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Singular dia revolto
Em batalhas desesperadas,
De laranja, óvos, tremóços,
Agua, pós, e caqueiradas.
Laranjas são bála-rása,
Os tiros estálos são;
As seringas espingardas,
A metralha é o feijão,

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Ruas campos de batalha,
As escadas são-tranqueiras,
As casas - praças de guerra,
As janellas canhoneiras.
De manhã escaramuças,
Tiroteios chega a tarde,
Come rancho, péga em armas,
Em descargas, tudo se arde.
Cessar fógo! Déra o tóque,
A machucada panéla,
A arrastar-se, pelas ruas,
Presa, em rábo de cadéla.
Passam mascaras avulsas,
Ri, delira a populaça :
Tóca musica-vem dança,
Armisticio, em quanto passa.
Anoitece. As baterias,
Voltam-frente á rectaguarda;

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Como disse, ao pé da fonte,
Toda entregue a seus pesares,
Quando vê, ao pé defronte.
Quem viu ella? O seu José,
Trage e rosto, disfarçado;
Que, o acaso alli trouxera,
Quando menos esperado.
Ella conta da querella,
Do mandado de prisão,
Das promessas de Patóta,
Da vingança de Sacão;
Elle escuta; e meditando,
Diz por fim:- Percebo a
Percebo a peita.
Querem-nos comprar a honra !
Vá; e diga-lhe, que acceita:
Que o espera em caza á noite,
A entregar-lhe em propria mão,
O termo de desistencia,
Da querella, e da prisão.

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Porta aberta; -Patóta encolhido.
Entram homens de fatos mudados,
Vem de mouro, de preto, de mágo,
Estes, chamam-se, os encaraçados.
Falla um Mouro d'alfange despido:
<«< Agiota, ou captivo em Argel,
Ou m'assigna, já, este papel, »
Diz o Prêto, d'estoque apontado:
« Ou no blanco pôr o pléto,
Ou assáro neste espeto. »
Patóta duvida, não quer assignar.
O Magico avança, seringa no ar;

« Por artes, berléques, berliquis, berlóques, Em armas de fogo-seringas estoques, Transformem-se já. »

Pistolas disparam; Patota gritou.
Coberto de sangue, de prompto assignou.
-Em casa, já livre, correndo, só pára;
Com agua lhe lávam, alimpam-lhe a cara;
E quando feridas s'esperam tremendas,
As faces lh'avultam, sem rachas, nem feridas;
Patóta benzeo-se! não tinha de que:
Que o sangue era estranho, bem claro se vê:
A cára esguichado foi, quando fez pum!
D'occulta seringa, sangue de perum!

O caso sabido, foi posto em soalheiro,
Com seus commentarios do mestre Barbeiro,
E logo Patóta, d'alcunha chamado,
Por todos, á uma o encaraçado.
Mafra: Fevereiro de 51.

J. DA C. CASCAES.

REVISTA DOS THEATROS.

Theatro de D. Maria —O Pai Prodigo; e os Dois Sargentos. Theatro de D. Fernando - O Postilhão de Lonjumeau, e um baile. Theatro do Gymnasio Morrer para ter dinheiro- O Moinho das Tillias.

293

« O Pai Prodigo » é uma comedia em 5 actos, tradusida do francez: sendo « Valeria > o seu titulo primitivo. É uma peça de bastante enredo, e calculada para a platéa. Como obra d'arte, muito pouco ou nada val; os caracteres são communs e sem novidade dramatica; e o estylo, principalmente, chato, sem animação, nem relevo. Este defeito muito prejudica a comedia, tirando ás situações, em que não é escassa, toda a poesia, e por consequencia todo o effeito de scena. A linguagem vulgar, em situações que demandam energia, faz esfriar o sentimento, e rebaixar a intenção do escriptor

Os caracteres uns são impossiveis, outros, como

o de Valeria, d'uma excentricidade repugnante. Imação, de que muito partido poderia tirar DO O enredo apesar de ser muito, é descosido; e terceiro acto da opera-comica. não prende por isso tanto, como podia prender, se os mesmos elementos fossem aproveitados com mais arte. O publico recebeu friamente esta comedia na sua primeira representação.

<«< Os Dois Sargentos » é uma comedia n'um acto, e em que só entram tres actores. O pensamento é bonito; o dialogo bem sustentado; e os caracteres descriptos com alguma novidade. Tem porém duas scenas demasiado longas para uma comedia d'um só acto; e o desfecho parece-nos além de invorosimil, mal dedusido das scenas anteriores, e pouco satisfatorio absolutamente fallando. Em quanto à traducção achamola pouco esmerada; e ressentindo-se a miudo de palpaveis francesismos. O publico applaudiu esta comedia, que, como já dissemos, tem alguma novidade dramatica, bom dialogo, e caracteres soffrivelmente desenhados.

Os espectadores receberam bem esta peça, em que muito avultam as bellezas musicaes, e não menos as dramaticas.

« Um baile » é uma composição sem novidade, sem mimo, sem chiste; e o que mais é ainda, sem merito de scena, nem de observação. O enredo é impossivel transportado para portuguez, e a linguagem incorrecta e pouco de salla, mesmo na bocca dos personagens que a deveriam saber fallar. Não tem agradado, apesar de nem se quer ter merecido as honras da pateada.

<< Morrer para ter dinheiro » é o titulo d'uma engraçada comedia n'um acto que se representou no Gymnasio. Tem bonito dialogo, situações altamente comicas, e alguns caracteres bem descriptos. O publico tem sympatisado e com rasão com esta comedia.

« O Moinho das Tillias » é uma opera comica n'um acto, de musica ligeira, e accommodada ás vozes dos cantores. O enredo é vulgar, mas disculpa-se pela brevidade da composição. O desempenho corre regularmente.

NOTICIAS E COMMERCIO.

ACTOS OFFICIAES.

15 a 31 de Janeiro. DIARIO N.° 16. Instrucção Secundaria. 294 Regulamento para provimento das cadeiras de

DITO N.o 17.

« O Postilhão de Lonjumeau » é uma opera comica em 3 actos ultimamente representada no Theatro de D. Fernando. A musica é bonita, mas de summa difficuldade para as forças da companhia. A acção passa-se no tempo de Luiz XV, épocha sempre fertil para composições deste genero. O pensamento é muito engenhoso, o sempre sustentado e desenvolvido com conhecimento do theatro. Resume-se n'isto. Um Postilhão de Lonjumeau acabava de se casar, quando o marquez de Croisy, intendente dos theatros reaes chegava a Lonjumeau incumbido por El-Rei Luiz XV de escripturar cantores para o seu theatro. Agradando-lhe a bella voz do Postilhão, de tal maneira o soube captar, que o resolveu a partir para Versailles, abandonando a mulher com quem ha pouco se cazára. No segundo acto, tem-se já passado dez annos. O postilhão metamorfoseado em cantor, arrebata Pariz inteiro, e principalmente as senhoras. A aldea, com quem se casára, tendo recebido uma avultada herança, acha-se feita condessa, e entretem-se nas horas vagas namorando o seu rebelde marido. As coisas chegam por fim a ponto de se reconciliarem, tendo-se ambos cazado segunda vez, e protestando nunca mais se desunirem. Como veem, ọ enredo é summamente espirituoso; a musica porém é de tal força, principalmente a parte do postilhão, que o Sr. Rorick mal póde com ella. DITO N.° 27. Carta de lei ordenando o seguinte: O Sr. Sargedas tem tambem musica superior á Artigo 1. Cessam de ter curso legal no contisua voz, e a Sr. Druizilla, como atriz, pare-nente do reino, as moedas de oiro estrangeiras de ce-nos pouco amestrada nos segredos de decla- qualquer denominação que sejam; exceptuando só

Mappa do Vinho e Agua-Ardente despachados nas Sete Casas no anno economico de 1849 a 1850. Mappa do Azeite despachado para consumo da capital nos annos economicos de 1839 a 1840 até 1849 a 1850.

DITO N.o 20.
Portaria regulamentar para a entrada dos doentes
nas enfermarias do Hospital de S. José.
DITO N.o 21.

cordia e Hospital de S. José dando conta das reformas
e melhoramentos praticados naquellas duas repartições.
Resumo do activo e passivo do Banco de Portugal
em 31 de Dezembro de 1850.

Consulta da Commissão administrativa da Miseri

mente os soberanos, e meios soberanos inglezes, que' continuarão a correr pelo valor, que actualmente teem de 48500 e 2250 réís.

S unico. A disposição deste artigo começará a ter vigor, em Lisboa, oito dias depois da publicação desta lei e nas provincias, quinze dias depois da mesma publicação.

Art. 2. Durante os prasos acima fixados, e tres dias mais além delles, o governo trocará as moedas de oiro, que ficam fóra da circulação, por outras com curso legal.

NECROLOGIO.

297 Domingo 16 do corrente, pelas 11 horas da noite, falleceu Benjamin Rodolph Comte, professor de Gravura de Paizagem da Academia das Bellas Artes de Lisboa. Este artista distincto, natural de Payerne cantão de Vaud, na Suissa, onde nascera em 30 de Abril de 1762, mostrando desde tenra edade decidida propensão para o desenho, foi por seu pae entregue a direcção de Mr. de Meschel, habil gravador, com Art. 3. É elevado a 1000 réis por marco o di- quem trabalhou muitos annos. Em 1794 passou a Inglareito de 100 reis, que actualmente paga por sabida a terra, onde se aperfeiçoou nos estudos da arte em a prata em bruto; barras, pedaços e objectos quebrados. eschóla de João Landseer, gravador do rei, applicanArt. 4. O governo adoptará as providencias nedo-se aos generos de paizagem e da architectura, e cessarias para a execução desta lei. ahi trabalhou alguns annos de sociedade com o celeExtracto da nova pauta das Alfandegas, russas publi-bre gravador florentino, Francisco Bartholozzi. Em cada em 10 de Novembro de 1850, e que terá vigor 1806, por intervenção de D. Rodrigo de Sousa Coutinho foi chamado a Lisboa com 500 3000 réis de ordenado. Aqui gravou dois grandes e bellos arvoredos em um dos quaes está Narcizo vendo-se nas aguas, e no outro, Leda, pensamentos ambos de Vieira Portalha, o Aqueducto e outras obras que muito o acretuense abriu tambem o prospecto do convento da Baditam. Em 1836 foi nomeado professor proprietario de Gravura de Paizagem da Academia das Bellas Artes de Lisboa. Foram entre outros, seus discipulos, o conselheiro, vice-inspector da mesma Academia, João José

no 1.o de Janeiro de 1851.

UM BAILE.

295 No dia 25 houve um dos melhores e mais esplendidos bailes, que tem sido gosados pela sociedade de Lisboa. Abriram-se as elegantes salas da Exm." Sr. D. Marianna Carolina Ribeiro. Foi uma festa sumptuosa e bella, digna das virtudes e da delicadeza de quem reccbeu, em sua casa, o que se póde chamar a melhor sociedade da capital.

Ferreira de Sousa; Antonio Corrêa Barreto, João Pe

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dro Monteiro e Thomaz José da Annunciação. Perdeu pois a Academia neste professor nonagenario um de seus ornamentos, e as Bellas-Artes um de seus distinctos cultores, cuja morte deixa um vacuo, que diffi

docilmente se poderá encher.

As honras da caza eram feitas por tal modo o baile tinha sido tão excellentemente dirigido, que todos os convidados pareciam uma só familia reunida em sallas, onde a riquesa era vista sem se mostrar, e onde a elegancia e o bom gosto produziam uma harmonia encantadora. Festas desta ordem registam-se melhor, nas recordações intimas da vida para nunca esquecerem, do que nas paginas de um jornal.

THEATRO DE S. CARLOS.

EXPOSIÇÃO PHILANTROPICA.

A.

298 A Commissão nomeada pelo Conselho de Presidencia da Sociedade das Casas d'Azylo da Infancia desvalida desta Capltal, para promover donativos de objectos de galanteria, e curiosidade, que possam formar parte d'uma Exposição de Industria e Bellas-Artes, e ao mesmo tempo servir de premios d'uma loteria tirados á sorte em beneficio d'aquelle pio estabelecimento, exemplo da que teve logar em 1849, dirigíu-se por via de circulares ás Senhoras desta Ca

296 A Fausta tem continuado a estar em scena. Representou-se novamente a Semiramis, e novos trium-pital, e das Provincias e Ilhas, a sollicitar a sua vaphos tiveram as distinctas cantoras.

A nova dança os Guardas Marinhas tem agradado. A Sr. Bussolla que pela terceira vez dança em S. Carlos, como primeira bailarina absoluta do genero francez, dança com muita graça, e perfeitamente executa o lindo passo a dous com o Sr. Gabrielli, o qual tem agradado, e é de um bello effeito.

Este passo tem sido sempre aplaudido e na representação de segunda feira foi interrompido pelos applausos. A Sr. Bussola constantemente applaudida, justificadamente merece os applausos com que é recebida pela graça e firmeza da sua dança. A Sr. Sophia Constancia desempenha, nos Guardas Marinhas, uma parte importante, em que vae perfeitamente.

liosa cooperação, dignando-se concorrer com seus donativos daquelle genero, conforme sua eleição, e bom gosto. Mas como póde acontecer que involuntariamente se tenha deixado de fazer este convite a muitas Senhoras, que estejam nas circumstancias de contribuir para o esplendor da Exposição, a Commissão pede por este modo desculpa de qualquer ommissão desta natureza, e acceitará com reconhecimento os objectos que lhe forem remettidos.

Lisboa 31 de Janeiro de 1851.

Marqueza de Fronteira.
Condessa de Rio Maior.

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