200 artilheiros.

Em fim, Dalrymple na sua proclamação de 18 de Setembro (2) exprime-se por estes formaes termos : « Aquella parte do exercito portuguez a quem as cir<«< cumstancias locaes permitiram unir-se com o bri<< tannico, em quanto o resto fazia uma poderosa di« versão, occasionou medidas reciprocas para destruir « o inimigo commum. »

Ainda suppondo que Dalrymple naquellas expressões por deferencia para aquelles em cujo paiz se achava, não declarasse toda a verdade, o que não é de presumir, sempre pensamos que esse medo, ou esse terror de que fallam Thiers e Foy, são puramente imaginarios.

Os soldados portuguezes, bisonhos quasi todos, indisciplinados todos, e todos tão pouco adestrados nas armas que a maioria só as teve quando os inglezes lh'as deram, bem podiam nesta occasião sem grave deshonra receiar medir-se com um inimigo já aguerrido, e cem vezes superior na sciencia militar. Os homens não nascem soldados, fazem-se.

Apesar de tudo isso, a gente que acompanhou Wellesley não justificou taes receios, quando sem oppor duvidas buscou previnir a chegada dos contrarios á Azambugeira; não os justificou quando, aprisionado o commandante do batalhão Palamedes de Forbin, se tomaram algumas peças de Junot, por quanto se depois foi mister retirar, os inglezes não foram os ultimos; nem finalmente os justificaram esses card umes de povo, que quasi só com foices e chuços, desde Almeida até Santarém, e por toda a parte, mui ousadamente, bem que á tôa, perseguiram Loison, que nelles sempre que podia cevava as iras.

Este general achando-se a 11 de agosto com a sua divisão em Thomar, já a 13 regressava a Santarém aonde se demorára até 15 (Foy pag. 252 e 260); mas suppondo que elle, ou outro, guardava o terreno situado entre a primeira villa e a serra de Minde, mais perigo corriam os portuguezes separados do que unidos aos inglezes.

a

Se a separação não procedeu do temor de pelejar, algum pezo merece a causal dada pelo Observador, qual até está em harmonia com as preditas palavras de Dalrymple. A querer Junot regressar á Hespanha buscaria a porta por onde entrou (Castello-Branco), ou alguma outra entre norte e leste, mas se tentasse romper entre Abrantes e Leiria, encontrando na frente,

(2) Em Delgado.

ou de flanco, os soldados de B. Freire e os de Bacellar, poderia ser elle assás inquietado, especialmente. levando nas costas o exercito inglez.

A exigencia attribuida ao general portuguez de pertender sustentar a sua gente á custa dos inglezes, é absolutamente inverosimil, nem se casa com as expressões de Foy-que Wellesley na conferencia com o bispo do Porto e outros, obtivera promessa de ser apoiado com um exercito, assim como a de transportes e viveres á farta. —Se existio este ajuste, como é que logo depois, e n'um momento tão critico, se havia não só faltar a elle, senão ainda exigir viveres? Uma tão absurda requisição não deixaria de ser por Wellesley communicada ao seu governo, e constaria dos documentos publicados em Londres: com tudo, o silencio do Sr. Thiers a este respeito auctoriзa-nos a crer que não existe lá uma palavra sobre similhante ponto.

Qual foi então a verdadeira causa da separação dos dois exercitos? Seria aquella a que o Sr. Thiers parece dar a primasia, isto é, a desconfiança de que os nossos estimadissimos alliados, sempre tão chegados aos seus navios, quando lhes conviesse nos abando. nassem? Seria a diversão mencionada por Dalrymple e pelo Observador? Seria a soberania, a desmedida arrogancia com que os bretões em toda a parte tralam os mais fracos, as quaes B. Freire não tivesse animo de supportar pacientemente, como nessa hora talvez lho requeria o bem da patria? Nada podemos affirmar, porém é de crer que a ultima causa tivesse grande influencia em similhante separação. As manbas inglezas já são bem conhecidas.

JOÃO ANTONIO DE CARVALHO E OLIVEIRA.

(Continúa.)

NOTICIAS E COMMERCIO.

ACTOS OFFICIAES.

1 a 30 de Junho.

DIARIO N.° 128.

459 Aviso de que no cabo de Santa Maria se ha de accender, de 24 de Junho em diante, um farol de luz fixa.

DITO N.° 130.

Auto de amortisação de notas do Banco de Lisboa no valor de 61:000 $800 réis.

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460 É sem duvida uma obra mageslosa e ousadamente levada a cabo essa dupla casa em que estão reunidas sem se confundirem as duas potencias da Ingla

Resumo do activo e passivo do Banco de Por terra; de muita habilidade será dotado quem, tendo-a tugal em 31 de Maio de 1851.

Numerario e prata para amoedar 1.265:4713524
Notas do Banco de Lisboa.... 376:5643800
Ditas do Banco de Portugal em
circulação.....

DITO N.o 136.

549:380/000

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percorrido por alguns instantes, intentar descrevel-a. Este monumento consagrado ás camaras do parla. mento appresenta uma fachada, que deita para o rio, de mil pés inglezes de comprimento, cobrindo n'um terreno de nove arpens (a geira franceza) uma infinita serie de salas diversas que recebem luz da parte do mar, da do rio, e de onze ou doze pateos. Penetra-se nestes sitios, ou pelo menos em breve se entrará, por um vestibulo similhante a uma cathedral, o qual conduz para a direita, para a esquerda, para todas as partes de tão vasto edificio. Aqui faz suas sessões a camara dos lords-acolá dentro em pouco tempo entre essas paredes de carvalho cizelado celebrará as suas a camara dos communs.

Para qualquer das camaras as divisões são as mesmas; o mesmo espaço para as duas bibliothecas; eguaes salas para as commissões; um salão commum destinado a receber os membros de ambas as camaras quando de tem de conferenciar sobre algum assumpto difficil; um relance de olhos comprehender-se-ha o excellente desenvolvimento e o todo maravilhoso desta construc ção vasta, logo que estiver completamente acabado, e se poder percorrêl-o de uma á outra torre. Está si tuado entre o Tamisa e a abbadia de Westminster: entre o rio carregado da riqueza e das idéas do mundo moderno, e o amplo cimiterio cheio de memorias e doutrinação do passado. Uma estatua de bronze, de tamanho maior que o natural, parece que está de vi gia á porta do sanctuario das leis; a sentinella é digna de tão solemne posto, chama-se Jorge Canning. O novo edificio já tem custado dois milhões de libras esterlinas, e será preciso pelo menos outro tanto para concluil-o.

Tive a honra de penetrar no recinto da camara dos lords. Imaginae uma capella resplandecente com toda a ornamentação e riqueza da épocha do renascimento: em logar d'aliar e detraz de uma balustrada eleva-se a cadeira da rainha. Vi o famoso sacco de la onde se assento o chanceller; semelha um enorme canapé ade

Receita e despesa effectuada em Lisboa na se- reçado de panno escarlate. Por toda a parte, nos temana finda em 21 de Junho.

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ctos, nas vidraças, nas paredes, no soalbo, entre o leão e a rosa se divisam de mistura os brazões saxonios e normandos, desde os Plantagenets até os Tudor, .221:176$025 dos Stuarts até os Brunswick: - naquella balbardia 145:0408543 de mottos e divisas, de emblemas, e ornamentos entre doze janellas, ao nascente e ao poente, de alto a baise, apparecem a historia, o romance, o poema, as cavallarias, de Inglaterra!

Decreto approvando o Regulamento ácerca do provimento dos logares de instrucção publica e das regras para occorrer à interrupção do serviço do magisterio na vagatura das cadeiras ou no impedimento dos respectivos empregados.

:

A pedra é franceza vem de Caen, e fora indicada aos inglezes d'hoje, haverá apenas a bagatella de oto seculos, por seu amo e senhor, Guilherme o Conquis tador, Guilherme o Bastardo, como elle proprio se denominava Ego Guillelmus cognonime batardus. A abbadia de Westminster foi construida com essa pedra do ducado da Normandia, e ainda ao presente se ve em Caen, acima do rio pequeno, a pedreira e exc vação enorme donde subiu Westminster: Ubi Troj fuit. Canteiros francezes se tinham incumbido de fazer

desta pedra um marmore promettèra-se-lhes respeitar seu segredo. Tinham-se encerrado n'uma vasta casa, e ainda hoje se pódé contemplar um grande lanço de muralha, effectivamente em tudo similhante a essas paredes dos palacios genovezes, que a chuva branda, o sol ardente, e o morno sopro dos seculos fazem luzir como se foram espelhos. O acerto era completo, е os nossos artistas queriam continuar; infelizmente achou-se que esta transformação da pedra ordinaria em marmore vinha a custar mui cara, e a metamorphose parou alli.

Os senhores da camara dos communs ainda não estão de posse da sua nova sala, que será toda de carvalho e de uma vista magestosa. Reunem-se ainda na sala antiga, que entre nós seria rejeitada para celebrar-se uma dessas audiencias onde os facinorosos vem pagar seus crimes. Entra-se nesta camara por um corredor escuro, e eu hesitava na entrada, e sabeis porque? Porque era a primeira vez em minha vida que ia ver uma assembléa deliberativa; e tinha afferro, como a uma creança a seus bonitos, á conservação desta ditosa ignorancia. Parecerá por certo coisa mui rara, um filho da imprensa militante, um veterano da imprensa, que não respirou outro ar senão o do Luxemburgo, que viu tantos da sua gente elevarem-se ás honras parlamentares, demais disso um homem apaixonado da eloquencia, repassar-se da convicção de que tem vivido, completamente estranhofás coleras e violencias, e tanto que nem sequer uma só vez viu por alto o recinto onde se agitam as paixões politicas! Espero viver na minha impenitencia, como vivi.

Comtudo (e creio que me não tomarão contas pelos poucos minutos que passei na camara dos communs) ou fosse pelo meu pouco habito ou porque a minha imaginação rebelde desperdiçasse o effeito de um espectaculo novo para mim, muito pouco me interessou aquella reunião de legisladores de chapeu na cabeça, em diversas posturas mal geitosas, prestando ouvidos desattentos a não sei que discurso monotono. Se levassem alli o china da exposição e lhe dissessem: — « Vèdes esses pimpões, meio deitados em seus bancos neste sombrio recinto; pois sabei que esta gente tracta agora dos negocios e dos interesses da Inglaterra» o bom do china certamente não atinaria com o que havia de dizer e pensar a este respeito. Ao cabo de tudo é um facto glorioso para a Inglaterra ser governada com tão pouca ceremonia, e de certo com menos bulha do que se se tratasse de reparar algum muro velho em alguma das nossas trinta mil communas ou de outro qualquer debate de igual valia n'um conselho municipal.

INFANTICIDÍOS.

O nosso correspondente de Loulé nos communica o seguinte, em data de 24 do passado.

461 Parece que o genio do mal bafeja ha tempos a esta parte uma villa como Loulé. Onde outr'ora ninguem acreditava se commettesse um crime, hoje succedem-se uns após outros. Ha dias se appresentou na roda dos expostos. uma creanga semimorta, que

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appareceu debaixo d'uma aroeira; e outra foi encontrada n'uma das ruas desta villa, núa, e mettida entre malvas; porém o qne mais horrorisa os habitantes desta villa, foi o seguinte caso succedido hontem 23. Um afilhado, a quem sua madrinha tudo deixava, esse monstro a estrangulou, e consumado o acto, a lançou a um poço, aonde depois as auctoridades vieram tomar conhecimento do delicto; honra ao Sr. José Cordeiro Gallão, e ao Sr. José de Carvalho, commandante de uma companhia desta villa, que com a maior energia se prestaram a tudo, e a não serem elles, talvez o povo apinhado tivesse feito em pedaços o joven criminoso, rapaz de vinte e tres annos, que ainda ha pouco havia levantado o braço contra o seu proprio pai.

O processo instaurou-se e correrá com brevidade.

ESTATUA DE FREDERICO O GRANDE.

462 Em 31 de Maio de 1740 subiu ao throno da Prussia Frederico II. O anniversario foi escolhido como dia mais proprio para erigir na capital um monumento não só á memoria do rei, mas tambem dos homens que o ajudaram com a espada e o conselho na lucta com a Austria, a Russia e a França, em que adquiriu sua reputação militar. O monumento completou-se neste anno, e a festa da sua inauguração em Maio ultimo, descripta largamente nos jornaes, foi das mais esplendidas e concorridas que Berlim tem presenciado : é verdadeiramente uma obra historica que além do seu merecimento artistico póde ser consultada como documento authentico dos guerreiros e homens de estado que ajudaram a fundar um reino poderoso. É um grande progresso sobre o insipido estylo allegorico com suas eternas Famas assoprando trombetas e Victorias offerecendo coroas e grinaldas. Excepto n'um ou dois dos pequenos baixo-relevos, Rauch, o delineador da obra ligou-se á estricta realidade e só modificada com tal engenho que nada parece vulgar ou logar commum : os seus Ziethens e Winterfeldts são guerreiros tão severos e cheios de dignidade como se estivessem nos campos de batalha de Torgau e Rosbach.

O monumento consta de uma estatua equestre de 17 pés e 3 pollegadas de alto, sobre um pedestal de granito de 25 pés, que appresenta em cada uma das faces grupos de bronze dos generaes illustres da guerra dos sete annos, representados ou a pé ou a cavallo, do tamanho natural, effigie segundo os retratos, em baixo-relevo. As figuras mais proeminentes são as dos quatro mais distinctos officiaes, o duque de Brunswick, que depois commandou os alliados contra Dumouriez e as forças da convenção franceza, o principe Henrique da Prussia, o general Seydlitz, e o general Ziethen. As figuras de pé não foram escolhidas inteiramente conforme sua jerarchia, mas em attenção á recordação honrosa de seus feitos ou serviços ás lettras e ao estado; comprehendem todas as celebridades militares da épocha. Uma das faces do pedestal contém, entre as estatuas de Seydlitz e Ziethen, as figuras de tres estadistas; o conde Finck von FinckensLein, ministro de Frederico na repartição dos negocios estrangeiros; Von Schlabrendorff, que tanto trabalhou para conservar em ordem as finances, durante os peiores tempos da guerra; o conde Von Carmer

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